“Não faz sentido ganhar a Prefeitura a qualquer preço”, diz Daniel Sucupira

“Não faz sentido ganhar a Prefeitura a qualquer preço”, diz Daniel Sucupira

Por David Ribeiro Jr.
TEÓFILO OTONI

Aos 33 anos, o vereador DANIEL SUCUPIRA exerce o seu primeiro mandato parlamentar (foi eleito em 2012) pelo Partido dos Trabalhadores (PT), partido do qual, segundo suas próprias palavras, “participa desde que se entende por gente” trazido para a militância dos movimentos sociais pelo Padre Giovanni, da APJ. Graduado em Gestão de Cooperativas pela Universidade Federal de Viçosa, pós-graduado em Gestão Estratégica, Comunicação e Marketing (DOCTUM), e com mestrado em Gestão Integrada de Territórios (UNIVALE), atua, paralelamente ao mandato, como consultor, e presta assessoria a empresas e organizações sociais. Também é professor substituto no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Norte de Minas (IFNMG), e ainda é pequeno produtor rural.

Na Administração da ex-prefeita Maria José Haueisen Freire foi secretário municipal de Agropecuária e Abastecimento, e, já como vereador, candidatou-se a deputado estadual em 2014, e obteve a expressiva votação de quase 17.000 votos, porém, não foi eleito. Na tarde de terça-feira (14/12), Daniel, considerado hoje um pré-candidato natural do PT à sucessão municipal em Teófilo Otoni, recebeu-me em seu gabinete, no Anexo 2 da Câmara Municipal, ocasião em que me concedeu uma longa e polêmica entrevista com direito a réplica e tréplica de parte a parte. Vale muito a pena acompanhar esse bate-papo entre nós.

 

Vereador Daniel Sucupira (PT) — Foto: Divulgação
Vereador Daniel Sucupira (PT) — Foto: Divulgação

A entrevista, na íntegra, segue abaixo:

minasreporter.com — Como o senhor avalia seu mandato na Câmara Municipal, vez que, embora esteja há bastante tempo na vida pública, apenas há três anos exerce função para a qual foi eleito?

DANIEL SUCUPIRA — A Câmara Municipal é uma grande experiência. O Parlamento nos dá a oportunidade de conhecer a política por dentro. Mesmo trabalhando com complementariedade entre a Câmara Municipal e o Poder Executivo, a autonomia das duas casas é fundamental. Ao longo desses três anos como vereador o que eu fiz foi garantir uma autonomia total e independência do governo municipal, ou seja: pauta de Câmara é pauta de Câmara. Pauta do Executivo é pauta do Executivo. O nosso trabalho é apoiar o Executivo naquilo que é bom para a cidade e assumir uma posição mais combativa e aguerrida naquilo que não é bom para a cidade na avaliação do nosso mandato.

minasreporter.com — Entendedores de política apostam que o senhor tem a sua reeleição garantida como vereador. Mas, ao mesmo tempo, é considerado o nome mais indicado do PT para concorrer à sucessão do chefe do Executivo. Afinal, Daniel Sucupira pretende ser candidato a prefeito de Teófilo Otoni na próxima eleição?

DANIEL SUCUPIRA — Eu tenho disposição. É lógico que uma decisão como esta não pode ser tomada a toque de caixa; não pode ser tomada sem as devidas análises e avaliações. Isso tem que ser construído visando um projeto de desenvolvimento para a nossa cidade. Eu, quando fui secretário de Agropecuária, não quis ser secretário por ser. Eu queria deixar o meu legado e minha contribuição para minha cidade. Quando assumi em nome da população de Teófilo Otoni o mandato de vereador, eu passei a trabalhar para que nosso mandato fosse o melhor possível em termos de atuação parlamentar. Entendo que, numa campanha de disputa pelo Executivo Municipal, só faz sentido se o trabalho como prefeito viabilizar melhorias importantes que Teófilo Otoni precisa. Então, esse é o meu sentido. Respondendo à pergunta de forma mais objetiva: eu tenho disposição e estou a serviço tanto da cidade quanto do meu partido e das pessoas que querem ver Teófilo Otoni em outros rumos e outros trilhos para essa construção.

minasreporter.com — O senhor não se preocupa em ficar rotulado como vereador de oposição sistemática, já que muita gente tem a impressão de que o senhor vota contra os projetos do prefeito unicamente por serem projetos do prefeito?

