“Nosso sonho é aposentar o caminhão-pipa”. É dessa forma, com muito otimismo, que a recém-empossada secretária de Estado do Desenvolvimento e Integração do Norte e Nordeste de Minas (Sedinor), Juliana Veríssimo Pacheco, olha para o problema da seca que aflige as regiões Norte e Nordeste do Estado.
Atualmente, Minas conta com 96 cidades que decretaram situação de emergência por causa da estiagem, apesar de o período chuvoso, que se estende de outubro a março, ter acabado há pouquíssimo tempo. Ou seja, o quadro já é grave mesmo antes de a época da seca mais severa começar.
A situação vem se agravando ao longo dos últimos cinco anos. Em 2015, por exemplo, a cidade de Taiobeiras, no Norte de Minas, chegou a ficar completamente sem água. A sede do município precisou ser atendida com caminhões-pipa. Os 50 veículos utilizados eram abastecidos em Salinas, a 50 quilômetros de distância, pois nenhum açude da região possuía água.
“Os municípios já estão com falta de água mesmo. O período de chuva foi muito curto. Ele amenizou o problema, mas a situação ainda é grave, principalmente na zona rural”, explica a secretária.
Além de comprometer o abastecimento, a falta de chuvas significativas gera prejuízos para os agricultores da região. Na pequena cidade de Glaucilândia, as lavouras de milho e feijão foram devastadas pela estiagem.
Segundo o especialista em Agropecuária da Emater Jair Dantas Cangussu, 95% das roças de feijão e 80% da safra de milho foram perdidas. O prejuízo só não foi total porque choveu um pouco em janeiro na região.
“A situação dos córregos é terrível, todos já secaram. A preocupação agora é faltar pasto. Como a chuva ficou concentrada em janeiro, a expectativa é a de que o produtor terá que desembolsar recursos para comprar ração e suplemento para complementar a alimentação dos animais, o que representa um custo muito alto”, lamentou Cangussu.
Sem chuvas
E a tendência é de agravamento da situação na região, pois não há expectativa de chuvas até o final de setembro, quando, teoricamente, termina a época da seca.
“Durante o período chuvoso deste ano apenas algumas regiões, como o Triângulo, Sul e Zona da Mata, se aproximaram da média histórica. Além disso, nos anos anteriores foi muito ruim, ficando abaixo do esperado e prejudicando os reservatórios”, informou Adelmo Antônio Correia, do Sistema de Meteorologia e Recursos Hídricos de Minas Gerais (Simge), ligado ao Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam).
No ano passado, segundo Juliana Pacheco, foram mapeados 129 municípios das regiões para receber recursos do governo do Estado no combate aos efeitos da seca.
Foram contratados 482 poços artesianos, fazendo uma média de cinco poços por cada cidade. Existem, atualmente, 214 construídos e ordem de serviço para outros 268.
Características exigem ações mais efetivas, diz secretária
A região Norte de Minas possui uma predominância do clima semiárido, como o presente em grandes extensões do Nordeste brasileiro, constantemente assolado pela seca. Ou seja, o quadro da região hoje não é ocasional, é constante. Isso, na avaliação de Juliana Veríssimo Pacheco, exige um plano efetivo de enfrentamento e não apenas ações emergenciais.
“A seca não é uma questão esporádica. É preciso que façamos um plano constante de enfrentamento e convivência com a seca e não uma série de medidas emergenciais quando a situação já é calamitosa”, ressalta.
Em dezembro do ano passado, o governo de Minas anunciou um plano emergencial de combate à seca, disponibilizando R$ 33 milhões para a Sedinor, para atender 69,3 mil famílias em 2.830 comunidades rurais.
Mas o impacto nas comunidades afetadas é muito forte. Segundo Jair Cangussu, muitos ainda resistem nas pequenas cidades e áreas rurais da região, no entanto, a migração acaba sendo inevitável.
Jair afirma que “mesmo com programas de apoio, a tendência é o deslocamento das populações e o êxodo em busca de trabalho e melhores condições de vida”.
Além disso, a demanda que há por trabalhadores na região muitas vezes não é suprida pela falta de profissionais para ocupar os já parcos postos de trabalho. “Estamos passando por uma fase complicada no país, tanto do ponto de vista econômico como político. Essa é uma região de produtores muito sofridos pela seca. Eles até acreditam que a vida vai melhorar, mas infelizmente o clima não está ajudando”, completa Jair.
Segundo a Emater, há um programa, o Garantia Safra, que atenderá a 81 agricultores da região de Glaucilândia, com depósitos em dinheiro para garantir as perdas da safra destruída pela falta de água.
(Hoje em Dia)