Os carros autônomos são apontados como uma das maiores invenções do século. Contudo, por mais que sempre surjam novas notícias dando a impressão de que estamos quase lá e que eles já rodam em algum lugar, ainda não vemos grandes avanços no dia-a-dia. Resolvi explicar um pouco mais sobre o que está acontecendo.
O que estamos desenvolvendo?
São necessários três grandes desenvolvimentos para os veículos autônomos:
- Percepção: Os veículos conseguem perceber o que está ao seu redor;
- Predição: Os veículos conseguem prever como o que está ao seu redor (percepção) irá se alterar;
- Modo de condução: Os veículos conseguem seguir um conjunto pré-estabelecido de regras para se locomover de maneira segura.
Após receber as imagens, softwares embarcados utilizam técnicas de visão computacional para reconhecer o que aquelas imagens realmente querem dizer, matemática semelhante às que a Cobli está testando para ler fotos de bombas de combustível. Em ambos os casos, para o reconhecimento funcionar bem, é necessário um grande volume de dados catalogados para treinar os algoritmos de inteligência artificial por trás do sistema. Startups como a Mighty AI já contam com bancos de dados superior à 300.000 imagens. Como curiosidade, utilizam inclusive imagens de jogos e simuladores de alta fidelidade, como Grand Theft Auto (GTA), para treinar esses modelos.
Conforme mais e mais veículos dotados de sensores de alta precisão passam pelas mesmas situações e compartilham suas “experiências” o aprendizado vai ficando mais fácil e os resultados melhores. Isso é atualmente nomeado como aprendizado de frotas ou fleet learning.
Predição
Focando nos cenários sem neve, em que o LIDAR funciona melhor, ainda encontramos muitos problemas para o funcionamento 100% autônomo. Atualmente, sempre que o software encontra um problema em que não tem confiança na resposta, acontece o chamado “desengajamento”, onde a máquina passa a condução para um engenheiro de segurança. O gráfico abaixo mostra um resumo atual de como os principais players estão performando.
Como a maior parte do desenvolvimento de softwares modernos, os veículos autônomos operam em fases e lançamentos incrementais. Em geral, são divididos em 5 fases:
- Nível 1: Assistência básica ao condutor, “piloto automático” ou alertas de direção agressiva são exemplos que já vemos no dia- a-dia. Apenas os dados do veículo em si são analisados neste nível;
- Nível 2: O veículo já tem habilidade para começar a reagir ao ambiente. Manter-se dentro da faixa é um dos melhores exemplos. Neste nível, é necessária total atenção de um motorista qualificado a todo momento;
- Nível 3: Conhecido como “Assistência condicional”, é um nível em que em algumas situações o veículo já é capaz de se dirigir sozinho. A atenção do motorista ainda é crítica, mas em condições mais controladas o veículo possui grande autonomia;
- Nível 4: Alta autonomia em cenários específicos. Neste nível os veículos serão capazes de operar normalmente em regiões e situações específicas de curvas, acelerações ou frenagens. Daqui em diante o motorista não precisará mais ficar em estado de total atenção. Google e Uber pretendem ir diretamente para este nível, pois acreditam que níveis com muita necessidade de supervisão são mais perigosos. Exemplo disso é o motorista do Tesla Model S, nível 2, que morreu após não conseguir reagir a tempo aos alertas de seu veículo e tomar controle.
- Nível 5: Autonomia total. Este é o objetivo final. Aqui não é necessário um volante ou pedais. O veículo faz tudo sozinho. Sempre.
Expectativas do futuro
Os veículos autônomos terão um custo por quilômetro mais barato do que os atuais, o que claramente é uma das grandes forças que impulsionam o seu desenvolvimento. Estima-se que a segurança será muito maior, na casa de 1% dos acidentes do que os humanos geram. A Waymo, por exemplo, já dirigiu mais de 6 milhões de quilômetros e os únicos acidentes que ocorreram foram por culpa de motoristas em outros veículos.
No gráfico abaixo, há uma estimativa do banco UBS sobre os custos:
Consultorias como a BCG estimam que em 2035 cerca de 80% dos veículos já serão autônomos. Com isso, é estimado que apenas nos EUA haveria uma economia de 30 bilhões de horas por ano. Horas estas, que hoje são gastadas no trânsito, dirigindo, procurando vaga, procurando o carro…
Considerando a situação como um todo, tivemos muitos avanços na tecnologia. No entanto, ainda há um longo caminho para que os veículos funcionem sozinhos. No mais, qual será o impacto na legislação e na sociedade?
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