O vereador Daniel Sucupira em reunião no seu gabinete
O vereador Daniel Sucupira em reunião no seu gabinete

DANIEL SUCUPIRA — As pessoas que conhecem bem nossa atuação e acompanham nosso mandato sabem que essa é uma impressão que não se aplica. Nosso mandato tem uma estrutura um pouco diferente. Nosso mandato é composto não só pela equipe de assessoria. Nós temos um conselho político que forma um mandato. Os conselheiros do mandato são lideranças de movimentos sociais, representantes de comunidades, líderes de pastorais da Igreja, intelectuais, pessoas que estão dia a dia no mercado de trabalho… e essas pessoas nos orientam e nos apoiam no sentido de apontar a linha que o mandato tem que seguir. Nosso histórico disponível nos informativos que a gente faz, e também nas redes sociais, aponta para um mandato que é independente. Ser independente não significa ser contra ninguém; pelo contrário, significa ter uma postura de que todo e qualquer voto tem que me dar uma condição de justificar isso para a sociedade. Então, em minha página do Facebook eu justifico todos os projetos que votei.

minasreporter.com — Houve projetos do Executivo que receberam votos positivos do vereador Daniel Sucupira?

DANIEL SUCUPIRA — Houve vários casos. E até ao final da nossa legislatura aqueles projetos que são bons para a cidade nós vamos apoiar. Agora, aqueles projetos que não são bons, que visam enfraquecer a Prefeitura Municipal, que visam vender de maneira irresponsável o patrimônio público municipal, que ameaçam o futuro do servidor público, com esses projetos o vereador Daniel Sucupira não vai concordar.

minasreporter.com — O senhor tem receio de que o desgaste do PT em nível nacional atrapalhe uma eventual candidatura sua em Teófilo Otoni?

O então candidato a deputado estadual Daniel Sucupira recebe o carinho da presidenta Dilma (foto: facebook)
O então candidato a deputado estadual Daniel Sucupira recebe o carinho da presidenta Dilma (foto: facebook)

DANIEL SUCUPIRA — Eu acho que são duas coisas bem diferentes. Se a gente for observar, o PT está numa composição de governo com muitos partidos. Nós teremos outras lideranças que também vão disputar a Prefeitura de Teófilo Otoni que estão na base do Governo em partidos aliados. Se a gente pensar bem, o atual chefe do Executivo de Teófilo Otoni é do PMDB. O PMDB é o partido do vice-presidente da República; é o partido do presidente do Senado e do presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha, que, por sinal, sofreu hoje, no dia desta nossa entrevista, uma intervenção em sua casa e em seu gabinete, relacionada a Operação Lava Jato. Eu não desejo isso pra ninguém, mas o que eu quero mostrar, e respondendo a esta pergunta, é que existem partidos e existem pessoas. A conduta do ser humano, do indivíduo, não deve ser pautada só pelas diretrizes partidárias. Os partidos são feitos de pessoas como nós, pessoas que têm seus erros e têm seus acertos; porém, a ética e a moral não vêm de uma filiação partidária; vêm dos valores humanos, dos valores cristãos e dos valores familiares que eu tenho orgulho de ter. Eu entendo que essa dificuldade que o PT está tendo vai ser superada. Foi arquitetado um projeto muito audacioso de enfraquecimento do PT, e dá pra gente compreender que o único país no mundo em que as pessoas têm mais medo de um ex-presidente do que de um atual presidente é o Brasil. Então, a mídia de oposição, os setores mais conservadores do país, as classes que, apesar de terem sido bem atendidas pelo presidente Lula e pela presidenta Dilma, se rebelaram contra o governo do PT, são categorias que mais na frente vão entender que esse debate está sendo feito de forma muito superficial. O problema da corrupção não começou com o PT no Brasil; pelo contrário, nunca se apurou tanto a corrupção quanto se apurou no governo do PT com a autonomia da Polícia Federal, com a autonomia do Ministério Público, com a autonomia das instituições… isso a própria presidenta Dilma tem deixado muito claro. E qual é a minha opinião diante disso tudo? Quem deve, justiça! Quem não cumpriu com as suas responsabilidades e cometeu seus crimes deve pagar pelo que fez, independente se é do PT ou de qualquer outro partido.

