Crise da saúde se revelou um palco conveniente para os picaretas de plantão aparecerem um pouquinho

Crise da saúde se revelou um palco conveniente para os picaretas de plantão aparecerem um pouquinho

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Por David Ribeiro Jr.
TEÓFILO OTONI

Eu estive fora deste espaço por alguns dias; mas, claro!, não deixei de acompanhar tudo o que vinha acontecendo em nossa cidade e região. E exatamente por acompanhar tudo, mesmo que à distância, havia tanta coisa que eu poderia escolher para tema deste primeiro editorial de 2016 que fiquei até um pouco em dúvida em meio a tantas opções. Acabei me decidindo por um assunto que considero da maior gravidade: a crise na saúde pública de Teófilo Otoni.

Porém, antes que alguém pense que quero apenas informar sobre isso e aquilo… não. Penso que a crise já foi exaustivamente divulgada e explicada com grandes coberturas dos meus colegas de imprensa. Sendo assim, quero chamar a sua atenção — de você que me prestigia sempre lendo este espaço — para uma abordagem diferente, mas igualmente preocupante: em minha modesta opinião a crise da saúde, mais do que uma oportunidade para unir os diferentes segmentos políticos de nossa cidade em torno de um bem maior (o que, convenhamos, não ocorreu), acabou se revelando apenas um conveniente palco para os picaretas de plantão.

Eu sei que muita gente vai espernear e dizer que estou sendo injusto. E é um direito de qualquer u pensar assim. Contudo, os fatos estão postos e falam por si mesmos. Vou dar um exemplo: eu vi algumas pessoas que se pretendem pré-candidatas à sucessão à Prefeitura de Teófilo Otoni metendo o sarrafo no prefeito Getúlio Neiva por sua responsabilidade nesta crise sem que essas mesmas pessoas apontassem, de forma clara, qual a maior responsabilidade do prefeito na crise em questão. E antes que alguém diga que quero passar a mão na cabeça do prefeito, não, não quero. Eu até penso que, indiferentemente de ter ou não responsabilidade direta na crise, cabe ao prefeito, sim, enquanto servidor público número um do município, empreender ações e capitanear uma ampla frente em defesa da saúde em todas as suas vertentes. Há de se considerar, no entanto, que essa atitude, a de capitanear uma ampla frente em defesa da saúde, não precisa ser tomada apenas pelo prefeito. Ela pode ser tomada por qualquer um, inclusive por mim e por você que está me lendo agora, bem como por aqueles que estão denunciando o caos — como se ele precisasse ser denunciado!

“Mas David”, você pode ponderar, “nós não somos assalariados para cuidar disso”. E você, se de fato fez esta ponderação, está coberto(a) de razão. Eu, pelo menos, não recebo salário do poder público, nem outro recurso qualquer para pensar ou repensar os problemas estruturais do Município. É para isso que elegemos representantes. Mas penso que podemos, sim, na condição de cidadãos, contribuir.

Contudo, o fato de eu poder contribuir não isenta as nossas autoridades constituídas, legitimamente eleitas, e muito bem pagas, de assumirem as suas responsabilidades. Entre essas autoridades está, inclusive, e principalmente, o prefeito municipal, que foi eleito para cuidar dos rumos administrativos do Município. Mas a responsabilidade deve ser igualmente dividida com os vereadores, deputados estaduais e federais, e até mesmo com políticos que estão mais longe, como senadores, governadores e, claro!, a nossa excelentíssima senhora presidenta da República (afinal, vivemos numa federação e, sendo assim, todas as esferas do poder estão interligadas entre si, e todas têm responsabilidade nos problemas percebidos na base da pirâmide social, ou seja, nos municípios).

Dito isto, cabe aqui expor o seguinte: eu, David, não ajudei em nada a resolver o problema da crise na saúde. Em nada mesmo. Mas também não criei uma polêmica em torno disso. Ou seja: não tornei o problema maior do que ele já é — e, acredite, ele é bem grande… muito grande.

É bem verdade que eu estava de férias, mas tinha plena liberdade para, do meu cantinho, escrever um texto criticando algumas coisas que acompanhava pela imprensa. No meu caso, entendi que, naquele momento, seria apenas mais um a criticar. E convenhamos que já havia críticos de sobra. O que realmente precisávamos era de uma contribuição mais substancial. Precisávamos de quem apontasse o caminho para uma solução. E eu, que não sou perito no assunto, não sabia, como continuo não sabendo, que caminho apontar. Assim, preferi me recolher.

