Por Janaína Oliveira | Hoje em Dia
Homem forte por trás da operação “Carne Fraca”, desencadeada de forma rocambolesca pela Polícia Federal na última sexta-feira, o delegado da PF Maurício Moscardi Grillo acumula polêmicas no currículo.
Coordenador daquela que foi chamada de a “maior operação da história da PF”, recebeu inúmeras críticas pela divulgação considerada desastrosa, com informações generalizadas sobre os frigoríficos investigados, o que causou o fechamento de mercados internacionais, prejuízos para o setor e pânico na população.
Mas esse foi apenas o mais recente capítulo na trajetória do delegado. Moscardi Grillo foi reprovado em avaliação psicotécnica relativa ao concurso para o cargo de delegado da Polícia Federal (veja fac-símile). Para tomar posse, ele, que já era agente da PF, entrou com mandado de segurança.
Em 2011, a Justiça Federal considerou que ele teria direito à certidão com a pontuação necessária para cada cargo no exame psicológico, já que queria apenas respaldar sua tese de que, tendo sido aprovado no exame psicotécnico para agente, função que já ocupava, seria contraditória a reprovação para o cargo de delegado.
Sua primeira missão foi no Acre. Lá, em 2013, indiciou e prendeu 15 pessoas na operação G7, acusando empresários, funcionários públicos e secretários de Estado de formação de cartel e fraudes milionárias em licitação na construção de casas populares. Um sobrinho do então governador do Acre, Tião Viana (PT), chegou a ser detido. Porém, em janeiro de 2017, a Justiça Federal do Acre absolveu todos os acusados.
“Lava Jato”
Transferido do Acre, Moscardi Grillo chegou a Curitiba em 2014. Já como integrante da Força Tarefa da “Lava Jato”, em setembro de 2016, tirou o ex-ministro Guido Mantega do hospital onde acompanhava a esposa acometida por câncer para prendê-lo.
Depois, em janeiro deste ano, concedeu entrevista à seção Páginas Amarelas da revista “Veja” para dizer que a PF tinha perdido o “timing” para prender o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). As declarações repercutiram muito mal entre os membros do Ministério Público.
Para muitos colegas de profissão, Moscardi Grillo é considerado um homem vaidoso, que gosta de holofotes. E teve todos voltados para ele na última sexta-feira, na coletiva em que denunciou o esquema que envolvia a atuação ilegal de frigoríficos e funcionários do Ministério da Agricultura. Foi criticado pelo governo e entidades por ter dito que à mesa do consumidor chegam produtos impróprios, inclusive podres, sem mencionar quais empresas adotaram essa prática.
“Maurício Moscardi não tem a menor condição de ser apresentado como coordenador de qualquer operação. Seu tempo na PF por si só já justifica sua inexperiência para tratar de assuntos delicados como o eventual abalo econômico advindo de uma grande operação como a Carne Fraca”, disse, em coletiva sobre o episódio, o presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), Luís Bourdens.
A assessoria de imprensa da sede da Polícia Federal foi procurada por e-mail e telefone. Foi pedido um posicionamento da PF e do próprio delegado Moscardi Grillo. No entanto, não houve resposta até o fechamento da edição do Jornal Hoje em Dia em que esta reportagem foi publicada.