Por David Ribeiro Jr.
TEÓFILO OTONI
Eu bem que tentei ficar longe desta polêmica. Tentei mesmo. Mas admito que não consegui. Acabei cedendo ao apelo da consciência e aqui estou para expor a minha opinião sobre o assunto. E que fique claro que é apenas isso: uma opinião. Ninguém me pediu para escrever a este respeito. Eu é que tomei esta decisão com base no que penso ser um verdadeiro atentado que está sendo tramado às instituições democráticas e à lógica do capitalismo em nossa cidade. Mas é claro, também, que ninguém é obrigado a concordar com a minha opinião. Todos são livres para discordar.
Deixe-me ser ainda mais claro. Adiante!
Nas últimas semanas, desde que a Viação Vale do Mucury anunciou no final do ano passado um aumento no preço da passagem dos seus ônibus coletivos urbanos, um verdadeiro blábláblá tomou conta das redes sociais, principalmente das redes de compartilhamento de mensagens rápidas, como é o caso do whatsapp. Foi até ensaiada uma convocação para protestos e manifestações nas ruas, o que só não ocorreu porque os tais promotores não conseguiram a confirmação de participantes e, temendo um fiasco, recuaram. Burros, definitivamente eles não são. Em compensação pelo protesto não ocorrido, as redes foram tomadas por comentários, ideias e vídeos dessas pessoas opinando e criticando o aumento da tarifa, bem como qualquer tipo de cobrança por parte da empresa. Querem uma tal de tarifa zero… como se isso fosse possível aqui na terrinha!
Pois bem: eu, David Ribeiro Jr. estou afirmando aqui neste espaço com todas as letras que hoje não temos nenhuma condição em Teófilo Otoni para essa utopia chamada tarifa zero. Que a ideia é boa? É, claro! Eu, mesmo, como usuário do serviço, seria o primeiro a querer passear por aí de graça, afinal, de graça até injeção na testa é boa. Mas pergunto: como não existe almoço grátis, e não existe mesmo — já que alguém sempre tem que pagar a conta —, quem é que arcaria com essa despesa?
Aí é que está. Vamos fazer algumas ponderações aqui: atualmente, e isso é um fato, já há um número bastante reduzido de pessoas pobres que pagam passagens de ônibus em Teófilo Otoni.
O quê? Que loucura é essa?
Acontece que a afirmação acima não é nenhuma loucura. É um fato, e eu provo. Preste bem atenção ao seguinte: em função do aumento da renda do cidadão com o plano real, e a conseguinte capacidade que as pessoas passaram a ter de comprar carros e motos, fazer uso mais frequente dos serviços de um táxi ou mototáxi, sem falar no elevadíssimo número dos mototaxistas clandestinos, a empresa Viação Vale do Mucury tem hoje menos da metade do volume de passageiros que tinha nos anos noventa. E, desses, poucos são os que pagam realmente passagem. Os estudantes têm direito a pagar apenas a metade do valor de seu transporte; os estudantes da zona rural têm todo o transporte subsidiado; os idosos e pessoas com algum tipo de deficiência ou necessidades especiais têm direito à gratuidade plena e absoluta; os operários e trabalhadores do comércio têm sua passagem paga quase que integralmente pelas empresas onde trabalham. As empresas oferecem o vale-transporte integral e só podem descontar até 6% do salário do funcionário (cerca de R$ 52,00 no caso de quem ganha salário mínimo) enquanto o custo total da sua passagem supera os R$ 280,00.
Viu só?… É por isso que não é comum ver pobre de verdade reclamando da gestão dos negócios da Viação Vale do Mucury ou do aumento das passagens. O pobre pode até reclamar de eventuais atrasos numa linha ou outra, do número de passageiros no horário de pico e outras coisas neste sentido. Quem reclama do preço da passagem, ou defende a tal tarifa zero, na maior parte das vezes é gente que sequer usa os serviços da empresa. O protesto dessa gente nada mais é do que inveja pura e simples por ver os donos da Viação à frente de um projeto dessa magnitude enquanto que esses nossos comunistas enrustidos, que são contra o sucesso alheio, se contorcem por não terem competência nem mesmo para administrar um boteco.
Outro perigo é que muita gente bacana tem feito da defesa da tal tarifa zero um discurso populista para se projetar politicamente diante de gente inculta. Eu acho isso um tiro no pé porque, como já deixei claro, a maior parte das pessoas pobres já tem a sua passagem subsidiada. Sendo assim, esse discurso já não cola com o público-alvo pretendido.
Agora pensemos bem: e se essas pessoas que pregam isso realmente chegarem ao poder? Como elas agirão quando não honrarem o compromisso que assumiram com a população? E não se engane: hoje é impossível arcar com essa tal tarifa zero. A Prefeitura não tem dinheiro para nada. O Estado e a União não vão se envolver nessa maluquice; as empresas já não aguentam mais tantos impostos e tantos dispositivos que encarecem a nossa mão de obra…
Continuo querendo saber: quem vai pagar por isso? E eu mesmo respondo: ninguém. Não porque o dinheiro para tal proposta vá se materializar do nada… não vai. O que ocorre é que isso, a tal tarifa zero, não vai acontecer, mesmo que as pessoas que a prometem chegarem ao poder. Esse discurso é só má-fé de quem não consegue se projetar politicamente e resolve partir para a apelação prometendo o que não pode cumprir… Convenhamos que já vimos isso antes e não deu nada certo.
Há pouco tempo tivemos um “governo” que tentou usar a estrutura da Prefeitura para, literalmente, quebrar a Viação Vale do Mucury, mas apenas para tentar colocar outra empresa em seu lugar, uma empresa que conseguissem dominar e na qual pudessem mandar… Mais ou menos como fizeram da Petrobras em nível nacional.
Concluindo! Opor-se, criticar ou protestar contra a Viação Vale do Mucury é um direito constitucional do cidadão brasileiro. E direito é direito. Mas quem protesta tem que apresentar uma alternativa ao que protesta. Do contrário, será como opor-se, por exemplo, à Copasa ou à Cemig. A vida da gente é ruim com essas empresas? É, muito. Mas será muito pior sem elas. E não se trata de defender aqui o pensamento de “é melhor pouco do que nada”. Não é nada disso. O que defendo é que precisamos aprender a votar em bons gestores que não transformem as empresas públicas em cabide de emprego e em máquinas políticas — e isso elas não são… ou não deveria ser.
Será que essa realidade algum dia vai mudar?
Saiba que pode mudar, sim. Só depende de o cidadão saber votar.
Quem viver, verá!