minasreporter.com — Alguns especialistas apontam que a má gestão dos governos petistas no Brasil é pior para o país do que a corrupção propriamente dita, uma vez que a dívida pública aumentou cinco vezes por causa dos reiterados exercícios gastando-se mais do que se arrecadava. Em sendo prefeito, Daniel Sucupira pretende fazer uma administração municipal diferente do que o PT fez em Brasília, mais pautada em responsabilidade fiscal?

DANIEL SUCUPIRA — Teófilo Otoni já vai iniciar o próximo mandato, seja quem for o prefeito, com problemas muito sérios, inclusive de dívida pública. Nós assistimos operações de créditos que foram contraídos pela Prefeitura Municipal, assinadas pelo atual chefe do Executivo, que colocam em risco o futuro do servidor público municipal, e eu dou um exemplo: as negociações feitas com o SISPREV. O chefe do Executivo entrou com um projeto na Câmara Municipal, o qual eu fui contra, que retirou o pagamento de juros e o pagamento de correção monetária das parcelas da negociação feita com o SISPREV, que é a previdência pública do servidor municipal. Imagina o que vai ser esse recurso daqui a dez ou vinte anos, uma vez que a Prefeitura Municipal está pagando sem juros e sem correção, apesar do tempo do parcelamento!

minasreporter.com — O senhor acredita mesmo que o prefeito conseguiria honrar o acordo feito pela administração anterior no apagar das luzes, depois de ter deixado de recolher tantas parcelas para o SISPREV? Não é evidente que a Prefeitura não conseguiria arcar com aquele acordo de forma alguma?

DANIEL SUCUPIRA — Eu acredito que não. Eu tenho debatido muito isso com pessoas especializadas nessa área, e tenho compreendido que alguns gestores administram o que é coletivo, o que é da cidade, como se fosse deles, como se fosse pessoal. A mesma coisa aconteceu, independente de dívida do SISPREV, que não foi criada no governo de Maria José. A prefeita Maria José buscou com responsabilidade pagar o SISPREV. Agora, existe uma dívida, e essa dívida foi negociada e não tem motivo que justifica a retirada de juros e de correção monetária, porque o recurso é do servidor público municipal. Então, prefeito nenhum pode declarar uma moratória de não pagar juros e de não pagar a correção da dívida. Imagina um servidor público daqui a dez anos, quando precisar, quando requerer sua aposentadoria… ele vai olhar para trás e vai perceber que essa ação que foi feita agora vai impactar diretamente lá no final.

minasreporter.com — Mas não é mais fácil pagar uma parcela, mesmo sem juros e multas – que estão sendo contabilizados para serem pagos em algum momento futuro – do que fazer como a última administração, que ficou meses sem pagar nada ao SISPREV, só fazendo essa negociação com parcelas altíssimas para o sucessor ter que se virar depois?

DANIEL SUCUPIRA — O histórico que nós temos no SISPREV demonstra que, independente do que houve no atraso de um mês ou outro, esse recurso continuou voltando para os cofres do SISPREV. É como alguém que vai negociar uma dívida reconhecer a dificuldade de pagamento. O histórico que nós trabalhamos quando a lei foi votada na Câmara Municipal demonstrou que a bola de neve começou nos governos anteriores. A prefeita Maria José assumiu a responsabilidade de acertar uma dívida que não foi ela que fez. O interessante é que com essa operação feita pela equipe de governo de Maria José, O SISPREV não perdeu nada diante do período que Maria José foi prefeita.

minasreporter.com — Mas só não perdeu por causa da negociação feita no final do mandato para outro ter que pagar…

DANIEL SUCUPIRA — Não perdeu tendo em vista a negociação feita.

minasreporter.com — Vereador, indiferentemente de quem assumisse a Prefeitura, mesmo que fosse alguém do PT, não é um fato que o prefeito não conseguiria arcar com a negociação feita?

