— Por David Ribeiro Jr. —
TEÓFILO OTONI
Na última quinta-feira (13/05) o presidente do COREN-MG, Bruno Farias, que é de Teófilo Otoni, esteve na cidade e aproveitou a agenda no Município para visitar aos hospitais Santa Rosália e Philadélfia, ocasião em que vistoriou as condições de trabalho dos enfermeiros nesses estabelecimentos. O minasreporter.com conversou com o presidente do COREN-MG e falou com ele sobre as condições de trabalho dos enfermeiros em Teófilo Otoni e em todo o Estado. Bruno Farias ainda aproveitou para negar que tenha a pretensão de se candidatar a deputado no ano que vem, e afirmou que pretende continuar à frente do Conselho Regional de Enfermagem ao longo dos próximos três anos.
Acompanhe o bate-papo:
minasreporter.com — O senhor volta a Teófilo Otoni logo depois da manifestação promovida pelo COREN local pedindo um piso salarial mais alto e a redução da jornada de trabalho. O senhor acredita haver alguma possibilidade real de essa pauta ser atendida sem prejudicar o atendimento das unidades médico-hospitalares?
BRUNO FARIAS: Tenho certeza que sim. Antes, porém, quero parabenizar aos profissionais da Enfermagem local por esse importante evento. Em especial, quero parabenizar ao Lucas Tavares que nos representa aqui no Vale do Mucuri e Jequitinhonha. Foi uma grande manifestação. Há uma expectativa muito grande de se aprovar essa pauta, em especial esse piso salarial. Tive uma conversa muito produtiva com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) em que ele se mostrou sensível em colocar essa pauta em discussão nos próximos meses ou até nos próximos dias, se houver ambiente para a apresentação, a fim de se aprovar o mínimo de dignidade para os nossos profissionais de Enfermagem.
minasreporter.com — Como está hoje a situação dos profissionais da saúde de Minas Gerais, e do Brasil como um todo, principalmente depois dessa pandemia em que, num primeiro momento, os profissionais de saúde foram os que mais se contaminaram?
BRUNO FARIAS: A situação da Enfermagem no Brasil é muito triste. Vivemos hoje a maior crise de saúde pública da humanidade. Nós, enquanto sociedade, estamos na zona roxa; mas a Enfermagem está na zona roxa há mais de 30 anos com salários baixos, carga horária exaustiva… e o que mais está me preocupando é o número de casos de afastamento mental, pois hoje 23% dos profissionais da Enfermagem estão afastados por adoecimento mental. Na semana passada eu tive uma conversa com o Secretário de Estado, o Dr. Fábio, e na quinta-feira eu vou receber o Dr. Igor pra dialogarmos sobre a situação da saúde no estado de Minas Gerais. A situação é muito crítica e estou com muito medo de um colapso na saúde nos próximos meses. Se vier essa terceira onda como vem sendo anunciada, a nossa enfermagem não vai aguentar. A situação é muito preocupante.
minasreporter.com — O senhor mencionou a questão da saúde mental dos profissionais da Enfermagem. Hoje, as unidades médico-hospitalares têm dado pelo menos atenção a essa questão?
BRUNO FARIAS: Sim, inclusive nós construímos uma comissão para dar apoio emocional a esses profissionais, pois a situação está muito preocupante. Mais uma vez eu ratifico que um número muito alto de profissionais, cerca de 23%, estão afastados por adoecimento mental. Temos uma comissão de apoio psicológico para apoiar esses casos. E temos também o apoio do Conselho Federal, que também tem procurado ajudar aos profissionais de Enfermagem neste quesito da saúde mental.
minasreporter.com — A pandemia mostrou de forma inquestionável a importância do profissional da Enfermagem no dia a dia do atendimento à saúde pública. Por que, apesar dessa importância, não se valoriza devidamente ao profissional da Enfermagem?
BRUNO FARIAS: Com certeza o profissional da Enfermagem é uma das categorias mais importantes do ecossistema da saúde pública. Porém, como você disse, nem sempre, ou quase nunca, tivemos a devida valorização. É por isso que a minha gestão à frente do COREN-MG está vindo para ficar, de fato, ao lado do nosso inscrito, do nosso colega da Enfermagem. Também é uma forma de valorizar aos nossos colegas o fato de eu estar andando por todo o Estado ao lado da Enfermagem e cobrando aos representantes e políticos tudo o que for do interesse da nossa profissão. Estive em Uberaba com a prefeita Elisa, e ela nos recebeu muito bem; concedeu 40% de insalubridade a todos os profissionais, e entendemos que isso é uma forma de valorizar a categoria. Ao longo dos próximos três anos a minha meta é aproximar o COREN dos enfermeiros e os enfermeiros do COREN.
minasreporter.com — Há poucos dias os técnicos de Enfermagem do Hospital Santa Rosália chegaram a anunciar uma greve. Há quem diga que, se houvesse de fato a greve, o hospital não teria como atender a pauta requerida. Será que em algum momento encontraremos um meio-termo para atender ao interesse das duas partes?
