Por David Ribeiro Jr.
Este é um daqueles assuntos chatos dos quais eu preferia não escrever. Mas depois de tantos pedidos — pra não dizer ‘cobranças’ —, resignei-me a desenvolver um breve raciocínio sobre o tema. A gota d´água foi quando, ontem, na redação do minasreporter.com eu recebi a visita de um amigo que foi me anunciar as “novas”. Esse amigo me garantiu que o prefeito Getúlio Neiva, ao pedir aos secretários municipais que coloquem os seus cargos à disposição (leia mais aqui), tinha, na realidade, dois objetivos: 1. tentar compor com a base aliada de Pimentel. 2. afastar o PSDB do primeiro escalão da Prefeitura.
Esse mesmo interlocutor me disse que Getúlio Neiva teria ligado pessoalmente — sim, o próprio prefeito — convidando alguns nomes do PT para comporem com ele. Eu, evidentemente, disse que não acreditava. O meu interlocutor apresentou três nomes do PT e pediu que eu ligasse para eles para confirmar o convite. Sabem o que fiz? Liguei, claro!… só que não. Na verdade eu não liguei. Primeiro porque me recuso a acreditar nisto. Depois porque acho a estratégia um tiro no pé.
Vamos então analisar a situação. Vamos começar pelo final, o suposto convite de Getúlio para que nomes do PT componham com ele. É bem verdade que o general romano Júlio César (que é erroneamente chamado de imperador) cunhou a célebre frase: “quero os amigos perto, e os inimigos mais perto ainda”. Acontece que a frase de César foi dita no contexto de uma ditadura no Século I a.C. De lá para cá dois milênios se passaram e as coisas mudaram, digamos que… um pouco. Eu até entendo que o prefeito ligue para nomes como Ademir Camilo (PROS), que tente melhorar o relacionamento de sua Administração com Fabinho Liderança (PV) e Neilando Pimenta (PP), que até se aproxime do PT visando uma convivência harmônica, já que agora o PT está no governo do Estado… mas sair oferecendo cargos?! Não. Eu me recuso a acreditar que Getúlio, um homem de 72 anos, com mais de 40 de vida pública, tenha cometido tal equívoco.
Ninguém se senta numa mesa de negociação e vai logo oferecendo o maior trunfo que tem para barganhar. Nunca se oferece a um interlocutor, durante uma negociação, algo que ele ainda não pediu — mesmo que você saiba que ele vai acabar pedindo. Que ele peça! Que verbalize o seu pleito e a sua intenção. Só então você se debruça sobre a proposta para analisá-la, mesmo estando disposto a ceder (é claro que sempre deve se mostrar indignado antes de ceder). Isso se chama negociar. E ninguém chega onde Getúlio Neiva está sem o mínimo de domínio sobre esta arte, a arte da negociação.
Agora vamos analisar os dois motivos listados pelo meu interlocutor para Getúlio pedir que os secretários ponham os seus cargos à disposição. Primeiro é a intenção de se compor com o grupo de Fernando Pimentel. De fato, é preciso pelo menos conviver com a base do governador com o mínimo de civilidade. Mas dar cargos a essas pessoas na Prefeitura, ainda mais cargos de primeiro escalão, vai implicar em quê?… Em nada. Quando chegar à época da campanha, vão pedir afastamento dos cargos e vão trabalhar para o candidato que se lançar contra Getúlio. Eu, no lugar do prefeito (embora admita que não estou em condições de dar conselho), reforçaria a aliança com os seus deputados, e com nomes que detêm a simpatia da população, como é o caso de Edson Soares — que anda meio sumido do governo municipal, mesmo tendo ajudado a elegê-lo — e alguns outros.
