Por David Ribeiro Jr.
Se você não entendeu muito bem o título deste texto, não se preocupe. Isso só prova que você é uma pessoa normal. O que não é normal, convenhamos, é a pauta aloprada que ditou os rumos dos protestos convocados pelo PT país afora nesta quinta-feira (20/08). Como explicar que o partido da presidenta convoque uma manifestação para defender a presidenta e, ao mesmo tempo, protestar contra o governo da… presidenta.
Como assim?
Boa pergunta: “como assim?” Eu vou tentar explicar minimamente: as manifestações ocorridas nesta quinta-feira Brasil afora organizadas pela CUT, pela UNE, pelo MST, MTST e outras siglas mais, foi na verdade, um movimento pensado pelo PT — já que todos esses órgãos são inegavelmente braços do PT — para defender o Governo Dilma. O problema é que, para não dar muito na cara, a organização petista (o nome do partido nem era anunciado como organizador e realizador das manifestações), anunciou-se que o protesto seria contra o ajuste fiscal e outras medidas adotadas pelo Governo que ferem direitos do trabalhador.
Algum metido a intelectual de meia-tigela pode até dizer cretinamente que dá, sim, para defender uma coisa e protestar contra a outra, que não são, necessariamente, excludentes. Mas isso é só mais uma cretinice. É claro que as duas coisas são excludentes. Não dá para você pedir a permanência de Dilma e protestar contra ela e contra o que, neste momento, é o que define o seu governo. É como se eu protestasse contra a forma de dirigir de um motorista de ônibus, mas defendesse a sua permanência na empresa de ônibus… Entenderam? Não. Pois é. Foi exatamente o que ocorreu nesta quinta-feira. É claro que a articulação petista aproveitou para incluir em meio aos protestos um rotundo “fora Cunha”, referindo-se ao presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, que hoje é o político que mais ameaça alavancar o impeachment de Dilma. Mas o resto foi só uma confusão difícil de explicar, e ainda mais difícil de entender. Quer um exemplo? Observe a foto abaixo publicada no portal MSN:
Veja que coisa engraçada: um banner, à direita, pede o #ficadilma. A faixa à esquerda defende, na mesma manifestação de protesto, a Petrobras, a empresa que foi assaltada pelo governo Dilma, e que, dois dias antes da manifestação, viu sendo anunciada a venda (privatização) de 10% do seu patrimônio para cobrir o rombo da corrupção do governo Dilma na empresa. Deu para entender? Não, né. É complicado mesmo. As faixas protestam contra os desmandos de Dilma na Petrobras, mas pedem o #ficadilma. Que confusão! Um estrangeiro que chegasse aqui hoje e visse uma coisa dessa não entenderia nada. Nós, também não.
E, antes que alguém deturpe as minhas palavras: não estou questionando a legitimidade das manifestações. São tão legítimas as manifestações desta quinta-feira quanto foram as manifestações de domingo, que tinham dez vezes mais pessoas participando, mas pedindo “fora Dilma!” de forma clara e objetiva. Legítima a manifestação desta quinta-feira até que era. Convenhamos que só não tinha muita lógica ao defender um governo e protestar contra o mesmo governo. Mas aí já é querer demais do PT, né?!