Por David Ribeiro Jr.
Ai, ai, ai… Este é o tipo de texto muito complicado de escrever, e ainda mais complicado de publicar. Já-já explico o porquê. De início só tenho a dizer que esta informação me foi passada por uma importante fonte do minasreporter.com que trabalha em BH junto aos bastidores do poder. Não posso dizer de qual poder para não comprometer a minha fonte, que, por motivos óbvios, não quer e não pode ser identificada. Mas eu garanto: esta minha fonte nunca me desapontou. Todas as suas dicas sempre se revelaram muito úteis e verdadeiras. Sempre renderam boas notícias — e principalmente boas manchetes, já que eu vivo disso.
Mas sigamos em frente!
Esta minha fonte me confidenciou na sexta-feira (dia 20/03) que os articuladores políticos do governador Fernando Pimentel já bateram o martelo e decidiram que o melhor nome à frente da Prefeitura de Teófilo Otoni para o projeto político de Pimentel é… acredite, Getúlio Neiva.
O quê?… Quem?…
Num primeiro momento eu apenas sorri, mesmo que involuntariamente, e claro que sem querer ser indelicado com a minha fonte. “Getúlio Neiva… que história é essa?… Como assim?” Eu ponderei que tinha muitas dificuldades para acreditar na informação por alguns motivos bem óbvios, que até os enumero aqui para você, leitor(a), também avaliar a razoabilidade do meu ceticismo:
- Getúlio, mesmo sendo do PMDB, partido do vice-governador Antônio Andrade, fez campanha de modo claro e inequívoco para o candidato do PSDB, Pimenta da Veiga;
- A raiva do grupo vencedor para com Getúlio Neiva é tamanha que o Diretório Municipal do PMDB está correndo o sério risco de ser completamente dissolvido. Hoje, se você acessar o site do TSE, verá que o atual diretório do PMDB aparece lá como inativo. A situação ainda não é definitiva, mas é preocupante e constrangedora para o prefeito. Já pensou um prefeito que não tem sequer o domínio do seu próprio partido?!
- O PT de Teófilo Otoni tem diferenças históricas com Getúlio Neiva. Não digo diferenças irreconciliáveis porque isso implicaria em dizer “nunca”. E desde cedo que aprendi que em política nunca se diz “nunca”. Mas o ódio é tamanho que o PT local chegou a proibir alguns dos seus recursos de aceitarem o convite de Getúlio Neiva de se somarem à sua Administração, mesmo isto podendo significar de forma plena e inequívoca a vitória do PT nas eleições do ano que vem (entenda os motivos aqui e aqui);
- Getúlio, mesmo com o PT no poder em nível nacional e estadual, deverá continuar a ser um apoiador do grupo do senador Aécio Neves em todas as instâncias. Sendo assim, como explicar a informação de que os articuladores de Pimentel querem Getúlio Neiva na Prefeitura de Teófilo Otoni?
Contudo, depois de eu ter enumerado as razões pelas quais tinha dificuldade para aceitar a informação, minha fonte enumerou as suas razões, ou melhor, as razões do grupo dos articuladores de Pimentel, para querer que Getúlio se mantenha à frente da Prefeitura.
Vamos a elas, a seguir, em vermelho:
- Pimentel tem um projeto político muito maior do que simplesmente ser governador de Minas Gerais (embora, convenhamos, isso já é motivo de orgulho para qualquer um). O governador acredita, sinceramente, que pode vir a ser até mesmo presidente da República. Mas não agora, quando o seu partido está desacreditado em nível nacional, e quando o ex-presidente Lula, o maior recurso do partido para pedir votos, já demonstrou o seu interesse em disputar. Ocorre que o grupo de Pimentel, segundo a minha fonte, não acredita na vitória do PT em nível nacional em 2018, mesmo o Lula sendo o candidato a presidente;
- O grupo de Pimentel, que é integrado por algumas pessoas que entendem muito de política econômica, sabe que a tendência da economia brasileira é piorar um pouco mais nos próximos quatro anos. Assim, mesmo que a atual oposição vença em 2018, pegará um verdadeiro abacaxi muito difícil de ser descascado. Terá que tomar duras medidas de austeridade que, por mais que tornem a economia mais eficiente, trará desgaste para o governo de turno. Com isso, se Pimentel tornar a sua gestão em Minas Gerais um modelo de eficiência, será içado automaticamente à condição de grande nome do PT, ou de qualquer outro partido para o qual venha a migrar, para a campanha de 2022, quando estará deixando o Estado. E, se ganhar, poderá até pegar um país com a economia mais satisfatória, o que lhe renderá uma provável chance de reeleição no cargo em 2026;
- Como a economia nacional está ruim, e não demonstra sinais de melhora a curto prazo, Pimentel precisará, de fato, de mais do que quatro anos para transformar a sua gestão à frente do Estado de Minas em um modelo de eficiência. Para isso precisa ser reeleito, e precisa do apoio de todas as regiões do Estado. Sua equipe já está trabalhando para monitorar todas estas regiões a fim de pôr em prática um audacioso programa de engenharia social que resulte em mais votos para Pimentel em 2018;
- Teófilo Otoni, a principal cidade do Vale do Mucuri, e uma dessas regiões avaliadas pelo grupo de Pimentel, apresenta um quadro atípico. O PT sempre conseguiu dar mais votos para o candidato ao Governo de Minas estando na oposição. À frente da Prefeitura de Teófilo Otoni o PT local desapontou o candidato ao governo estadual. Vamos avaliar os números!