DANIEL SUCUPIRA — Eu acredito que conseguiria, sim; porque governar é prioridade (ênfase na última palavra). Então, se a gente não entender uma administração pública como prioridade, aí não vai ter dinheiro para SISPREV, não vai ter dinheiro para resolver o problema da dívida da Escola Irmã Maria Amália, mas vai ter dinheiro para outras coisas. Então, eu acho que esta é uma oportunidade que a gente tem para conhecer o Executivo e conhecer o Legislativo. Quando fui secretário por quatro anos, isso ficou muito claro: para governar uma cidade do tamanho da nossa, com os problemas que a nossa cidade tem, é preciso que o prefeito tenha disposição e pulso firme para assumir aquilo que é prioridade.

minasreporter.com — O senhor citou o caso da Escola Irmã Maria Amália. Não é muito mais fácil tirar a escola dali e colocá-la em um imóvel do município, do que gastar dezesseis milhões de reais para comprar só aquele terreno, já que a escola terá que ser reconstruída?

DANIEL SUCUPIRA — Eu, juntamente com os pais, colegas vereadores e com o Sindicato dos Servidores Públicos Municipais, abracei esta bandeira para não deixar a escola fechar, em função da relevância que a escola tem. O Executivo, com a sua expertise, nos colocou em uma situação que nem todo mundo teve capacidade para compreender o que foi feito. O que o chefe do Executivo fez? Ao invés de alienar um patrimônio público que ele colocou em negociação, que nesse caso foi a Policlínica, para adquirir o imóvel que é o Maria Amália, a negociação foi feita para pagar os aluguéis até o final do ano de 2016. Isso, na minha opinião, é simplesmente você transferir um problema e não lidar com a prioridade absoluta, que é o real problema da Escola Maria Amália.

minasreporter.com — Se hoje o senhor fosse prefeito, qual seria a sua atitude?

DANIEL SUCUPIRA — Primeiro a gente tem que buscar o imóvel definitivo para a Escola Maria Amália…

minasreporter.com — Então o senhor concorda comigo que o mais viável é tirar a escola daquela localidade?

DANIEL SUCUPIRA — Não necessariamente sair dali. A instituição que detém o patrimônio da Escola Maria Amália é uma instituição séria. Eu sei que a instituição não quer inviabilizar a educação no município. Agora, o que foi ofertado para eles foi um pagamento de aluguel naqueles mesmos valores que estavam cobrando até 2016. Então, qual instituição que não vai querer em seu caixa um pagamento de aluguel mensal da Escola Maria Amália? O que faltou em minha opinião foi uma negociação para realmente adquirir a escola, comprar aquela área, a menos que houvesse outra área mais viável. O município tem condição de lançar mão de outros artifícios, dado à relevância da educação e da Escola Maria Amália para a cidade. Era possível fazer uma desapropriação do imóvel e o dinheiro poderia vir de áreas em que o Executivo investiu. Quando eu afirmo para você a questão da prioridade, eu estou falando disso.

minasreporter.com — Mas seria justificável essa desapropriação, mesmo com o município sem dinheiro, e com outros imóveis onde se poderia construir um novo prédio para a escola?

DANIEL SUCUPIRA — O importante é resolver o problema da escola. É possível desapropriar e adquirir aquela área, mas entendendo a importância de a escola estar localizada naquele eixo, atendendo aquelas famílias que estão naquela localidade. Então, se é possível utilizar de recursos próprios do município para essa finalidade, por que não? Como o município pôde, por exemplo, contrair uma dívida de R$ 8,5 milhões para comprar ações da ZPE? É fácil demais arriscar em ações da ZPE com dinheiro dos outros. Eu quero deixar claro que, no caso da Escola Irmã Maria Amália, foi uma negociação que nós optamos por permitir que fosse feito o pagamento do aluguel por percebermos a indisposição do prefeito em resolver o problema definitivo da escola, e por perceber a intenção do prefeito em deixar a escola fechar. Então, nós, enquanto pais, enquanto Sindicato dos Servidores Públicos Municipais, vereadores comprometidos com a Educação, permitimos e aprovamos na Câmara Municipal esse projeto, mesmo sendo apenas pagamento de aluguel, e não para que a escola fosse própria.

minasreporter.com — Qual seria a característica mais marcante de um eventual mandato do prefeito Daniel Sucupira?