Agora vamos analisar a suposta intenção do prefeito de se livrar do PSDB. Eu acredito que até essa boataria tem o propósito de fazer com que Getúlio acabe se estranhando mesmo com o partido para, adivinhem!, dividir a sua base de sustentação. E, convenhamos, Não é hora de rompimentos. É hora de coesão. É hora de buscar aglutinar (e Getúlio é famoso por gostar de pregar esta palavra). Então, não se pode dar uma banana para o partido mais forte no momento junto à opinião pública depois do PT. Sem falar que isso demonstraria apego pelo poder e nenhum espírito de governabilidade ou de apreço pela equipe. Ou seja: servia antes, quando o PSDB era governo no Estado, mas não serve mais agora. É claro que o Getúlio que eu conheço jamais se permitiria que sequer sombra de uma mácula dessa pousasse sobre o seu caráter e sobre a sua história de vida política.
E, por último, vamos ao óbvio: é claro que a dança das cadeiras entre os secretários municipais era mesmo inevitável. Eu mesmo escrevi dia desses que alguns secretários fazem um bem maior às suas secretarias quando estão ausentes do que quando batem o ponto (leia o texto aqui). Mas são casos isolados. São exceções e não a regra. Então, por que há tanta gente que insiste em culpar os secretários municipais pelos problemas do governo? Eu apresento três situações. Você não é obrigado a concordar comigo. Mas peço que pelo menos analise o que escrevo sem nenhum tipo de preconceito. Depois fique à vontade para concordar ou discordar dos meus argumentos, inclusive nos comentários abaixo do texto.
- O problema é conjuntural, e não localizado. Os secretários têm que entender que enfrentam problemas que são conjunturais. O problema da saúde é nacional. O da educação, idem. Da segurança pública, também… e assim sucessivamente. Então, como já preconizava James Hunter, o guru que é autor do célebre best-seller O Monge e o Executivo, é preciso que os secretários estejam ali para servirem, para trabalharem, e não apenas para sentarem atrás de uma mesa e darem ordens. Isso o próprio prefeito pode fazer sem precisar de secretário municipal.
- Os secretários têm que falar a língua do povo. Os serviços públicos no país estão uma m… ponto! Ninguém quer que os homens públicos se resignem. Mas ninguém quer, também, que eles finjam que o caos não está aí. Tem secretário que faz reunião com comunidades ou com segmentos e imposta a voz para falar de conquistas, quando a população está insatisfeita com quase tudo. Então, para de pensar que o povo é burro! Para de ficar fazendo discurso para comparar os avanços deste governo em relação ao governo passado. O fato de o governo passado não ter feito nada (apenas retoricamente falando) não quer dizer que a população vá soltar pistolão por cada pintura que é feita em escola ou posto de saúde. O povo quer solução concreta para problemas concretos. Entendeu? Ou é preciso desenhar?
- A Secretaria, seja ela qual for, é só uma unidade do todo, da Administração. Então, se houver alguma glória, é do prefeito, e não do secretário. Há secretários que quando estão em reunião insistem em personalizar as ações da sua secretaria como se fossem suas. Mas não são. Por melhores que sejam, são ações do governo, e, portanto, do prefeito. O secretário que tenta fazer promoção em cima de seu trabalho dá um tiro no pé. Sempre que um secretário usa o termo ‘eu fiz’ ele está passando uma imagem inconsciente de que não se considera parte do grupo. O certo é dizer “o governo do prefeito Getúlio Neiva fez”. Ou, na pior das hipóteses, “nós fizemos”. É por isso que o PT consegue fidelizar tanto as suas bases: porque consegue passar a ideia de grupo. Sem isso, o povo desconfia e não se envolve.
Bem, tendo dito tudo isto, não posso negar que temos excelentes secretários como Eliana Amaral, da Ação Social, que surpreendeu até quem já acreditava nela; Semir Rachid Said, de Obras, cujo trabalho técnico dispensa apresentações, e que sempre se insere como parte do grupo, e tantos outros que vou até parar de falar o nome para não cometer injustiças… mas que há, de fato, alguns nomes que não fazem a menor falta, convenhamos, há sim. Infelizmente!
………………………………………………………………………………………
Leia mais: