Marcelo Eduardo Freitas foi convidado pelo deputado estadual Paulo Guedes, do PT, a se candidatar pelo partido como prefeito da cidade, além de assumir uma secretaria.
O delegado chefe da Polícia Federal (PF) em Montes Claros, Marcelo Eduardo Freitas, virou alvo de polêmica nesta terça-feira, nas conversas políticas na cidade e também nas redes sociais. Ele, que é o terceiro colocado na votação para formação da lista tríplice para diretor-geral da PF a ser entregue como sugestão ao presidente interino Michel Temer e ao ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, foi convidado pelo deputado estadual Paulo Guedes (PT), a se candidatar pelo PT como prefeito da cidade, além de ter recebido o convite para assumir uma secretaria no governo estadual. O delegado recusou ambos os convites. Mesmo assim, o fato ganhou repercussão.
O encontro com o petista, realizado na noite de segunda-feira, ganhou ampla divulgação, após ser explorado por pessoas ligadas ao prefeito afastado Ruy Muniz, que cumpre prisão domiciliar. Por decisão da Justiça Federal, Muniz foi preso em 18 de abril, pela suspeita de prejudicar o funcionamento de hospitais da cidade conveniados pelo SUS para favorecer unidade hospitalar da rede educacional de propriedade da família dele. Ele também foi acusado de ameaçar de morte testemunhas do processo de investigações feitas pela PF e pelo Ministério Público Federal. As investigações foram chefiadas por Freitas, que também foi o delegado responsável pela prisão do prefeito afastado, feita em Brasília (DF), um dia após a mulher dele, a deputada federal Raquel Muniz (PSD), ter votado a favor do impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff e ter citado o marido como exemplo para o país.
Por outro lado, Paulo Guedes, que é adversário de Muniz, foi um dos alvos na Operação Curinga, também de alçada da delegacia chefiada por Freitas, que investigou crime eleitoral na campanha de 2014 e esquema de fraudes contra a previdência social em Monte Azul. Além disso, os correligionários de Muniz e militantes anti-PT também usaram as redes sociais para divulgar que que Guedes também estaria sendo investigado na Operação Anacrônico, após delação premiada do empresário Benedito Oliveira, o Bené.
Ao tomarem conhecimento da reunião entre Marcelo Freitas e Paulo Guedes, pessoas ligadas diretamente a Ruy Muniz se reuniram em frente ao local do encontro, o apartamento do empresário Arnaldo Mendes Teixeira, ex-diretor regional do Instituto do Desenvolvimento do Norte e Nordeste de Minas (Idene), no bairro Augusta Mota. O grupo fez “vigília” no local e gravou vídeos, que mais tarde foram postados em redes sociais. Nas gravações é possível ver Guedes e Freitas deixando o local em horários distintos, o primeiro durante a madrugada e o segundo na manhã desta terça-feira.
A reportagem não conseguiu falar com Marcelo Freitas. Em nota divulgada nas redes sociais, ele informa que “em reunião realizada na noite da última terça-feira”, recebeu convite para assumir a secretária de Estado de Desenvolvimento e Integração do Norte e Nordeste de Minas Gerais – Sedinor – e que também foi convidado a “se candidatar a prefeito de Montes Claros pelo Partido dos Trabalhadores”, mas recusou os convites, “já que o trabalho desenvolvido atualmente é incompatível, neste momento, com pretensões de natureza partidária”. Também lembra que chamou a atenção o fato de o prefeito afastado Ruy Muniz “recrutar uma tropa de choque” para seguir os seus passos.
Ouvido pelo Estado de Minas na noite desta terça-feira, o deputado Paulo Guedes assumiu o encontro com o delegado da PF. “Nós sentamos para comer um frango (caipira) na casa do Arnaldo”, disse. Ele também confirmou que convidou Marcelo Freitas para assumir a Secretaria do Desenvolvimento do Norte e Nordeste de Minas, que era chefiada pelo próprio parlamentar petista. O deputado revelou que também fez convite a Marcelo Freitas para ser candidato a prefeito pelo PT ou por algum partido aliado dos petistas. “Mas, ele disse que, no momento não tem interesse em entrar na disputa eleitoral”, afirmou Paulo Guedes. Pelas regras da Justiça Eleitoral, por ser policial, Freitas pode se filiar até 2 de julho.
‘Intocáveis’
Em mensagem postada em uma rede social, o delegado Marcelo Eduardo Freitas agradece a votação dos colegas que garantiu a sua inclusão na lista tríplice com sugestão para a escolha do diretor-geral. “ Figurar na lista (tríplice), estando no interior do norte de Minas Gerais, é motivo de muito orgulho. Fruto de um trabalho que certamente incomoda a muitos que se consideravam intocáveis”, afirma Freitas. Ele completa: “A PF precisa ser fortalecida. A escolha de seu diretor, por intermédio da lista tríplice, para mandato fixo, é um caminho sem volta, evidenciando que a Polícia Federal é uma instituição republicana que não pode parar jamais”.
(Estado de Minas)