BRUNO FARIAS: Veja bem… Não é função do COREN convocar greve. A função do COREN é fiscalizar a profissão; mas nos próximos dois ou três meses, se não houver nenhum posicionamento dos políticos, dos gestores e das instituições, eu, como cidadão, vou convocar uma greve que pode causar um colapso na saúde pública, pois, pelo jeito que está, é inaceitável, não só no Santa Rosália, mas em todas as instituições hospitalares. É muito preocupante o que nós estamos assistindo. E eu insisto: a minha maior preocupação é o afastamento por adoecimento mental, que chegou a 23% de todos os nossos profissionais. Vai faltar profissionais daqui a uns três meses e, se vier uma terceira onda da Covid-19, haverá um colapso total.
minasreporter.com — Hoje sofremos muito com a duplicidade de narrativas e a mistura de ideologias políticas na Saúde Pública, o que tem sido prejudicial ao combate da pandemia. Essa duplicidade de narrativas também afeta o dia a dia dos enfermeiros?
BRUNO FARIAS: Com certeza! Atualmente, algumas autoridades levam em consideração apenas os seus interesses pessoais e esquecem dessas pessoas na linha de frente, desses nossos colegas da Enfermagem, que vivem de salário mínimo. É por isso que tenho tanto a pretensão de lutar por essa categoria.
minasreporter.com — A classe empresarial, visando manter seus estabelecimentos abertos, tem tido dificuldade em relação aos protocolos porque um dia se tem uma sugestão, no outro dia já não vale mais. Essa falta de certeza até sobre os protocolos adotados também afeta o dia a dia da Enfermagem?
BRUNO FARIAS: Com certeza! Cada dia é uma coisa nova. O profissional da Enfermagem tem que se reciclar sempre para fazer coisa novas e estar a par de tantos protocolos mudando todos os dias.
minasreporter.com — O senhor está baseado, na Presidência do COREN-MG, em Belo Horizonte, mas tem acompanhado a dificuldade que nossa região tem tido sobretudo nesse momento de pandemia, principalmente os profissionais da Enfermagem?
BRUNO FARIAS: Sim. Inclusive tenho conversado com os vereadores e estamos cobrando do prefeito municipal quanto à gratificação de insalubridade, uma valorização maior e descanso digno para todos os profissionais da Enfermagem. Vamos aguardar uma posição nos próximos dias do Poder Executivo para que se ajude a esses colegas que estão sofrendo muito. Aqui em Teófilo Otoni temos uma equipe de 11.616 (onze mil seiscentos e dezesseis) inscritos, e isso é muita coisa nessa região que precisa de valorização e atenção. Eu faço questão de estar aqui toda sexta-feira ao lado dos nossos colegas e profissionais dando apoio nesse momento tão difícil que vive a nossa categoria.
minasreporter.com — Agora vamos falar especificamente do presidente do COREN-MG; ou seja: do senhor. A sua trajetória teve início em Teófilo Otoni, em um PSF, e hoje preside o Conselho Estadual da categoria. Há quem diga que o senhor pode sair candidato a deputado no ano que vem. Existe essa possibilidade? O podemos esperar de Bruno Farias para o futuro?
BRUNO FARIAS: O que se pode esperar de Bruno Farias para o futuro é muito trabalho para a nossa Enfermagem. Não sou candidato e não tenho pretensão de o ser. A minha pretensão é de continuar trabalhando pela nossa categoria.
minasreporter.com — O fato de um teófilo-otonense estar presidindo o COREN pode dar visibilidade ao Nordeste do Estado, esta região tão pobre?
BRUNO FARIAS: Com certeza! Hoje, pela primeira vez, um filho de Teófilo Otoni preside a segunda maior autarquia do Brasil e isso dá, sim, orgulho para a nossa cidade. Atualmente, somos 249 (duzentos e quarenta e nove mil) inscritos e eu estou lá para trabalhar para todo o Estado de Minas Gerais e, em especial, para a minha região dos Vales do Mucuri e Jequitinhonha.
minasreporter.com — Fique à vontade para suas considerações finais…
BRUNO FARIAS: Quero agradecer aos nossos profissionais da área da saúde do Vale do Mucuri e do Jequitinhonha e dizer que estamos à disposição para trabalhar por nossa categoria. Um abraço a todos.