Texto extraído do livro “Antônio Galvão, a Trajetória de um Vencedor”, da professora Regina Molina, adaptado pelo editor do Portal minasreporter.com, David Ribeiro Jr:
Doze de novembro de mil novecentos e trinta e quatro. O primeiro dirigível de Zepellin completa trinta e quatro anos. A primeira fábrica FORD completa trinta e um. Há vinte e oito anos Pio X condena erros anticatólicos.
É em meio a este cenário que veio ao mundo o personagem principal de uma linda história: Antônio Costa Galvão.
A data é, também, uma aurora nova para o mundo do casal Dade e Olavo — os pais. É nessa data que nasce na Fazenda Aguinha, aqui bem perto, o terceiro filho do casal. O terceiro de cinco filhos homens. Precedem-no Joel e Pedro; sucedem-no Valdir e Walter.
Naquele pequeno distrito que já se chamou Bom Jardim, o menino Antônio, às vezes, se põe em sossego na varanda da casa, varanda larga que olha para o jardim de flores que nem se usam mais: gerânios, cock-liares, violetas, verbenas, dálias.
Em frente, uma palmeira. De um lado o caramanchão abriga um grande banco para conversas de adolescentes ou o som de um violão. Na frente da casa, rosas. No fundo, o Rio Jacaré.
O menino se encanta com seu casarão. Na sala de jantar, uma comprida mesa. A família ali se reúne à noite para a ceia, e, ao fim, a mãe pede para tirar a mesa. As festas do povoado são animadas pelo sanfoneiro Nego de Zé Bugre. Em noites de luar: Cascatinha e Nhana — “Índia teus cabelos nos ombros caídos…” ou Ângela Maria na radiola, ou, mais, na rua, “Brasileirinho” ou “Delicado”, ao violão. A moçada se diverte.
Para Olavo e Dade o terceiro filho é uma criança arteira, que dá muito trabalho. Bananas apanhadas indevidamente na despensa, ou as guloseimas feitas pela mãe, para distribuir à garotada. Nisso, ele ajuda: vende umas e oferece outras. Os pais deixam aos filhos a chance de poderem celebrar a infância de forma suave. Os cinco meninos crescem e preservam o espírito de origem dentro dos princípios básicos de integridade moral.
Antônio comanda e é o mais alegre. Vêm-lhe assomos de rebeldia: um barquinho de papel, na enxurrada. A covardia e a submissão pela ameaça do castigo passa rápido. A vida retoma seu fluxo com amanhecer ainda suave.
Desde muito cedo que Antônio Galvão já se mostrava uma criança inteligente e trabalhadeira. Ideias mirabolantes sempre fizeram dele um menino especial. O pai, Seu Olavo, destinou-o ao comércio, profissão nobre, para a qual demonstrava muita habilidade. Mas ele não estava satisfeito em ficar atrás do balcão, parado, à espera de fregueses…
“Não!… isso não é para mim”, diria ele.
Mas que armas terá para enfrentar uma luta áspera, e talvez sem fim?… Tem uma arma, sim. Tem uma vontade de ferro. Aos dezessete anos constrói uma olaria. Não se afasta dos trabalhos, mesmo porque ele também trabalha. No momento da queima dos tijolos arranja uma cachaça e assa uma carne para que os funcionários ali permaneçam mais animados durante a noite. Todos cantam para se divertir, ou, pelo menos, para iludir o sono. É o anúncio do líder motivador que viria a ser.
No dia 12 de novembro de 1960 — data de seu aniversário — Antônio se casa com Nelza Nunes. Mulher de hábitos simples, apaixonada por futebol – torcedora do Atlético Mineiro. Gosta de cuidar — ela própria — de seus incontáveis passarinhos.
Antônio não pensa em enriquecer, mas garantir uma terceira idade com segurança e dignidade junto aos filhos. Assim, no tempo certo, usufruir do benefício do seu trabalho com conforto e comedimento. Jamais sonha com poder ou aparência de riqueza, uma vez que as coisas simples fazem parte de sua singularidade. Tanto é assim que, nesta época, com apenas três camisas ele alterna o seu dia a dia.
Em 23 de outubro de 1961 nasceu seu primogênito, Antônio Augusto Galvão.
Em 27 de outubro de 1962, veio ao mundo a filha Márcia Nunes Galvão.
Em 24 de dezembro de 1963, a caçula da família, Natália Galvão.
A CREDIVALE — É o início de 1988. Nesse tempo Antônio Galvão cria juntamente com vinte e uma pessoas a CREDIVALE. Numa época em que se fala que as cores do cooperativismo estão esmaecidas, o SICOOB CREDIVALE responde com uma missão: métodos a se nortear.
Para esse desafio agrega uma equipe profissional. Traz pessoas que sabem fazer, e – o que se conta — as deixa trabalhar. Em harmonia, unem-se os esforços. Não existe o melhor. Todos têm que trabalhar com determinação e entusiasmo.
Adequado para esse trabalho, escuta, avalia, projeta, mas tem que ousar, conhecendo as possibilidades de perigos. Nesse sentido, Antônio Galvão sabe o caminho para informar aos que com ele trabalham, a metassíntese, o alvo que todos têm que atingir, dividindo responsabilidades na execução das obrigações.
Isso lhe vale o desafio de criar uma cooperativa de crédito, o que, para muitos, não passa de um projeto irrealizável, utópico. Causa espanto àqueles que não conhecem sua persistência e a consequente coragem de trabalhar matérias novas.
Nos últimos anos Seu Antônio Galvão, depois de ter perdido a companheira Nelza, encontrou uma pessoa que tem trazido luz para a sua vida, alegria para os seus dias e um motivo a mais para ele gostar de dançar, de frequentar aos bailes e de piscar os olhos com a vivacidade que só o amor produz — sua namorada, Rosa Magalhães.