Editorial: Eu só tenho ouvido falatórios em torno de projetos de poder. Programa de trabalho e de governo que é bom, por enquanto, nada!

Editorial: Eu só tenho ouvido falatórios em torno de projetos de poder. Programa de trabalho e de governo que é bom, por enquanto, nada!

É hora de deixar claro se cada homem e mulher públicos de nossa cidade tem, de fato, projetos de trabalho, anseios de estadista, vontade de governar para todos, ou se tudo não é apenas uma fachada para projetos ambiciosos e megalomaníacos de poder pessoal
É hora de deixar claro se cada homem e mulher públicos de nossa cidade tem, de fato, projetos de trabalho, anseios de estadista, vontade de governar para todos, ou se tudo não é apenas uma fachada para projetos ambiciosos e megalomaníacos de poder pessoal

Por David Ribeiro Jr.

O recente imbróglio que tomou conta da política de Teófilo Otoni, dando conta de que os 14 secretários municipais da Prefeitura teriam assinado um documento colocando o cargo à disposição (leia mais aqui e aqui) me fez refletir sobre algo a respeito do qual escrevi muito no ano passado, e sobre o qual, pelo jeito, terei que continuar escrevendo este ano: a falta de um programa de trabalho e de governo por parte da maioria dos nossos representantes eleitos em todas as esferas políticas.

Vamos aos fatos. No dia 05 de outubro do ano passado os nossos deputados da região foram reeleitos (sim, porque com a primeira suplência num partido governista, até o deputado federal Ademir Camilo (PROS) pode se considerar reeleito). Contudo, eu não vi, desde então, nenhuma nova manifestação dos nossos representantes apresentando o seu projeto de trabalho. Todos eles foram muito educados, agradeceram pelos votos e coisa e tal, mas, além disso…

Do mesmo modo, com raríssimas exceções, não vi da parte da “base local” do governador Pimentel nenhum projeto para Teófilo Otoni — e olha que estou dizendo por parte da base, não por parte do governador, que já anunciou que a instalação dos seus conselhos regionais de políticas públicas terá prioridade em nossa cidade. Parabéns ao governador! Mas e quanto à base? O que a base de Pimentel anunciou ou apresentou, de fato, para a população? Sejamos realistas: não apresentou nada. O único nome que vi falando de projetos e levantando alguma bandeira foi o do consultor político Jorge Arcanjo. Basta ler aqui a entrevista que ele me concedeu para o minasreporter.com que se verá que Jorge está muito bem intencionado. Será que ele conseguirá realizar tudo o que quer? Não sei. Mas, sinceramente, estou muito feliz que ele se disponha a fazer alguma coisa. Que pena que outras lideranças não sigam o seu exemplo!

Todos se lembram que a vitória de Pimentel foi anunciada na noite de domingo, 5 de outubro, e na segunda-feira, 6, já tinha gente dando entrevistas nas rádios locais afirmando que não viria nada mais para Teófilo Otoni por causa de Getúlio Neiva, que não apoiou Pimentel, como se Getúlio, por mais que seja o nosso representante eleito, fosse a nossa manifestação máxima. Já escrevi sobre isso aqui. Ainda bem que essa informação foi definitivamente desmentida pelo secretário-geral do governador Pimentel, Eduardo Serrano, o popular He-man, que será o homem forte do Governo nos próximos quatro anos. Mas a questão que estou levantando neste momento não é o que alguns aloprados andaram dizendo por aí. Isso é o de menos. Eu acompanho a carreira política de Pimentel e nunca acreditei que ele se submeteria à sandice de alguns xiitas de plantão. O problema é que esses tais xiitas, estejamos você e eu dispostos a aceitar, ou não, são as pessoas que, infelizmente, terão trânsito liberado com o governador, já que foram eles que o apoiaram politicamente. E política se faz assim mesmo, aqui ou em qualquer outra parte do mundo ocidental. A diferença do que ocorre na terrinha para o que ocorre em outras partes é que lá fora as pessoas trabalham embasadas em projetos e em estratégias bem elaboradas, planejadas e organizadas. E aqui?… Aqui é isso aí que a gente tem visto. Basta ir a qualquer reunião da base de Pimentel na cidade que se verá que o único assunto em pauta é: ‘quem vai ocupar o cargo X?’ Ah! E, claro!, também falam sobre acabar politicamente com Getúlio Neiva.

Volto a dizer: até agora não vi ninguém, com exceção de Jorge Arcanjo, defendendo propostas de trabalho e de governo, projetos viáveis de políticas públicas e o desenvolvimento da nossa cidade e região. O que tenho visto é uma guerra política entre lados. Apenas isso (leia mais aqui).

Alguém, bem intencionado, poderá dizer: “calma, David! Você esqueceu que as políticas públicas serão determinadas num conselho que será instalado aqui por parte do Governo do Estado?” E a questão é exatamente esta: eu não me esqueci, não. O problema é que já vi esse filme, e o final não foi nada feliz. Vamos lá. Em 2004 a então deputada Maria José foi eleita prefeita de Teófilo Otoni com dois motes principais de campanha: a instalação da Universidade Federal e, como todos se lembram, ou deveriam se lembrar, a implantação do orçamento participativo. Bem, a Universidade realmente veio. Uns tentam desmerecer a participação da ex-prefeita Maria José, mas, que a Universidade veio, veio. E como era uma promessa de campanha dela, ela tem o seu mérito e pronto. Já quanto ao outro mote de campanha, a implantação do orçamento participativo, todos se lembram o que aconteceu — ou que não aconteceu, já que o que era proposto não era feito, e aí a Administração Municipal deu um jeito de enterrar o dito-cujo e fingir que ele nunca existiu, como, de fato, não existiu mesmo… pelo menos não aqui em Teófilo Otoni.