DANIEL SUCUPIRA — Teófilo Otoni deve ter como prioridade, em minha opinião, o desenvolvimento econômico, e com a bandeira, que é fundamental, do desenvolvimento rural. Nós temos vocações importantes em nossa cidade. Nossa cidade precisa gerar trabalho, precisa gerar renda, só que as pessoas têm dificuldade de entrar em Teófilo Otoni. A cidade, que deveria abrir as portas e criar condições para que os empreendedores venham para cá, a fim de gerar renda aqui, infelizmente não está fazendo isso. Essa não é a realidade. As pessoas veem Teófilo Otoni como um local difícil de ser acessado; isso pode ser comprovado com empreendedores que querem chegar aqui e não conseguem. Você mesmo, no seu site, tendo disposição, pode aferir isso em conversa com os empresários. Eu acho que a nossa cidade precisa, sem perder a dimensão do direito social, que é fundamental, ser boa para todos. Uma cidade não pode ser administrada para atender a um grupo pequeno de pessoas, como Teófilo Otoni é administrada hoje. Quem não tem uma relação próxima com o chefe do Executivo não consegue se viabilizar na cidade em vários aspectos. Eu entendo que a administração pública municipal deve cumprir o princípio de ser transparente. Ela deve buscar o princípio da isonomia. A administração municipal não pode ser focada para atender alguns, e sim para atender uma coletividade.

minasreporter.com — Em Teófilo Otoni houve, por muito tempo, e da parte de muita gente, o desejo de ver Maria José prefeita. Ela obteve duas vitórias legítimas, mas a gestão propriamente dita do mandato deixou muito a desejar. Não se discute aqui a integridade moral dela, mas as brechas administrativas e o endividamento recorde na Prefeitura no seu governo. Como Daniel Sucupira pretende se policiar para não cometer os mesmos erros da última prefeita do seu partido?

Daniel Sucupira entre a presidente do PT em Teófilo Otoni, Maria Helena Costa Salim, e a ex-prefeita Maria José, de quem foi secretário de Agropecuária e Abastecimento (foto: Facebook)
Daniel Sucupira entre a presidente do PT em Teófilo Otoni, Maria Helena Costa Salim, e a ex-prefeita Maria José, de quem foi secretário de Agropecuária e Abastecimento (foto: Facebook)

DANIEL SUCUPIRA — É importante esclarecer que a prefeita Maria José deixou diversos feitos para a história de Teófilo Otoni. E a dívida que Maria José deixou não vai se comparar com a alta dívida pública que está sendo construída pelo atual prefeito. Eu até faço um desafio aqui:  no dia 1º de janeiro de 2017 compare a dívida deixada com a dívida encontrada em 1º de janeiro de 2013. O que eu entendo é que o governo Maria José focou nas grandes obras que, infelizmente, diversas delas foram desfeitas a partir de 1º de janeiro de 2013, e aqui eu quero citar alguns exemplos: nós fizemos um restaurante popular que foi fechado pelo então chefe do Executivo no dia 1º de janeiro de 2013…

minasreporter.com — Não foi isso o que disse o Ministério Público em ação movida pelo senhor mesmo…

DANIEL SUCUPIRA — Eu tenho todos os laudos e todos os pareceres que apontam as motivações.

minasreporter.com — Vereador, o Restaurante Popular foi fechado uma semana antes do término do mandato da prefeita Maria José; isso é um fato.

