O senador Aécio Neves (PSDB/MG) confirmou no último dia 02/08, através de carta aos mineiros, que nas eleições deste ano concorrerá a uma vaga na Câmara dos Deputados. Nesta semana ele concedeu entrevista pingue-pongue para a imprensa e, na ocasião, comentou as razões que o levaram a optar por uma cadeira de deputado federal ao invés de concorrer à reeleição no Senado, mesmo sendo um dos líderes nas pesquisas e sondagens pré-eleitorais. De forma bastante transparente, o senador não se incomodou em comentar as acusações que pesam contra ele, que chamou de “armação” e de “uma denúncia falsa”. Acompanhe, a seguir, a entrevista que foi compartilhada por diversos órgãos de comunicação:
Senador, o senhor decidiu que, neste ano, concorrerá a deputado federal. Por que decidiu não disputar a reeleição ao Senado, mesmo sendo um dos líderes nas pesquisas, as mesmas pesquisas que apontam que, em tese, o senhor estaria reeleito?
A principal razão é aquela que sempre me moveu na política: o interesse maior de Minas e dos mineiros. Minha decisão de abrir mão da candidatura ao Senado foi um gesto claro para que uma nova aliança, mais ampla, pudesse ser firmada em torno do nome do ex-governador Anastasia. E, como vemos agora, foi a escolha mais acertada. Não foi uma decisão fácil; refleti profundamente. Além das pesquisas que indicavam que eu teria boas chances de reeleição ao Senado, recebi muitas manifestações de prefeitos e lideranças para que mantivesse meu mandato. O importante é trabalharmos agora para termos uma bancada forte na Câmara Federal, Casa que eu já presidi e liderei no governo Fernando Henrique. Eleito governador, Anastasia precisará de uma bancada atuante em Brasília. Minas vive uma situação caótica, com servidores sem receber, escolas paradas, prefeituras com repasses bloqueados pelo governo do PT. Precisamos encerrar esses quatro anos de desgoverno no Estado.
O déficit previsto para Minas ano que vem é de R$ 8 bilhões. Em 2003, ano que o senhor assumiu o governo, o Estado também se encontrava em grave dificuldade financeira. Será possível reequilibrar as contas novamente?
A situação fiscal do Estado hoje é dramática. Uma das piores do país. Vivemos um retrocesso em todas as áreas. Os atrasos nos repasses dos recursos devidos aos municípios somam mais de R$ 6 bilhões. Na saúde e na educação, os investimentos cessaram, hospitais fecharam, servidores sendo desrespeitados em seus direitos. Em 2003, Minas tinha um déficit de R$ 200 milhões por mês e, no prazo de um ano, à custa de muito trabalho, conseguimos reequilibrar as finanças do Estado. Minas precisa retomar o ciclo de desenvolvimento que foi interrompido. Os mineiros precisam virar essa página.
De que forma a atuação na Câmara dos Deputados contribuirá com o Estado?
A formação de uma bancada forte no Congresso Nacional é central para o governo do Estado. Não apenas para aprovação de matérias do interesse do Estado, mas para garantir uma boa interlocução com o governo federal. A organização política e administrativa em nosso país faz os estados e municípios fortemente dependentes do governo central. O abandono de Minas por mais de dez anos, durante os governos do PT, é diretamente responsável pela situação atual que vivemos. Não tivemos sequer um investimento federal importante no Estado nas gestões do PT.
A decisão de retornar à Câmara dos Deputados significa um recomeço?
Tenho 32 anos de mandatos consecutivos por Minas Gerais. Tive a honra de governar nosso Estado por dois mandatos, gestões que foram amplamente aprovadas pela população. Disputei a Presidência da República defendendo aquilo em que acreditava: um Brasil diferente. E vimos o que o PT fez para vencer as eleições. Se vivemos hoje uma enorme crise econômica e social, com mais de 13 milhões de desempregados e a economia totalmente desaquecida, enfrentando o maior período de recessão de toda a história da República brasileira, é em razão do que fizeram com o país. Em 2014 enfrentei uma campanha marcada pela mentira. As novas eleições permitirão encerrar este ciclo perverso em Minas e no país. Eu poderia não disputar um novo mandato e contribuir na política de outra forma, mas tenho hoje o mesmo entusiasmo de quando, no comando da Câmara dos Deputados, aprovamos as reformas do governo Fernando Henrique e que mudaram o Brasil. Acredito que as eleições deste ano serão um divisor entre o atual desencanto em que a sociedade vive e um novo ciclo que começará. E quero participar ativamente no Parlamento das reformas que virão porque sempre as defendi.
Como o senhor responderá às acusações que lhe são feitas e que certamente serão usadas na campanha por seus adversários?
Estou sempre pronto a responder a todas as acusações que me são feitas. E qualquer pessoa na vida pública tem que fazer isso. Sofri sórdidas e gravíssimas acusações. Fizeram de um empréstimo pessoal, sem dinheiro público e sem qualquer contrapartida da minha parte, como senador, uma denúncia falsa. Feita para livrar da cadeia criminosos confessos de mais de 200 crimes. Não cometi qualquer ato ilícito. Tenho a consciência em paz e vou provar na Justiça, de forma absolutamente clara, aquilo que os mineiros que me conhecem sabem: a correção da minha conduta. Minha história na vida pública é a maior prova e o tempo mostrará aquilo que eu demonstrei nos oito anos que governei Minas: a correção dos meus atos.
Será uma eleição difícil diante do desencanto dos eleitores com a política? Entre os jovens, em especial…
Compreendo que vivemos um período de radicalismo, onde há uma tentativa de nivelar todos por baixo, colocando todos no mesmo padrão ético e de conduta pessoal. Mas não podemos permitir que isso aconteça. Acredito na democracia como único caminho capaz para a transformação de uma sociedade e só teremos um país melhor, menos desigual e mais justo, se exercemos nosso papel de agentes políticos e de cidadãos. Sei que a minha liderança política incomodou e incomoda muita gente. Mas vou percorrer Minas com entusiasmo, conversando e mobilizando aqueles que quiserem contribuir na reconstrução do nosso Estado e do país.