Contudo, apesar do meu silêncio, o que foi de vozes que apareceram para fazer as críticas mais desbaratadas ao problema, sem, contudo, apresentarem uma única contribuição lógica para a solução deste mesmo problema, foi, de fato, uma vergonha.

Quer saber o que penso dessas pessoas? São todas, juntas ou separadas, um bando de picaretas. Aproveitaram-se de um momento de dificuldade pelo qual passa o município para tentarem capitalizar politicamente. Mas não conseguiram. Felizmente! Alguns até se deram bem e ganharam algum espaço num veículo ou outro de comunicação; mas, por não apresentarem nada novo, o povo se irritou e mudou de canal.

Viu só?! É fácil criticar o prefeito por construir pontes e reformar praças enquanto a saúde está um caos. Ocorre que todo homem público, e mulher também, ainda mais aqueles que já tiveram um cargo político, sabe muito bem que essas obras (como reformas de praças, construção de pontes ou quaisquer outras) são feitas, na maioria das vezes, com verba carimbada, com verba que não pode ser desviada de função sob risco de o prefeito responder criminalmente. Um exemplo é o que ocorreu na Administração passada, do PT, quando aqui mesmo em Teófilo Otoni a chefe do Executivo foi acusada de ter desviado R$ 17 milhões da Saúde para outros fins — segundo consta, para pagar folha de pagamento dos servidores. Ninguém disse que o dinheiro foi desviado por algum esquema de corrupção. Nada disso. Pelo menos oficialmente foi desviado para uma outra função do exercício da gestão pública. Mas por isso ser proibido, a ex-prefeita quase perdeu o seu mandato à época.

Mas voltemos ao nosso foco.

Antes deste editorial se transformar numa análise comparativa entre este governo e o anterior (já me cansei disso), quero lembrar a você que me lê agora que a maioria das pessoas que criticou o problema, não levantou uma única palha para, de fato, resolver o problema. E há um detalhe que a maioria das pessoas está se esquecendo: de acordo com as entrevistas que acompanhamos antes, o dinheiro que recentemente foi liberado por intermediação do deputado Fabinho Ramalho junto ao Governo do Estado vai dar apenas para não deixar o hospital Santa Rosália fechar. O recurso proporcionou um alívio, mas não resolverá todos os problemas daquela unidade médico-hospitalar… nem da saúde como um todo. E neste momento eu lembro que essas pessoas que tanto criticam a situação da saúde, nada, absolutamente nada têm feito, sequer dito, para contribuir com uma saúde melhor. O repórter Leandro Brito, da TV Imigrantes, até escreveu um excelente artigo comparando o Hospital Santa Rosália a um doente moribundo, e sem o acompanhamento de seus responsáveis, nesse caso referindo-se, também, aos nossos deputados (leia o artigo aqui).

O deputado Fabinho Ramalho, que sempre manteve uma boa proximidade com o Hospital Santa Rosália, conseguiu intermediar uma verba de R$ 6 milhões com o Governo do Estado para tirar o hospital do buraco. Mas insisto: a solução é apenas paliativa; é temporária. E, sendo assim, aproveito para convidar os picaretas e arautos da crítica, aquela turma do “quanto pior, melhor”, para agora demonstrarem que estão aptos a assumirem a cadeira do chefe do Executivo — que todo mundo sabe que é o que querem mesmo — e ajudem a encontrar uma solução real, viável e exequível para o nosso problema. Criticar é muito fácil. Eu mesmo, na condição de usuário dos serviços do SUS, posso fazer muitas críticas aqui deste espaço, e talvez até com muito mais barulho. Mas iria ajudar em quê? Em nada. O que precisamos, reitero, é de líderes que nos apontem o caminho e a solução para os nossos problemas e anseios, como no caso da saúde.

É por isso que volto a dizer algo que já escrevi aqui antes várias vezes, mas que não custa repetir: já fomos vítimas do discurso meramente oposicionista no passado… e deu no que deu. Agora, precisamos ser mais criteriosos e mais responsáveis com o nosso futuro. E olha que este é ano de eleição municipal.

Que o prefeito tem responsabilidade, como gestor do Poder Executivo, de procurar uma solução para esta crise, sim, tem. Ele foi eleito, entre outras coisas, exatamente para isso. Mas é importante o devido equilíbrio para considerarmos que as prefeituras de todo o País têm hoje 42% menos, em média, do que tinham de receita em 2012. E como não há almoço grátis, não dá para apelar apenas a um milagre em uma situação terrena, não é mesmo?

E, como sempre digo, quem viver, verá!



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