Foi sob muitos gritos e aplausos que a jovem Ingrid Suellen da Silva Dias, de 24 anos, foi eleita a Miss Prisional 2018. O pátio de banho de sol do Complexo Penitenciário Feminino Estevão Pinto, localizado no bairro Horto, em Belo Horizonte se transformou em um grande palco para receber a final do projeto Miss Prisional 2018. A jovem vencedora cumpre pena na própria unidade e a sua desenvoltura na passarela foi, sem dúvida, um dos requisitos que a levou até a vitória.
Na plateia, 150 presas do maior complexo penitenciário feminino do Estado torciam pelas suas candidatas favoritas e dividiam entre os convidados a satisfação em ver um projeto de ressocialização sair do papel e beneficiar mulheres em cumprimento de pena. Entre os convidados, representantes e servidores da Secretaria de Estado de Administração Prisional (Seap), juízes, promotores, advogados, familiares das presas e outros entusiastas do Miss Prisional, um evento do sistema prisional mineiro que vai muito além de uma competição de beleza.
O anúncio da vencedora foi feito pela apresentadora Kayete, que arrancou gargalhadas do público durante todo o evento. As seis candidatas que concorriam ao título desfilaram em traje casual e de gala para um público de cerca de 300 pessoas e para os olhares atenciosos de um corpo de jurados de peso, composto por profissionais das áreas de moda, cultura, música, teatro, entre outras. A cantora Aline Calixto fez parte do júri e não hesitou em subir ao palco para fazer uma capela da sua nova música de trabalho. “Espero todas vocês lá fora, no bloco da Calixto. Um dia nos encontraremos”, disse a cantora, que gravou recente com Beth Carvalho.
Ingrid Suellen Dias recebeu a faixa de Miss Prisional emocionada e surpreendida, já que a sua mãe foi convidada para subir à passarela e entregar-lhe o prêmio. Ambas visivelmente emocionadas acreditam que a oportunidade é um caminho para que as mulheres que se encontram encarceradas possam refletir sobre suas escolhas. “É muito bom saber que tem alguém que acredita em mim e, independente de eu estar aqui, presa, sabe quem eu sou e confia em mim”, disse emocionada a vencedora da edição 2018.
O segundo e terceiro lugar foram, respectivamente, para as representantes do Complexo Penitenciário de Ponte Nova e do Presídio de Eugenópolis. Raíssa Ferreira, de 24 anos, e Aline de Matos Reis, de 31 anos, dividiram com Ingrid a satisfação de receber a premiação. Elas também ganharam a faixa e o troféu de participação. Este ano todo o desfile foi abrilhantado pela voz da cantora Nega Jackie, que cantou ao vivo durante todas as entradas das candidatas.
Ao todo foram 53 mulheres que se candidataram e participaram das seletivas. Vinte e seis unidades prisionais participaram das etapas regionais que foram realizadas nas regiões da Zona da Mata, Vertentes, Sul, Triângulo Mineiro, Norte e Região Metropolitana de Belo Horizonte.
Trans e Gestante
Nesta edição do projeto a presença de uma mulher trans celebrou a diversidade. Thaís Camargo foi eleita a Miss Trans do sistema prisional e mostrou ao público que o respeito às escolhas individuais deve prevalecer. Firme e empoderada, a trans disse que rompeu barreiras e que “estar na passarela representa uma grande conquista pessoal, pois muito mais pode estar por vir”. Shaydelman Franciele de Oliveira foi quem representou as detentas gestantes que cumprem pena no sistema prisional.
Miss Prisional 2018
Esta foi a quarta edição do projeto Miss Prisional, promovido pela Secretaria de Estado de Administração Prisional (Seap), que tem como objetivo propiciar às mulheres em privação de liberdade o resgate da autoestima e a valorização pessoal, auxiliando-as no processo de reinserção na sociedade e na busca por novas perspectivas de vida.
O Miss Prisional é muito mais que um concurso de beleza. O projeto busca incluir diálogos sobre os múltiplos papéis da mulher na sociedade atual, com reflexões sobre empoderamento feminino, autoestima, valorização pessoal, importância da família, entre outros temas, que foram abordados ao longo de todo o ano nas unidades prisionais com público feminino.
O objetivo é proporcionar às mulheres presas oportunidades de reflexão sobre os fatos que as levaram à prisão e quais são as alternativas para redescobrir a vida após o cumprimento da pena. Vale lembrar que a ressocialização é um dos eixos de atuação da Seap, visto que não cabe ao Estado somente encarcerar o indivíduo e, sim, contribuir para o seu processo de ressocialização e retorno à sociedade. Neste sentido, muitas histórias de superação das encarceradas são reveladas ao longo da execução do projeto, que conta com profissionais multidisciplinares acompanhando os trabalhos.
(Fonte: Agência Minas)