DANIEL SUCUPIRA — Não. Os servidores chegaram no dia 2 de janeiro e as portas estavam fechadas. Quem fechou o Restaurante Popular foi o chefe do Executivo Municipal.

minasreporter.com — O senhor nega, então, que a prefeita Maria José terminou o mandato sem pagar uma única parcela à empresa gestora do restaurante, como a própria empresa admitiu?

Veja bem… o que de fato ocorreu? A dívida do Restaurante Popular precisava ser negociada assim como outras dívidas, também.

minasreporter.com — Mas a própria empresa diz que fechou por falta de pagamento.

DANIEL SUCUPIRA — Mas a empresa tinha interesse de permanecer. Inclusive, três anos se passaram e um aparelho como aquele está sendo depredado a cada dia. Imagine os equipamentos que ali foram instalados, o esforço que foi feito, as dificuldades que os permissionários do Mercado Municipal passaram para aquele restaurante popular ser viabilizado em Teófilo Otoni, e quantos atendimentos ficaram sem fazer. Nós fizemos uma conta aqui no gabinete e nos espantamos com a quantidade de refeições que deixaram de ser servidas. Imagina o impacto disso para os produtores rurais que abasteciam o restaurante, nossos jovens que precisavam se alimentar, para não terem que fazer como eu fiz diversas vezes, comer um salgado e um suco antes de ir para a escola. Há muitos feitos deixados pela prefeita Maria José que, como o próprio prefeito disse em certo momento, ele não tinha compromissos com esses projetos deixados por Maria José.

minasreporter.com — Ninguém nega a importância do Restaurante Popular, mas como pagar por sua manutenção, se a própria prefeita que o autorizou não conseguiu pagar uma única fatura das refeições ali servidas, e mesmo cidades maiores como Governador Valadares e Ipatinga, também administradas pelo PT, optaram pelo fechamento por falta de recursos para a manutenção dos seus respectivos restaurantes?

DANIEL SUCUPIRA — Eu volto a repetir que administrar é uma questão de prioridade. Eu entendo que o Restaurante Popular tem que funcionar.

minasreporter.com — Pode-se dizer, então, que esta será uma prioridade sua?

DANIEL SUCUPIRA — Eu acredito que é uma prioridade importante nossa. Existe investimento que foi feito ali. Não se buscou nenhuma alternativa para a abertura do Restaurante Popular. Eu lembro das políticas públicas existentes no Governo Federal e no próprio governo do Estado que poderiam contribuir, como o Programa de Aquisição de Alimentos, em que o Governo Federal com recursos via CONAB adquire o alimento da agricultura familiar, e que pode ser doado diretamente para o Restaurante Popular. Há projetos prontos. Eu mesmo me coloquei à disposição na Câmara Municipal na época. Porém, eu entendo que, se formos analisar tudo o que foi feito no último Governo, precisaríamos de mais tempo. Mas eu tenho disposição para analisar projeto por projeto. Eu gostaria de colocar aqui, em termos de parâmetro de comparação da importância do governo Maria José, que nós tivemos em Teófilo Otoni um grande esforço da ex-prefeita, por sua amizade pessoal com o presidente Lula, para a criação da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. Essa universidade mudou a história de Teófilo Otoni, e não digo isso apenas como estudante, como acadêmico, mas como cidadão desta cidade. Conseguimos perceber as mudanças em nossos jovens que hoje passam pela Universidade Federal. Apenas a título de exemplo: quando em 2002 eu deixei Teófilo Otoni para estudar na Universidade Federal de Viçosa, no meu bairro, a Vila Esperança, onde moro, só havia um estudante universitário. Hoje não se conta mais nas mãos a quantidade de jovens que nós temos estudando nas universidades. Porém, uma das primeiras ações do Executivo Municipal na atual gestão foi fechar o cursinho pré-vestibular do Município. Como a prefeita Maria José cria a Universidade Federal e cria o cursinho pré-vestibular para dar condições aos nossos jovens de ingressarem na Universidade Federal, e uma das primeiras ações do atual chefe do Executivo é fechar o cursinho pré-vestibular? Imagine isso na vida desses jovens! Imagine o que vai significar para as pessoas que tiveram expectativas e não puderam pagar um cursinho particular, que não podem fazer um bom ENEM por terem vindo de uma sequência de estudos que não foram os mais interessantes, e que hoje não podem acessar uma universidade. Eu entendo que essa seria uma prioridade. Tira o dinheiro de onde tiver que tirar, mas é importante que o cursinho funcione. Vou te dar outro exemplo: essa semana eu vi num posto de combustível diversos ônibus daqueles amarelos do Ministério da Educação parados, e comunidades sem aula porque não tinha combustível.

