Teófilo Otoni: aqui a apatia política supera o medo… e até a esperança

Teófilo Otoni: aqui a apatia política supera o medo… e até a esperança

Por David Ribeiro Jr.

O nosso ex-prefeito e ex-deputado federal Luiz Leal costumava dizer (ou costuma dizer) que “Teófilo Otoni não é uma cidade melhor nem pior do que qualquer outra. É apenas diferente”. E é verdade. Teófilo Otoni é uma cidade muito diferente de todas as outras que eu conheço. E uma das maiores diferenças, pelo menos em minha opinião, é que aqui existe uma apatia política tão grande que a população simplesmente perdeu a esperança e a fé em nossa classe política, indiferentemente da orientação, se de direita, de esquerda, de centro… dos nomes que se apresentam no processo.

Se você que me lê agora visitar o vizinho município de Setubinha, encontrará uma cidade que amarga um dos piores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) de Minas Gerais e do Brasil. Mesmo assim, a população tem fé de que sua vida vai melhorar. Quem gosta do atual prefeito de lá diz que o rapaz tem feito tudo o que pode para ajudar a cidade a melhorar. Quem não gosta dele, diz que a Administração é ruim, mas insiste em afirmar que no próximo pleito alguém da oposição ganhará e corrigirá os rumos da cidade, e que Setubinha vai crescer muito.

Saindo de um extremo a outro, pensemos um pouco em Governador Valadares, a aproximadamente 140 km de Teófilo Otoni. Lá em Governador Valadares encontraremos uma situação bem parecida com a de Setubinha. Quem aprova o trabalho da atual prefeita vai elogiá-la e dizer que a mulher está fazendo tudo o que pode. Por sua vez, quem não gosta dela afirma que é só uma questão de tempo até que nas eleições do ano que vem um nome melhor assuma a Prefeitura e ajude Valadares a crescer.

Percebeu como em um caso e outro, apesar das enormes diferenças sociais dos dois municípios, a população pensa mais ou menos de forma parecida. E, antes que alguém pense que estou a criticar — ou a elogiar — a administração de uma cidade ou de outra, não estou. Usei os dois exemplos apenas como parte da retórica para ilustrar o meu raciocínio. O que quis dizer é que nestes dois lugares, bem como em quase todos os outros em que você pensar, a política ainda desperta paixões. Em alguns municípios aqui bem perto de nós ainda há rixas memoráveis, como a cidade que se divide entre os apoiadores do “pé sujo” e os do “pé chato”. A questão a se levar em conta é que em todos esses lugares ainda existe uma coisa sem a qual o ser humano não consegue viver: ESPERANÇA.

Pois é. A esperança é o maior e mais eficiente combustível para alavancar o desenvolvimento de um povo. Quem não se lembra de 2002, quando o PT, liderado por Lula, celebrizou a frase “a esperança vai vencer o medo” e, depois da eleição, alternou-a para “a esperança venceu o medo”. A frase petista deixava bem claro que o medo é o maior de todos os inimigos do sucesso político. Enquanto tivermos medo, não avançaremos, não seguiremos em frente nem faremos nada para o nosso progresso e desenvolvimento. Mas aí vem a esperança, que é uma força maior do que o medo, e traz dias melhores para todos nós…

Todos nós, vírgula.

Aqui em Teófilo Otoni nós temos uma situação completamente diferente. Aqui o nosso problema não é o medo. Há muito que superamos o medo e, com um mínimo de esperança, tentamos seguir em frente. Aqui, minha gente, o nosso problema é a apatia política que tomou conta da população. As pessoas não querem mais saber de política, e não é porque a política, hoje em dia, está associada com desonestidade como ocorre lá em Brasília. Aqui as pessoas não querem saber de política porque perderam completamente a fé e a esperança em nossos políticos, todos eles, e não acreditam mais que esses caras possam oferecer respostas aos anseios populares. Enquanto em Setubinha e em Governador Valadares as pessoas afirmam que “está bom”, ou que “está ruim, mas vai melhorar”, aqui as pessoas dizem que “bom não está, mas pior pode ficar, sim”.

Está na hora dos nossos políticos pensarem um pouco mais a respeito. Está na hora da nossa classe política sair do encastelamento dos seus gabinetes e ir para as ruas conversar com as pessoas, ouvir os anseios e as propostas de gente comum, de gente que realmente conhece o cotidiano da comunidade.

Infelizmente, a classe política perdeu o feeling da realidade. E sabe por quê? Porque a classe política está sempre no poder. Por exemplo: o PT perdeu as eleições municipais em 2012. Mas agora que ganhou as eleições estaduais, vai abrigar seus principais nomes em cargos do Estado. Antes do PT isso já havia acontecido, também, com outros nomes como Getúlio Neiva e Edson Soares. Essas pessoas nunca ficam na mão. Mesmo quando perdem as eleições, há sempre algum tipo de prêmio de consolação. E a população, que é de fato quem perde, fica sem esperança e completamente apática diante de uma realidade assim tão dura — até porque não há prêmio de consolação para a população quando o pior candidato vence.

Sim. Está ruim! Mas sim… também pode ficar pior. Em momentos assim eu me lembro de uma frase que aprendi quando era criança e, vindo da Taquara para estudar, pegava carona no caminhão de Zé Grampão, que trazia leite para a cooperativa. A frase era a seguinte: “se correr, o leite derrama. Se parar, o leite azeda!”

Como não consegue mais distinguir qual é o melhor caminho para si mesma, ou pelo menos qual é o caminho menos ruim, a população acaba votando em qualquer um. Ou pior: acaba não votando em ninguém, deixando assim o pior vencer.

Misericórdia!

Por David Ribeiro Jr.

David Ribeiro Jr. é editor-chefe do Portal minasreporter.com

E-mail: davidsanthar@hotmail.com



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