Bem lá na ponta da África, na Cidade do Cabo, você assiste, na melhor universidade africana e uma das melhores do mundo – cinco prêmios Nobel (Brasil não possui nenhum), a Universidade da Cidade do Cabo, uma apresentação de capoeira. Ano após ano, a apresentação dos capoeiristas, este ano com a presença do lendário Mestre Suassuna, mostra um número maior não só dos participantes mas a firmeza de ensino de capoeira no meio universitário. Os sons e os movimentos se misturam aos sons africanos e seus instrumentos, e os não brasileiros cantam em português brasileiro para encontrarem melhor a harmonia entre o som, o movimento e a letra. Aliás, o português que vai ganhar seu leitorado na mesma universidade, em breve.
Por onde andei e passei pelo mundo, o espetáculo se repete. Os mestres baianos de capoeira, entre eles há muitos mineiros, promovem uma arte com cultura brasileira, de forma incrível. Sempre há bandeira brasileira, canções em português e os mestres são brasileiros. Aliás, para ser mestre em capoeira precisa ter experiência e idade, algo que os gringos ainda não adquiriram. O Cordão de Ouro do Mestre Suassuna está presente em 50 países. Estados Unidos, França, Itália Rússia, Japão e muitos outros. Há outros grupos e pode se dizer que a capoeira é um dos “produtos” mais exportados pelo Brasil. E provavelmente, como envolve menos ganância financeira e disputa que o futebol, é mais marcante na presença a longo prazo da cultura brasileira no exterior. Mas, como foi proibido por muitos anos, ainda não venceu todas as barreiras de ser algo de baianos e africanos.
E aí vem a pergunta: e no Brasil? Capoeira é acessível nas escolas, aos estudantes universitários, às pessoas de todas as idades e classes sociais? Já consideramos capoeira como algo bom para corpo e espírito, para o desenvolvimento de jovens em sentido amplo? Quais escolas e comunidades praticam capoeira?
Jáque você está olhando nessa direção, e a educação musical nas escolas? Em 2008, o Presidente Lula sancionou a lei que obriga a implementar o ensino musical nas escolas públicas e privadas. Aliás,essa norma existia antigamente no Brasil e, durante a ditadura militar, acabaram com isso. Deve ter sido por causa do medo de aparecerem outros Chicos Buarques,por sinal arquiteto, ou Geraldos Vandré, conhecido por sua música “Pra não dizer que não falei das flores”.
Mas, você olhou se na escola dos seus filhos, netos, estão ensinando música? A absoluta maioria das escolas ainda não começou.
Você pode imaginar como as atividades de capoeira e música poderiam dar novas oportunidades, junto com a prática de esportes, aos nossos jovens? Não só preencheriam o seu tempo ocioso mas apreenderiam a viver e trabalhar em equipe, ser mais criativos. E como me disse uma vez um jovem músico: quem aprende a tocar, quem gosta de música, aprende tudo! Quiças.