Por David Ribeiro Jr.
Não se pode dizer que a notícia da desfiliação do empresário Ricardo Bastos Peres, o Ricardo da Emex, do Partido dos Trabalhadores, tenha sido uma surpresa. Convenhamos, não foi. Assim que se confirmou a desfiliação de Joana Louback (leia mais aqui), eu escrevi uma nota a respeito, onde, entre outros pontos abordados, explanei o seguinte:
DESFALQUE
A saída de Joana também será um duro golpe para a candidatura petista no ano que vem. Há algum tempo que eu venho escrevendo aqui no minasreporter.com que um dos problemas do Partido dos Trabalhadores em Teófilo Otoni é a falta de um discurso que convença ao eleitor. O Partido já esteve no poder por oito anos e teve uma gestão pífia. O resultado do PT à frente da Prefeitura foi um rasto de dívidas herdadas pela atual Administração. Em minha modesta opinião, no PT quem tem o melhor discurso (e eu já escrevi sobre isso aqui) é o candidato Ricardo da Emex, que, coincidentemente, é um dos nomes favoritos de Joana e de seu grupo.
Viram só?! Com a saída de Joana, a permanência de Ricardo da Emex no partido ficou muito comprometida. Desde à sua candidatura para deputado estadual que Ricardo vem enfrentando problemas no ninho petista. Seu discurso inovador incomoda muito a uma ala excessivamente conservadora — e quase alienada do partido. Quem sempre esteve ao seu lado foi um pequeno grupo de filiados irmanados e liderados pelo casal Paulo e Joana Louback. Sem Joana, era uma questão de lógica que não haveria ambiente para que Ricardo permanecesse no PT, mesmo com os quase 30 mil votos das últimas eleições municipais.
Detalhe.: Já há quem defenda que a saída de Joana tenha sido um golpe de mestre para que ela se fosse e levasse consigo o seu maior protegido, Ricardo da Emex. Faz sentido? Claro que faz. Afinal, como explicar que alguém como Joana Louback, que tem um histórico enorme de lutas pelos ideais petistas desde que era uma adolescente, saia do partido do dia para a noite (mas deixando claro que pode voltar em algum momento no futuro)? Se fosse uma saída definitiva, ela não deixaria a possibilidade de retorno em aberto. Alguém certamente apertou onde o calo dói. E funcionou. Ou melhor: se alguém considera dividir o partido num momento em que a legenda está descendo ladeira abaixo na opinião pública uma estratégia… então tá. Funcionou. Mas essa “estratégia” também resultou na saída do único nome que, de acordo com pesquisas qualitativas, venceria qualquer candidato governista na atualidade: Ricardo da Emex.
Veja, a seguir, em vermelho, o comunicado que Ricardo da Emex divulgou em seu perfil no facebook, comentando a desfiliação do PT:
Comunicado de Ricardo da Emex sobre a sua desfiliação do PT
Meus amigos e irmãos teofilototonenses,
Alguém já disse que a democracia não é um sistema político perfeito. E eu concordo plenamente. Mas concordo, também, que mesmo não sendo um sistema perfeito, a democracia é a melhor forma de governo já criada pelos seres humanos. A democracia oportuniza a todos o direito de sonhar com uma vida melhor e meios para buscar a realização deste sonho… tanto para si mesmo, de forma individual, bem como para o conjunto da sociedade, de forma plural.
Por acreditar na democracia eu aceitei, em 2011, o convite da minha amiga Joana Louback e do seu esposo, Paulo Louback, uma família que aprendi a admirar, para me filiar ao Diretório Municipal do Partido dos Trabalhadores em Teófilo Otoni. E qual não foi a minha surpresa à época, acabei sendo convidado, também, a disputar as eleições municipais pelo partido no ano seguinte, o que muito me honrou, por entender que aquela era uma oportunidade ímpar para que eu, um servo de Deus, pudesse apresentar em nossa cidade uma proposta de governo diferente, a proposta de um governo que esteja, sim, de acordo com a lei dos homens, mas principalmente de acordo com a Lei de Deus.
Em 2014 eu tive, ainda, a oportunidade de disputar um novo pleito pelo partido, desta vez como candidato a deputado estadual, atendendo diretamente a um pedido pessoal do nosso governador Fernando Pimentel. Não fui eleito, mas, novamente, penso ter apresentado uma proposta digna e condizente com as minhas crenças e com o propósito de me tornar um representante de nossa cidade, bem como de todo o povo de Minas Gerais na Assembleia Legislativa.
Destes quatro anos de filiação ficam histórias, lembranças e saudades. Encontrei pessoas novas, pessoas boas com as quais fiz novas amizades e com quem confirmei que, indiferentemente da ideologia política, há gente de bem em todas as esferas, em todos os grupos, em todas as comunidades, e vivendo sob as mais distintas e adversas situações e condições. E todas em busca de esperança.
Eu sempre preferi acreditar que, politicamente falando, a ‘esquerda’ e a ‘direita’ buscam a mesma coisa: o bem-estar social, mesmo que por caminhos diferentes. Foi por isso, por causa desta minha crença, que nunca me insurgi contra nada nem ninguém. Sempre respeitei, e respeito, a autoridade constituída, onde quer que ela esteja, e também a vontade democrática do povo legitimamente manifestada nas urnas.