minasreporter.com — Praticamente, todas as prefeituras do interior do País se dizem falidas. Estão tirando carne da merenda escolar e deixando ônibus escolares parados por falta de condições até para a folha de pagamento dos servidores. Os prefeitos alegam receber hoje 42% menos do que recebiam em 2012, por exemplo. Se o senhor estivesse prefeito, como resolveria esse problema de falta de dinheiro?

DANIEL SUCUPIRA — A primeira coisa: eu acredito que o prefeito tem que ter pulso e cortar as gorduras. Não tem cabimento uma cidade do tamanho de Teófilo Otoni pagar a um cargo de confiança R$ 16.000,00 (dezesseis mil reais). Não tem cabimento numa prefeitura como Teófilo Otoni ampliar e criar mais secretarias só para atender demandas de parceiros políticos do atual chefe do Executivo. Você pode colocar um caminhão de recursos públicos, mas, se não enxugar gorduras e diminuir gastos, esse recurso não vai render, e aí, se a gente for observar, projetos importantes que vieram sendo construídos, que vieram sendo fortalecidos no governo da prefeita Maria José, foram paralisados. Infelizmente, a impressão que se dá é que existe uma intenção do atual chefe do Executivo que esses projetos se dissipem no ar. Como citei aqui o Restaurante Popular, gostaria de citar o cursinho pré-vestibular e o CEASA… Hoje o CEASA de Teófilo Otoni se transformou em uma oficina, com péssimas condições de trabalho para os servidores municipais, e nosso grande potencial produtivo de comercialização de produção da agricultura familiar, da produção rural, está comprometida. E há muitos outros exemplos: as negociações péssimas que foram feitas para a entrega do parque de obras para a Copasa…

minasreporter.com — O senhor não pensa ter sido um bom negócio pagar uma dívida de R$ 29,5 milhões com um terreno que mal valia R$ 3 milhões?

DANIEL SUCUPIRA — Foi um péssimo negócio. Até porque a dívida não era de R$ 29,5 milhões. A Agência Reguladora Estadual, e eu tenho cópia da CPI das Águas, da qual fui presidente, apresentava uma dívida que era menos da metade desse valor que foi propagado pelo prefeito.

minasreporter.com — Mesmo assim, ainda foi vantajoso para o Município, já que o imóvel valia R$ 3 milhões.

DANIEL SUCUPIRA — Mas, se você considerar que no contrato 846041 (de prestação de serviços da Copasa para com o Município) havia 12 (doze) cláusulas que não foram cumpridas em sua totalidade, na minha opinião não foi viável. Não é vendendo patrimônio público que se resolve problema de dívida.

minasreporter.com — Mesmo um terreno quase inútil como aquele?

DANIEL SUCUPIRA — É uma sequência. Era um terreno que, na sua opinião, pode ser inútil, mas que inviabilizou a vida dos agricultores familiares no CEASA. Por que aquela área não poderia ser usada para construir uma escola, como é o caso do Maria Amália, que nós tanto questionamos? Por que o Executivo não se preocupou em edificar ali um parque de obras e deixar o CEASA a serviço dos agricultores familiares, como era antes? O que existe é uma sequência de fatos e de atos que, na minha opinião, são equivocados. É claro que cada gestor tem sua maneira de atuar e de ver o mundo e suas transformações. A prefeita Maria José tinha um pensamento que eu achava interessante. Ela sempre dizia que a cabeça pensa de acordo com o lugar onde os pés pisam. Somente quem tem os pés na vivência, nas dificuldades e no sofrimento da população de Teófilo Otoni é que vai conseguir perceber realmente quais são as prioridades da nossa cidade.

minasreporter.com — Como Daniel Sucupira pretende não repetir o erro da prefeita Maria José que, por falta de nomes no grupo, precisou importar mão de obra de fora? E olha que parte dessa mão de obra acabou se revelando muito problemática.

