Infidelidade partidária altera bancadas mineiras na Câmara e na ALMG. Pelo menos 13 deputados mineiros vão aproveitar a janela aberta pelo STF para se filiar ao recém-criado PMB. Alguns vão usar esse partido como ponte para chegar a outras legendas
Por Juliana Cipriani
Estado de Minas
As bancadas mineiras na Câmara dos Deputados e Assembleia Legislativa vão terminar o ano com configurações diferentes das que começaram. Graças a uma liminar do Supremo Tribunal Federal (STF), dando 30 dias para os interessados se filiarem a três novos partidos sem perder os mandatos, pelo menos 13 deputados devem abandonar as legendas pelas quais foram eleitos para se abrigar no Partido da Mulher Brasileira (PMB). Liberada a infidelidade, as articulações são para fazer do recém-criado PMB uma espécie de trampolim, passando por ele para depois chegar a outras trincheiras.
Na Câmara dos Deputados, já se filiaram Fábio Ramalho, ex-PV, Marcelo Álvaro Antônio, que deixou o PRP, Pastor Franklin, que era do PTdoB, e Weliton Prado, que saiu do PT. As únicas mulheres a engrossar as fileiras do partido, em tese feito para elas, foram Brunny, ex-PTC, e Dâmina Pereira, ex-PMN. Destes, somente Prado chegou a ter desentendimento público com o antigo partido, o PT, indo contra a orientação partidária em votações na Câmara.
Na Assembleia Legislativa, as movimentações que estavam a toda desde a confirmação da janela da infidelidade começaram a se concretizar na semana passada. O ex-líder do bloco governista na gestão tucana à frente do Palácio Tiradentes, Lafayette Andrada, deixou o PSDB e se filiou ao Partido da Mulher na terça-feira. Na sexta-feira foi a vez de Thiago Cota deixar o PPS para integrar a mesma legenda. Os dois não devem ser os únicos. Andrada, que agora articula a formação da nova legenda, não quis antecipar os nomes, mas disse estar em conversas com colegas e que cinco deputados podem ir para o PMB.
Nos corredores da Casa, uns negam e outros admitem estar de malas prontas. O deputado Glaycon Franco (PTN) diz estar consultando advogados para ver a segurança jurídica de uma eventual mudança para o PV, passando antes pelo PMB. “Parece que tem um prazo, não é só ir para o PMB e depois sair. Tem que ter tranquilidade e ver os vários fatores”, afirmou. O colega Emidinho Madeira (PTdoB), que tem convite para ir futuramente para o PR, também está no time dos indecisos. “Não posso tomar decisão precipitada, tenho que conversar, principalmente com o presidente do meu partido, Luis Tibé”, disse.
Já o deputado João Vítor Xavier (PSDB), que chegou a ser apontado por colegas como um dos que estariam de mudança, negou qualquer possibilidade de sair da legenda da qual hoje é secretário estadual. “Não vou botar minha credibilidade em risco, estou cuidando da minha pré-candidatura (a prefeito) e cheio de aliados; quem está falando isso deve estar muito incomodado”, afirmou. Missionário Márcio Santiago (PTB) também negou estar negociando mudança. “São só cogitações”, afirmou.
Base
Além desses, estariam na lista dos procurados para mudar de partido Neilando Pimenta (PP), Fábio Avelar (PTdoB), Nozinho (PTdoB) e Douglas Melo (PTB), que não foram encontrados pela reportagem. O assédio estaria partindo principalmente da base do governador Fernando Pimentel (PT), que, com as mudanças, tiraria alguns quadros da oposição, que tem hoje além do PSDB, DEM, PP, PTB e PDT.
O futuro presidente do PMB em Minas Gerais, deputado Fábio Ramalho, admite que o partido estaria sendo usado como transição. “No meu caso, não, e tem muita gente que vai ficar. O Thiago Cota e o Lafayette vão ficar, por exemplo”, diz. Apesar de o partido ter como linha a defesa dos direitos das mulheres, Ramalho admitiu que a ideologia foi o menor dos atrativos para os filiados. O partido está aberto a qualquer um e os parlamentares estão se filiando com a promessa de terem mais autonomia. “Talvez você não esteja satisfeito no partido que está. Tem deputado federal que não tem autonomia nenhuma para reivindicar nem um diretório, isso inviabiliza a vida do parlamentar. Aqui eles vão ter a liberdade de escolher e a autonomia necessária para trabalhar”, afirma Ramalho.