Por David Ribeiro Jr.
Na quinta-feira (06/08) o Partido dos Trabalhadores (PT) usou o seu espaço no horário gratuito para a propaganda partidária em cadeia nacional de rádio e televisão. O programa — não sei se feliz ou infelizmente — não chegou nem perto daquele oba-oba de outros tempos. Antes o PT era visto por muita gente como o último bastião da moralidade, da honestidade e da ética… mas isso, claro!, era antes… antes do mensalão, da máfia dos sanguessugas, dos escândalos no Correio, do Petrolão, dos escândalos no BNDES e do estelionato eleitoral do ano passado quando a presidente Dilma foi eleita por criticar o comportamento imediatamente adotado depois de confirmada a sua reeleição.
O programa do PT nos tempos de crise foi bem diferente. E quanto diferença! Antes havia filas de celebridades da mídia querendo apresentar os programas do PT até gratuitamente. Até pagavam para estar lá. Antes dava status e agregava valor social à imagem do artista. Agora… bem, agora só o Zé de Abreu teve coragem de se expor naquela bagaça. Antes o programa era um desfile de imagens de gente pobre e miserável se dizendo abençoada pelos programas sociais supostamente levados a cabo do PT (mesmo sendo apenas os mesmos programas do governo anterior com outros nomes). Hoje o cidadão pensa uma, duas, três vezes antes de se decidir se permite ou não ao PT usar a sua imagem. E, claro!, acaba optando por não permitir.
Eu tenho que admitir que João Santana, o marqueteiro da Dilma e do PT, tirou leite de pedras naquela peça de dez minutos de duração. O programa, como diria Lula, tava ruim, mas tava melhor do que se esperava. Foram exibidas uma série de estatísticas do que o PT fez ao longo dos seus doze anos e meio de mandato como se aquilo tivesse sido a salvação do Brasil. A ideia era fazer com que aqueles números parecessem uma vitória do jeito petista de governar — quando, na realidade, era só a sua obrigação, e muito malfeita, por sinal.
Apesar de tudo o que escrevi nos parágrafos anteriores, o maior problema do programa do PT não foi o que ali se expôs. Ao contrário, foi o que ali não se expôs. O programa, que, nitidamente, tinha a intenção de fazer parecer que o país ficará pior se houver o impeachment da Dilma, não tocou uma única vez sequer em assuntos delicados para a legenda, tais como o mensalão, Petrolão, escândalos do BNDES, a Operação Lava Jato e tantos outros esquemas de corrupção que são explicitamente capitaneados pelo PT. Nenhuma única palavra sobre essas coisas, mesmo que fosse apenas para pedir desculpas. Que pena!
Permita-me fechar com uma consideração: o PT parece não aceitar que o povo de hoje, que tem acesso à internet, que pensa e que, minimamente raciocina, não engole mais qualquer coisa goela abaixo. Ninguém mais bate palmas para um partido que está no poder quando anuncia que fez isso e aquilo para o povo. Oras, mas o governo não foi eleito exatamente para trabalhar para o povo? Assim, tudo o que um governo faz de bom não é mais do que a sua obrigação.
Imagino que, neste momento, em algum lugar qualquer haja um idiota tirando pelo menos um dos membros do chão e gritando: “mas os outros não fizeram…”. Para esses, respondo: “e daí?” É por isso que perderam. E digo isso como alguém que nunca votou em Fernando Henrique nem no candidato que apontou para sucedê-lo em 2002. Influenciado por conviver com esquerdistas roxos, eu não gostava do jeito de governar do Fernando Henrique. Por isso, votei no PT. Mas o PT conseguiu fazer a gente ter saudades do tempo que Fernando Henrique governava — e muita saudade, por sinal. Eu não sei como eles conseguiram isso, mas conseguiram: hoje tempos saudades do governo FHC.
Ainda em minha opinião, a única coisa plausível dita no programa do PT foi aos 5min53seg (veja o vídeo aqui em baixo), quando o locutor diz que “desde o retorno da democracia, as maiores construções brasileiras foram a estabilidade econômica, o emprego e a ascensão social…” Puxa! Eu concordo plenamente. Ocorre que essas conquistas, ou construções, como preferiu o roteirista do programa, foram obtidas a partir do Plano Real no Governo do presidente Itamar Franco. E eu me lembro bem de que o PT foi contra o Plano Real, embora nunca tenha apresentado nada melhor para substituí-lo, e agora, no poder, o está arruinando. Mais do que isso: o PT havia sido contra a Constituição de 1988, que foi a maior marca da retomada da democracia no País, e que tem sido a última trincheira para defender, mesmo que minimamente, a nossa democracia do Bolivarianismo pleno.
Como já disse, e insisto, “o problema com o programa do PT não foi o que se exibiu. Foi o que não se exibiu”.