Por Carlos Liesner
A política é mesmo engraçada. Não foi feita para amadores. Os mineiros sempre foram especialistas na sua arte, pela sagacidade, pela capacidade de antever e forjar o futuro. Tanto que na “velha escola mineira” eram chamados de “raposas”, numa alusão clara ao faro político. Certa vez, Tancredo Neves, uma dos proeminentes entre os mineiros, afirmou: “Não se faz política sem vítimas.”
Em Teófilo Otoni um bom exemplar do espécime é Antônio Walter do Amaral, o mais longevo dos nossos políticos, levando-se em conta que ele está em atividade desde a década de 60, sempre surfando nas ondas do poder. Convidado para o jogo pelo Prefeito Getúlio Neiva, que pretendia o seu grupo participando do Governo Municipal, juntamente com a sua pupila predileta, Fátima Dantas (concorrente ao cargo de prefeito na eleição de 2012, que em sagacidade chega a superar o mestre), fizeram um jogo de cena, típico da dança do acasalamento, aquela mesma que alguns pássaros de bela plumagem fazem para conquistar os seus parceiros. Pois bem, vieram as entrevistas, as tratativas, as conversas de bastidores; tudo deixou o Prefeito animado, certo de que teria seus dois outrora concorrentes no Governo. Já que era dado como certo e aceitos os convites feitos a Thalles Contão, que assumiria a Secretaria de Educação, e Ricardo da EMEX, a pasta de Desenvolvimento Econômico, ambos filiados ao PT, este último, derrotado pelo prefeito na eleição municipal.
Getúlio Neiva é administrador experiente, tem fama de bom gestor, é reconhecido como tal até por adversários. Contudo, em matéria de composição política, fugiu da escola, desconhece a disciplina. Trata o assunto, ora com a ingenuidade de um monge, noutras com a habilidade de um elefante numa loja de cristais. No caso dos filiados ao Partido dos Trabalhadores o erro se deu por falha na construção da aliança; ele esqueceu de combinar com o Partido. A aproximação deveria ter sido feita pela porta de entrada, com quem, que além dos convidados, representa a legenda no Município. Estendendo as conversas até a Cúpula Estadual. Com a costumeira falta de habilidade política e o erro crasso cometido, além do adiamento da decisão de nomear os convidados, entrou água no acordo, com a desistência pública de ambos.
Voltando ao caso de Antônio Walter e Fátima Dantas, o erro do Prefeito foi outro: pura ingenuidade! Esqueceu ele que estava tratando com duas raposas e que o movimento das peças deveria ser sopesado; que o seu êxito na jogada política exigiria uma boa dose de maquiavelismo. Esqueceu o Chefe do Executivo de fazer uma análise mais amiúde da situação. Antônio e Fátima, hoje aliados do deputado Ademir Camilo (este designado pelo Governador Fernando Pimentel para indicar os cargos regionais a serem preenchidos), nunca pensaram em assumir qualquer posto no Governo Municipal. Isso não passa pelas suas cabeças. Todavia, tiveram na inexperiência política de um “tri prefeito ancião” a oportunidade de cacifar, reforçando o poder de fogo na busca de cargos no Governo Estadual. É puro pragmatismo. A conta é simples: eles preferem os quatro anos de mandato com Pimentel ao invés dos dois anos restantes para Getúlio Neiva.
Frustrada a reforma de secretariado pretendida pelo prefeito, restou a ele tão somente contentar com as mudanças de posições dos indesejados jogadores, o que em nada contribuirá para deslanchar as ações administrativas, podendo ter ficado até pior, prevalecendo assim, a Lei de Murphy. Que ao menos tenha ficado a lição: no tabuleiro da política o movimento das peças, inevitavelmente causa danos; por isso, é preciso ter estratégia, ser bom jogador, analisar com visão e faro de raposa a intenção do outro, senão, o rei está morto. É “xeque-mate”!
