Embora a imprensa local, desta vez, esteja silenciosa com relação ao fato, tem havido muita especulação sobre um boato que corre nos bastidores do poder dando conta de uma possível “dança das cadeiras” entre os secretários municipais de Teófilo Otoni. Há quem especule sobre os nomes de quem pode assumir, de quem deve mudar de pasta, quem, literalmente, “cai fora”… enfim.
E como você que me lê bem sabe, eu tenho muita dificuldade para ficar calado diante de fatos assim. E, como é comum a mim: tenho que perguntar: que parte deste boato é verdadeira?… A lógica, eu sei, é que eu, como produtor de informação, respondesse a questão, e não simplesmente a formulasse. Mas para responder a algo assim é preciso perguntar, ou constatar — como você preferir —, se a notícia é verdadeira.
Vamos ser bem realistas: eu estou ouvindo esse papo de dança das cadeiras desde janeiro — mas janeiro do ano passado. Houve um disse que disse afirmando que o secretário tal não ficaria, que o secretário tal não se manteria… e, com uma ou outra alteração (muito mais técnica ou alheia à vontade de quem quer que seja) o secretariado se mantém o mesmo. E o que mais me encabula é: num momento como este, em que tanto se fala da tal dança das cadeiras, ninguém está fazendo a pergunta certa. E qual é a pergunta certa? Simples: a dança das cadeiras é solução exatamente para quê?
Tudo bem que há um ou outro secretário municipal que, se ficar sem trabalhar, a gente nem vai sentir falta. Pode ocorrer o caso até de a Pasta funcionar melhor sem o tal secretário. Mas insisto: este é um fato isolado. É uma área bem específica. No geral, o secretariado até que vai… indo. Poderia ser melhor? Sim, poderia. Quer saber se eu gostaria de ver nomes mais técnicos à frente das secretarias? Sim, gostaria — pelo menos “eu” gostaria. Mas agora vamos aos fatos. No atual momento em que o Brasil está passando, com as prefeituras sem recursos, e com o Governo Federal tentando tirar mais ainda do caixa dos prefeitos, trocar os secretários vai ajudar em quê?
Em meus quase 40 anos de vida (faltam apenas alguns meses para chegar lá) eu vi inúmeras pessoas criticando o trabalho de gerentes e diretores de empresas e instituições diversas. Até nas igrejas isso existe. E o engraçado é que os críticos, quando têm a chance de assumirem o lugar daqueles a quem criticavam, acabam fazendo ainda menos — isso quando não fazem merda. É claro que depois eles tentam encontrar justificativas para o seu fracasso. Mas o fato é que fracassaram… e pronto.
De acordo com o megaempresário Abílio Diniz, ex-presidente do Grupo Brasileiro de Distribuição, holding que controla, entre outras empresas, o Pão de Açúcar, o Pontofrio e as Casas Bahia, há três pilares que sustentam o sucesso de quaisquer empreendimentos: 1. Know how. Entende-se por know how a estrutura, a infraestrutura, o aparato técnico e o conhecimento que se tem do segmento ou mercado em que se atua. 2. Gente. Pode-se ter uma senhora infraestrutura para se trabalhar, se não houver pessoal qualificado para tocá-la, está fadada a fracassar. E 3. Dinheiro. É isso mesmo que você leu. De acordo com Abílio Diniz, por melhor que seja o negócio ou segmento, e por mais capacitadas que sejam as pessoas que nele trabalham, sem dinheiro não se vai a lugar algum. E olha que quem diz isso é Abílio Diniz, e não este editorialista que aqui escreve.
Voltemos à nossa proposta inicial. … É um fato que o prefeito Getúlio Neiva tem pelo menos tentado colocar a Prefeitura em ordem. Outro fato incontestável é que hoje a máquina pública está mais organizada do que na gestão passada. O salário dos servidores está sendo pago em dia; os prestadores de serviços conseguem receber. … Enfim, pode-se até dizer que a Prefeitura tem um certo know how. Que poderia ser melhor… não apenas poderia como também deveria. Mas está melhorando gradativamente. No aspecto “gente” todos nós concordamos que a Prefeitura poderia ter uma equipe mais técnica. Vamos pôr aqui os devidos pingos nos ‘is’. O problema é arranjar gente qualificada que aceita trabalhar pelo atual valor que é pago em forma de salário pela Prefeitura… Aí alguns podem dizer o seguinte: “então, que o prefeito pague melhor”. Eu penso exatamente isso: que o Município deveria pagar melhor aos servidores. Só que esse dinheiro vai sair de onde? E aí entramos no terceiro pilar proposto por Abílio Diniz: todo mundo quer ter os melhores talentos em sua equipe. Getúlio Neiva, penso eu, também quer. Mas será que os melhores talentos estão disponíveis para o time de Getúlio com o salário que a Prefeitura paga. E onde — por favor, respondam-me! — vai se conseguir dinheiro para pagar mais?
Então, se tiver que promover uma dança das cadeiras entre o secretariado, mesmo que seja apenas para aplacar e satisfazer a opinião pública, acredito até que o prefeito o faça. Mas, se vai resolver… aí já é uma outra história.
(texto originalmente pulicado no Jornal O REPÓRTER NOTÍCIAS, ed. 171)
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