Em 2002, o PT havia acabado de sair de uma eleição em que a sua candidata à Prefeitura, a então deputada estadual Maria José, a favorita, foi derrotada de virada pelo azarão Getúlio Neiva. Mas a derrota acabou dando um gás ao Partido dos Trabalhadores que, pela primeira vez, entendeu ser apenas uma questão de tempo e persistência assumir a Prefeitura de Teófilo Otoni. Naquele ano o PT deu ao seu candidato a governador, o então deputado Nilmário Miranda, 34,044% dos votos apurados em Teófilo Otoni contra 30,725% da média estadual. Ponto para o PT local;
Em 2006, quando já havia conseguido vencer a disputa pela Prefeitura, e já estava em seu segundo ano de mandato em Teófilo Otoni, o partido deu ao mesmo Nilmário Miranda apenas 25,958% dos votos da cidade contra 22,034% da média estadual. A votação aqui ainda foi acima da média do Estado, mas a diferença dos resultados apurados aqui e no Estado como um todo diminuiu consideravelmente, ainda mais quando se leva em conta que o partido, naquele momento, estava no poder em nível local;
Em 2010, agora em seu segundo mandato à frente da Prefeitura, o PT local conseguiu entregar apenas 30,49% dos votos ao candidato Hélio Costa, do PMDB, que era apoiado pelo Partido dos Trabalhadores e por grande parte da oposição do PT local. Detalhe.: neste ano a média estadual do candidato do PMDB foi de 34,18%. Quando se leva em conta que o PT teve a ajuda do PMDB local para apoiar Hélio Costa, e mesmo assim não conseguiu obter sequer a média estadual, isso faz acender a luz amarela para os analistas políticos do partido;
Já em 2014, fora da Prefeitura, e voltando às suas origens de investir pesado no discurso forte de oposição ao governo local, o PT conseguiu entregar 57,43% dos votos apurados para o seu candidato Fernando Pimentel. Em nível estadual Pimentel obteve apenas 52,98%. Tudo bem que em 2014 houve a inserção na campanha do grupo de Ademir Camilo, Fabinho Ramalho e do consultor político Jorge Arcanjo na coordenação. Mas ninguém pode negar que o PT local, quando não é poder, atrapalha menos ao PT estadual.
Por que é difícil publicar este tipo de informação
No primeiro parágrafo deste editorial eu disse que esta era o tipo de informação difícil de ser escrita, e mais ainda de ser publicada. Por quê? Simples. Os apoiadores de Getúlio Neiva que lerem isso usarão o meu texto para fazer política, claro!, em favor de Getúlio Neiva, e muitos sequer darão o devido crédito do texto. Os petistas, por sua vez, vão classificar o meu texto como “de direita”, “golpista” e aquelas outras coisas que eles inventam para pôr defeito em tudo que não concorda com o petismo. Acontece que eu não estou inventando nenhuma informação ou criando um fato novo para que “A”, “B” ou “C” vença ou perca as eleições. Eu já escrevi diversas vezes que o PT tem chances reais de vencer se souber jogar (leia um dos textos aqui), e que Getúlio também tem as suas chances se souber jogar (leia o texto aqui). E já estou até preparando outro texto onde explico que, diferentemente do que pensava no ano passado, nunca foi tão fácil para uma terceira via assumir a Prefeitura de Teófilo Otoni (claro que se souber jogar o jogo político).
De qualquer modo, a minha fonte me apresentou razões consistentes para a sua dica-denúncia. Ela, a minha fonte, tem acesso aos mais altos escalões e sabe o que se passa nos bastidores onde há pessoas que querem se manter no poder a qualquer custo, e estão dispostas a ascender ainda mais — algo bem diferente do que estamos acostumados a ver por aqui na terrinha, quando grupos patéticos transformam partido e agremiações em última instância do certo e do errado, e se transformam, assim, em nada mais que apenas uma pobre massa de manobra de quem, de fato, conhece as regras do jogo, e as utiliza em seu benefício.
Daí as razões pelas quais a minha fonte em BH insiste em afirmar que o candidato preferido do grupo de Pimentel para 2016 em Teófilo Otoni ser qualquer nome — que não do PT, evidentemente. Se for Getúlio, inimigo histórico do PT, melhor ainda. Se Getúlio ganhar, isso fará o PT trabalhar dobrado em 2018.
Entendi! E, sinceramente, já começo até a acreditar.