DANIEL SUCUPIRA — Teófilo Otoni tem muita gente boa. Nós temos muitas pessoas prontas, qualificadas e com disposição para trabalhar por nossa cidade. Eu tenho um pensamento, uma convicção, que não faz sentido ganhar a Prefeitura a qualquer preço. Eu não sou profissional da política; tenho minha vida e minha trajetória profissional paralela à minha vida política, e assim eu farei enquanto disposição e vida tiver. Eu entendo que nós precisamos valorizar pessoas que estão ao nosso lado. A prefeitura municipal tem muitas pessoas qualificadas que nunca tiveram a oportunidade de ocupar um cargo de confiança. É como se a Prefeitura tivesse que trabalhar os cargos de confiança somente com pessoas de fora desprezando os servidores efetivos. E isso não pode ser verdade. Hoje, para você ter uma ideia, temos feito muito esforço, e cobrado muito, para que seja feito o concurso público, porque Teófilo Otoni tem uma quantidade enorme de funcionários contratados e comissionados, enquanto o funcionário que faz parte do quadro permanente da Prefeitura vê o seu salário desvalorizado e percebe que não há recomposição salarial, além de sofrer um conjunto de dificuldades que são denunciadas pelo Sindicato dos Servidores e demais colegas. Eu acho que temos que valorizar quem nós temos, pessoas boas, e não necessariamente seus títulos acadêmicos. Nós temos pessoas aqui de um potencial e de uma liderança que muitas vezes não tem a qualificação acadêmica necessária, mas tem uma vivência de mundo e o compromisso com a cidade, que habilita essas pessoas a ocuparem esses cargos. Há, como esses, cargos que requerem uma mão de obra com qualificação profissional e acadêmica mais elevada, mas nós temos grandes nomes que, infelizmente, estão sendo aproveitados em outros lugares porque o critério utilizado pelo atual prefeito não é um critério que respeite as qualidades individuais, mas sim um critério pautado no apadrinhamento político. Eu penso que um dos desafios que temos é esse: redirecionar os rumos da gestão de Teófilo Otoni. Mas tenho certeza de que, do mesmo jeito que esse processo de pré-candidatura vem acontecendo através do diálogo com as principais lideranças da cidade, a principal marca, caso nosso grupo chegue à Prefeitura, é fazer um mandato participativo, um mandato coletivo, um mandato popular. Esse é o exemplo que eu tenho dado com o mandato popular do vereador Daniel Sucupira, e, caso eleito prefeito, se esse for o desejo da população, nós teremos também um mandato popular à frente da Prefeitura Municipal de nosso querido município de Teófilo Otoni.

minasreporter.com — Quem seria um vice ideal para Daniel Sucupira?

DANIEL SUCUPIRA — Esta é uma boa pergunta (risos). O que eu tenho dito é que nós precisamos fortalecer um grupo de pessoas que queiram trabalhar por Teófilo Otoni. Um grupo de pessoas que não queiram fazer bico na Prefeitura Municipal. Um grupo de pessoas que entendam que a cidade precisa mudar uma página da sua história. Nesse sentido, o esforço que temos feito é conversar com diversas pessoas, diversos partidos e diversas lideranças. O pré-requisito para caminharmos rumo à construção de um processo que traga motivação e disposição para que eu possa fazer parte dessa disputa é realmente ter pessoas boas com as quais nós possamos contar. Pessoas que não queiram a Prefeitura para aumentar suas rendas e seu patrimônio. Estamos buscando por pessoas que visem servir à comunidade e ao município, e não se servir do município como a gente tem percebido na postura de algumas pessoas ligadas ao Executivo Municipal hoje.

Por David Ribeiro Jr.

David Ribeiro Jr. é editor-chefe do Portal minasreporter.com

E-mail: davidsanthar@hotmail.com



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