— Por David Ribeiro Jr. —
Nesta semana causou uma série de reações diferentes a reportagem publicada no Jornal Diário de Teófilo Otoni na qual a vereadora teófilo-otonense Vânia Resende (PTC) teria dito que tem uma cabeça de jegue enterrada nesta cidade.
Na verdade, vereadora, o problema nem chega a ser a cabeça de jegue que está enterrada. Eu, particularmente, me preocupo mais com outra cabeça — e não necessariamente de jegue.
Cá pra nós, eu até penso que deve mesmo haver, não uma, mas muitas cabeças de jegue enterradas cidade afora. Afinal, Teófilo Otoni já foi trilha de tropeiros no passado, e os jegues eram alguns dos animais preferidos dessa gente. Mas isso é fácil de resolver. Porém, como eu já disse, duvido que este seja o nosso problema. Embora seja bem verdade que, a exemplo do que disse o bardo (William Shakespeare), “há entre o céu e a terra muito mais do que a nossa vã filosofia é capaz de conceber”, ainda acho que as cabeças dos pobres animais não têm nada a ver com os nossos problemas.
Eu insisto que o nosso maior problema são outras cabeças. E, para não parecer um chato, deixe-me entrar logo no assunto. O nosso maior problema são as cabeças daqueles animais bípedes (que andam com duas pernas). E também não tenho nenhuma preocupação com as cabeças que estão enterradas. Tenho, sim, muito mais medo daquelas que estão por cima de pescoços envoltos em colarinhos bonitos e engomadinhos. De algumas dessas cabeças eu tenho medo… muito medo. Um verdadeiro pavor.
Eu admito que temo por aqueles que fingem ser o que não são; que prometem e não cumprem; que não levam a sério a própria palavra e que vivem colocando os outros em problemas complicados. Infelizmente, Teófilo Otoni ainda está cheia de cabeças bem atrasadas. Por mais que estejamos há dez anos vivendo a polarização da Educação Superior, muita gente vai à faculdade apenas para “tirar diploma” como se isso já fosse mais do que o suficiente. Não se preocupam em aprender, em interagir, em produzir saber e informação, e se tornar agente da construção dos novos tempos. Como resultado, temos alguns dos aluguéis mais caros de Minas Gerais, carros chiques em ruas apertadas e esburacadas, e um monte de bacanas que, de bacanas, só têm mesmo o rótulo.
O problema desta cidade é o sujeito que tem inveja das conquistas do irmão e conterrâneo. Isso mesmo… inveja. Entre as sociedades civilizadas, quando um membro da comunidade compra um carrão o outro diz assim: “Eu quero um igualzinho a esse pra mim”. Aqui, na terrinha, quando alguém compra um carro mais ou menos, o outro já torce para ele não dar conta de pagar as prestações, e coisa e tal, e diz assim: “Eu quero esse carro pra mim”.
E é claro que o carro aqui é apenas uma figura de linguagem. Pode muito bem ser um emprego, um cargo público, um título, uma casa, um novo empreendimento e até mesmo um cônjuge. Com tanto homem e tanta mulher sobrando por aí… batendo chieira, como diria um amigo meu… ainda tem gente tentando conquistar quem já tem dono. Tenha dó!
O problema desta cidade é aquela cabecinha que acha que empregado é escravo, que o prestador de serviço está pegando o boi por poder trabalhar para ele(a), e assim por diante. O triste de tudo isto é que algumas pessoas quando são simples (pobres) vivem criticando a atitude dessas cabeças. Mas, quando conseguem uma única oportunidade que seja, fazem questão de entrar no mesmo rol dos bípedes que se comportam como se, sobre seus pescoços, houvesse uma cabeça de jegue.
Assim, eu parabenizo a vereadora Vânia Resende por ter a coragem de dizer algumas coisas que precisam ser ditas, e convido você que me lê agora para refletir a respeito deste assunto. Você acabará por concordar comigo que, de fato, o problema não são as cabeças de jegue que estão enterradas aos montões por aí. O problema são as cabeças de jegue que estão à solta e sobre os pescoços desses bípedes asininos.