Embora os indicadores econômicos mostrem uma retomada gradual da economia, os brasileiros ainda não sentiram grande diferença no bolso. Neste final de ano, os consumidores se empenham em pesquisas de preço e o amigo oculto vira uma saída para reduzir os gastos com presentes no Natal.
Na família da aposentada Anaeli da Costa, 62 anos, a brincadeira já virou tradição. “Como sempre, a gente não dá presente. Se der para comprar alguma lembrancinha, a gente compra, senão, só participa mesmo das festas e do amigo oculto, que a gente faz todo ano”, diz.
Nesta semana, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). De janeiro a novembro, o índice registrou um acumulado de 2,5%, o menor resultado nos primeiros 11 meses desde 1998, quando a taxa ficou em 1,32%.
“Mas ainda não vimos nenhuma melhora. Os preços não estão diminuindo. O preço acompanha a gasolina, se a gasolina sobe todo dia, os preços também vão subir, porque o nosso transporte é todo terrestre”, diz Anaeli.
A insegurança faz com que a dona de casa Maísa Flores, 50 anos, invista mais nas pesquisas de preço. “A gente não sabe o que vai acontecer, o desemprego é grande demais, as coisas estão caras demais, você precisa pesquisar e andar muito, senão não compra. É diferente dos outros anos, que você podia comprar porque sabia que lá na frente ia ter um retorno”, diz. “Vamos esperar para ver o que vai acontecer, meter os pés pelas mãos realmente não dá. As contas e as dívidas não param”, diz.
“Depois dessa crise toda, lógico que todo mundo dá uma pisadinha no freio. Mas o Natal é sempre uma data que as pessoas se abrem mais”, diz o empresário Antônio Carlos Navarro, 65 anos. “Ainda estamos segurando [os gastos]. Até porque, no meu caso, que estou no setor privado, trabalhando com gestão de empresas, fica mais complexo, não é a mesma coisa de ter salário fixo. O nosso salário oscila muito, ninguém conta com o futuro por enquanto”.
Comércio segura o preço
Mesmo com os consumidores receosos, o comércio está otimista. Após dois anos de queda, a expectativa é que 2017 tenha um aumento nas vendas de 5,2% em relação ao ano passado, a maior variação desde 2013, de acordo com a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Ao todo, o Natal deverá movimentar R$ 34,9 bilhões.
Para estimular as compras, os vendedores têm feito o possível para não repassar os custos para os consumidores. “Não repassamos os impostos para os clientes. O preço está mais acessível do que estava em 2014. Queremos ver se as pessoas compram mais, se animam”, diz o vendedor Diego Batista, 32 anos, da loja Emily Calçados, na Feira do Guará, a cerca de 9 Km do centro de Brasília.
A feirante Kátia Yamamaru, 48 anos, vende frutas e verduras também na Feira do Guará e está fazendo esforços para não aumentar os preços. “Parte dos produtos vêm de São Paulo. O frete subiu bastante, pagamos imposto para sair do Distrito Federal e para entrar. Ou repassamos alguma coisa, ou não conseguimos trabalhar. Mas estamos segurando uma parte, se for repassar tudo, eu perco os clientes”, diz.
Segundo o professor de Finanças da Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas IBMEC-DF Marcos Melo, provavelmente este Natal será melhor que o do ano passado. “Acredito que deverá haver mais contratação de vaga temporária, aumento da massa de renda, mas nada extraordinário. De modo geral devemos ter um pouco mais de esperança para a população, porque está melhorando, mas não é de forma rápida, ainda é preciso ter cautela”, diz.
A dica de Melo para as compras é pesquisar preços e controlar os gastos. “Vamos ter que gastar, porque isso emprega as pessoas. Mas não pode ser desmedidamente, tem que ter controle, buscar artigos mais baratos, investir mais em amigos ocultos do que em presentes para a familia toda. Os gastos farão também a economia girar”, explica.
(Agência Brasil)