Com base nisto o que eu questiono é o seguinte: a experiência do orçamento participativo, que na prática é o que Pimentel quer fazer em nível estadual, é boa. Deu certo na Prefeitura de Belo Horizonte, por exemplo, sob a sua gestão e de seus antecessores, e em nível estadual começou a ser feito no Rio Grande do Sul com Tarso Genro. Ou seja, a experiência do orçamento participativo é boa e quanto a isso eu não faço nenhuma objeção. A questão é: será que a base de Pimentel em Teófilo Otoni está pronta para trabalhar e operar um orçamento participativo? Da primeira vez que tentou, quando estava na Prefeitura, não deu muito certo — ou não deu certo de jeito nenhum. Tudo bem que a base só tem que apontar as prioridades, já que é o Governo Estadual quem executará as ações; mas será que essa base está preparada para pelo menos isso? Será que não vai preferir, a exemplo do que está ocorrendo agora, ficar fazendo disputa besta de poder, e tentar encontrar fórmulas para sacanear os dois anos que faltam da Administração Getúlio Neiva, esquecendo-se de que, ao fazer isso, estará sacaneando também com toda a população da cidade?

O que fazer, então?…

Aí é que está. Eu não sou o especialista. Se fosse, talvez já teria me candidatado a algum cargo público — apenas talvez! De qualquer modo, as minhas críticas neste espaço não têm o objetivo de me transformarem em dono da verdade. Longe disso! O que ocorre é que algumas coisas são muito claras e óbvias. Por exemplo: é hora de acabar com essa rusga besta que existe entre o PT local e Getúlio Neiva. A eleição já acabou. Não faz nenhum sentido criarmos um segundo tempo das eleições em Minas apenas em nossa cidade, ou, pior ainda: anteciparmos uma disputa em termos de município, que, na prática, só ocorrerá daqui a dois anos. Agir assim é o mesmo que atestar que só se preocupa com o poder, em ter poder, em disputar poder, e que dane-se o resto (leia-se “o povo”) O que temos que fazer é aceitar algumas obviedades. Getúlio Neiva é o prefeito de Teófilo Otoni. Pelo menos até 31 de dezembro de 2016 — sem falar que tem direito de se reeleger democraticamente. Por outro lado, o PT venceu as eleições para o Governo do Estado, inclusive em Teófilo Otoni. E, do mesmo modo, também pode se reeleger democraticamente. Isso são fatos. E fato também é que Teófilo Otoni é parte do Estado. Somos parte de um todo. Brigar agora não nos leva a lugar algum. Enquanto PT e Getúlio Neiva brigam, acaba dando espaço para os nossos deputados fingirem que esse problema não tem nada a ver com eles, quando, na verdade, tem sim. Como já disse, somos todos parte de um mesmo todo. Parece trocadilho, mas é apenas um fato.

Getúlio Neiva acaba de acenar para a sua oposição (a base local do governador Pimentel) com a possibilidade de uma composição. Eu já escrevi a respeito e tenho minhas dúvidas de que isso possa dar certo. Está escancarado no minasreporter.com o que escrevi e não vou fazer nenhum tipo de correção nos meus textos. Mas, como dizia o poeta, só não muda de ideia quem não tem ideia para mudar. Se é assim, por que então, em nome do republicanismo — tomando emprestada uma palavra do consultor político Jorge Arcanjo —, não tentar?… Só quem tem a perder com isso é Getúlio Neiva, e isso é um fato sobre o qual escreverei depois. E mesmo assim ele deu o primeiro passo. Agora é a vez do PT mostrar se está preocupado em governar ou em ter poder. Agora é que são elas. Se não der certo, é só sair do governo e dizer depois que não dá para compor com Getúlio. Mas isso é o tipo de coisa que só da para falar depois de tentar. Antes, é só especulação — e politicagem.

Em 1998 o governador Itamar Franco foi eleito no segundo turno com o apoio do PT. Na época Maria José era deputada estadual e passou a ter espaço no governo de Minas, inclusive apontando vários cargos em nossa região. De lá para cá essa briga entre PT local e Getúlio Neiva só fez a cidade caminhar para trás. Agora, pela primeira vez, um dos lados se dispõe a sentar na mesa de negociações e discutir governabilidade e propostas em conjunto para o desenvolvimento de Teófilo Otoni. Alguém poderá dizer: “mas a motivação não é a melhor. Getúlio só está propondo isso porque está fragilizado”. Não importa. Ele está fragilizado, mas não está morto. E, mesmo assim, como eu já disse, ele é quem tem mais a perder. E há uma outra questão a ser lembrada: o fato de ter governador do seu lado não ajudou Getúlio a vencer Maria José em 2008, apesar do desgaste da Administração Municipal, e apesar, também, dos altos índices de aprovação de Aécio Neves, governador à época. Quem pode afirmar categoricamente que em 2016 será diferente? Em política o amanhã é só uma página em branco. A única coisa de que se tem certeza é do hoje, do agora. O amanhã ainda não está escrito, mas pode, sim, ser escrito como um bonito capítulo de nossa história. Só depende de deixar claro se cada homem e mulher públicos de nossa cidade tem, de fato, projetos de trabalho, anseios de estadista, vontade de governar para todos, ou se tudo não é apenas uma fachada para projetos ambiciosos e megalomaníacos de poder.

Quero que você que me lê agora guarde esta frase: “pessoas medíocres são fascinadas por status. Pessoas inteligentes vão mais além: querem autoridade. Já as pessoas sábias, por sua vez, buscam influenciar pessoas, porque sabem que é nisto que consiste o verdadeiro poder”.

Por David Ribeiro Jr.

David Ribeiro Jr. é editor-chefe do Portal minasreporter.com

E-mail: davidsanthar@hotmail.com



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