Foi esta minha crença nos ideais democráticos e nos fundamentos do Estado Democrático de Direito que motivaram a minha filiação ao PT. Ocorre que, esta mesma crença me faz, neste momento, pedir a minha desfiliação. E peço que respeitem a este meu direito democrático e legítimo.
Antes que digam o contrário, não há nenhum motivo oculto ou um novo projeto político-partidário “por trás” da minha desfiliação do PT. Da mesma maneira como a filiação não fez parte de nenhum projeto pré-concebido, a desfiliação também não. Não há de minha parte, pelo menos no momento, nenhuma pretensão de me filiar ao partido “A” ou “B”, embora, logicamente, me resguardo este direito se julgar conveniente em algum momento mais adiante.
Enquanto estive filiado ao Partido dos Trabalhadores, nunca agi contrário aos compromissos assumidos com o partido, sua diretoria e seus filiados. Mesmo diante de situações com as quais não concordei, preferi não me rebelar ou me tornar uma pedra de tropeço para quem pensa que o errado é o certo. Preferi, diante das minhas convicções, fazer exatamente como fez a minha amiga Joana Louback na semana passada, e, respeitando a minha consciência, a minha fé e as minhas convicções, pedir a desfiliação.
Como disse, levo comigo as melhores lembranças e a saudade das pessoas que ali no Partido dos Trabalhadores estão lutando para a construção de uma sociedade melhor. Felizmente, esses são a maioria… Pena que, infelizmente, não são uma unanimidade.
Aos que ficam na legenda, os meus cumprimentos e o meus votos de uma boa luta, mas sempre respeitando e pautando-se pelos ideais democráticos tão arduamente conquistados pela minha geração. Aos que, como eu, acreditam que é hora de um novo projeto, de uma nova caminhada e uma nova trajetória, que sejamos felizes e bem sucedidos em nossa busca!
Como disse o apóstolo Paulo, saio afirmando que “combati o bom combate…” Nunca negarei as minhas convicções e a fé que tenho no meu Deus e nas instituições democráticas. Nunca concordarei, também, que se assalte o Estado Democrático de Direito, tão arduamente conquistado, mesmo que em nome de um ideal. Não posso concordar com a mentira que é dita tentando minimizar os efeitos e a responsabilidade por ações equivocadas que patrocinam a disseminação da corrupção. Isso nunca!
De qualquer modo, muito obrigado a todos que me apoiaram nesta caminhada… nas duas candidaturas em que pleiteei o voto da nossa gente, e em que fui, mesmo sem ser eleito, um vitorioso, com quase 30 mil votos para prefeito da nossa cidade!
Um grande abraço! A luta continua! E que Deus abençoe a todos!
Do irmão e amigo,
RICARDO BASTOS PERES
Ricardo da Emex
Voltei.
Não há muito mais o que dizer. Está tudo aí no texto. E, como diz um ditado antigo, “para o bom entendedor meia palavra basta”. Ou “um pingo é letra”. Mas o texto de Ricardo tem muito mais do que meia palavra ou um pingo, por assim dizer. Ele começa o seu comunicado exaltando a democracia já no primeiro parágrafo e em diversos outros insiste em falar da importância da democracia como uma conquista. Será que é uma cutucada aos desvios éticos do PT aos ideais democráticos atualmente? No décimo parágrafo do texto ele faz questão de dizer que a democracia no país é uma conquista da sua geração. Como homem evangélico que é, Ricardo não desapontou o meio cristão quando diz que “combateu o bom combate” e que em ambas as suas candidaturas fez questão de apresentar propostas de governo e de trabalho que estivessem de acordo com a lei dos homens, mas primeiro de acordo com a Lei de Deus.
Inteligente, faz questão de deixar claro que nunca se insurgiu contra o PT em nenhuma situação, talvez se referindo ao convite recebido pelo prefeito Getúlio Neiva para que assumisse a Secretaria Municipal de Indústria e Comércio — convite este que foi vetado pela direção do partido, apesar de todas as críticas recebidas à época. Depois de assoprar bastante, fazendo até alguns elogios ao PT e sua base, Ricardo termina desferindo o golpe fatal. Atente para este detalhe no seu texto:
Nunca negarei as minhas convicções e a fé que tenho no meu Deus e nas instituições democráticas. Nunca concordarei, também, que se assalte o Estado Democrático de Direito, tão arduamente conquistado, mesmo que em nome de um ideal. Não posso concordar com a mentira que é dita tentando minimizar os efeitos e a responsabilidade por ações equivocadas que patrocinam a disseminação da corrupção. Isso nunca!
Viram só? Não é à toa que dizem que, para quem sabe ler, meia palavra basta.
O que vai acontecer agora? Ah… muita coisa. A saída de Joana e de Ricardo da Emex do PT, acredite, marca o exato momento do confronto entre duas forças opostas. Marca o momento em que o PT vai iniciar a maior campanha de todos os tempos, visando uma vitória nas urnas nas próximas eleições municipais. E, acredite, agora, diante dos últimos acontecimentos e seus desdobramentos, definitivamente vai deixar de ser uma disputa ideológica, pura e simplesmente, como sempre foi — se é que a eterna guerra entre o PT e Getúlio Neiva poderia ser caracterizada como embate ideológico — para se tornar uma briga pessoal. O meu medo é que se confirme algo que, coincidentemente, era muito usado pela ex-prefeita Maria José: na batalha entre o mar e o rochedo, quem sempre sai perdendo é o peixe. Ou seja: nós.
Quem viver, verá!