Bruno Balarini: “Meu projeto não teve rabo preso com ninguém e não deveu favor a ninguém”

Bruno Balarini: “Meu projeto não teve rabo preso com ninguém e não deveu favor a ninguém”

BRUNO BALARINI: “O nosso projeto saiu com muita credibilidade da campanha” (foto: SANTHAR/minasreporter.com)

— Por David Ribeiro Jr. —
TEÓFILO OTONI

O geógrafo, consultor e perito ambiental BRUNO BALARINI recebeu ao MINAS REPÓRTER em seu escritório, ocasião em que bateu um papo conosco sobre o desenvolvimento socioeconômico do Vale do Mucuri e do Nordeste Mineiro. Na eleição municipal de 2020, Bruno, que é presidente do partido Avante em Teófilo Otoni, foi candidato a prefeito e apresentou um projeto alternativo aos nomes que polarizaram o pleito. Uma vez que já foi titular de três secretarias municipais, e também é professor universitário especialista em Direito Urbanístico e Ambiental, falou do que teria feito diferente se tivesse sido eleito prefeito. Imperdível o nosso bate-papo. Acompanhe!

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MINAS REPÓRTER — Você foi candidato a prefeito na última eleição em Teófilo Otoni. O lado vencedor te olha com respeito. Pessoas ligadas ao lado derrotado, por sua vez, dizem que Bruno tirou a eleição do outro candidato. Como você encara esse tipo de crítica?

BRUNO BALARINI: Quem foi derrotado sempre tem que dar uma desculpa. Já quem foi vitorioso precisa entender que tudo passa. Eu sempre deixei claro para todos que participaram do momento político, e dificilmente eu mudo a minha palavra, que nós tínhamos um projeto a ser discutido com a cidade. Eu estava partindo para a defesa da cidade… porém, na política, muitas vezes quando você fala a verdade os outros preferem acreditar que você está blefando. Não era o meu caso. Pratiquei uma política que eu acredito, uma política propositiva de respeito ao adversário político. Até porque você pode ter certeza de que o adversário é apenas político. Acabou a eleição… acabou. Quem perdeu deve entender o porquê de ter perdido; quem ganhou deve entender que está ali para servir. Quem puder somar esforços para ajudar a cidade a caminhar, eu penso que isso é muito importante. Você não está ajudando a oposição, e sim a cidade. Passou a política, eu fui tomar conta da minha vida, mas continuo conversando sobre o meu projeto. Esse projeto que a gente defende implica em não ter ideologia partidária. Estou de saco cheio da briguinha da esquerda e da direita.

MINAS REPÓRTER — Por falar na briguinha da esquerda e da direita, por que as pessoas, mesmo tendo mais acesso à educação, continuam se permitindo ser massa de manobra nesse joguete de polarização na mão daqueles que realmente se beneficiam com isso?

BRUNO BALARINI: Eu respeito muito quem defende qualquer ideologia, seja ela de esquerda, direita ou qualquer outra. Mas quando você não tem o ideal, você arruma uma desculpa. Essa desculpa é sempre para o lado ideológico porque aí você consegue rotular o outro ideologicamente da forma que lhe é conveniente para justificar. O problema é que a ideologias às vezes são maiores do que o projeto de cidade. Como assim? Imagine, você, um buraco na rua. Quando a ideologia fala mais alto, os dois lados ficam discutindo de quem é o problema do buraco, de quem é a culpa, mas ninguém busca resolver de fato o problema do buraco. Isso causa uma completa incapacidade de a comunidade reconhecer o lugar em que mora e de ter um sentimento de pertencimento. Teófilo Otoni está sem representatividade política; não temos líderes, e sim politiqueiros. O nosso projeto visa defender a cidade e a nossa gente. Quando não se defende um projeto, a cidade acaba ficando para depois como temos visto o caso das obras do Hospital Regional se arrastando por anos. Queremos alguém que cobre nossos governantes para fazerem mais por esta região, o que lhe é o nosso direito; não estamos pedindo esmola. Como o povo daqui se acostumou a se contentar com esmola, ficou conveniente rotular essa região como pobre. Em detrimento da minha profissão, eu trabalho muito e fico triste quando vejo regiões com várias restrições geográficas, qualidade de solo ruim, estrutura de cidade defeituosa e, mesmo assim, indo melhor do que Teófilo Otoni. Nossa cidade ficou para trás, sim, e não adianta tampar o sol com a peneira porque tudo que Teófilo Otoni está correndo atrás para recuperar está em descompasso. É como se aqui fosse internet discada e esses outros lugares estivessem usando fibra ótica. Aí não dá para competir. Como uma cidade com o nosso porte não tem um plano diretor? E mais: Não tem um código de obras coerente com o plano diretor; consequentemente, não tem um plano tributário adequado… Como atrair investimentos assim? Qual empresário terá disposição para vir investir aqui? Sobre qual segurança jurídica ele vai investir aqui? Então, temos que ser práticos com a política. Não estou falando mal de ‘A’ ou de ‘B’; estou fazendo uma reflexão dos últimos 40 anos de vida pública em Teófilo Otoni. E, infelizmente, não dá para gostar do que a gente vê.

MINAS REPÓRTER — Hipoteticamente falando: Se Bruno Balarini tivesse sido eleito prefeito, o que já estaria acontecendo de diferente? Como teriam sido os seus 100 primeiros dias de governo?

BRUNO BALARINI: Exoneraríamos todos os comissionados, contrataríamos apenas aquilo que fosse essencial e elementar para fazer aquele setor rodar; teríamos chamado o Sindicato dos Servidores para que eles apresentassem a pauta de remuneração do servidor, porque quem tem que apresentar é a categoria, e não a prefeitura, que não tem que impor nada. Pegaria o passivo financeiro e faria uma negociação através de uma junta de conciliação que foi até uma proposta da Associação Comercial há alguns anos; faria um fundo para remunerar o SISPREV, pois ele é um gargalo administrativo e pode quebrar o Município. Esse dinheiro seria para tapar o buraco do SISPREV que, consequentemente, daria melhor saldo para a Prefeitura. Investiria pesadamente no setor de obras… Como? À medida que você economiza dentro da Prefeitura com o custeio de pessoal, sobra dinheiro para se fazer a pequena. Essa pequena obra gera emprego e esse novo empregado consome no comércio que, por sua vez, mantém o comerciário empregado e fortalece o comerciante. Meu projeto não teve rabo preso com ninguém e não deveu favor a ninguém. Isso me deu autonomia de falar na campanha e dizer que cada segmento iria indicar seu secretário na pasta. Quer um exemplo? Não sou eu que tenho que indicar o secretário da Educação, é a comunidade escolar que deve escolher esse secretário. Por que eu posso fazer isso? Porque não fiz acordo com ninguém. Cada segmento iria indicar seu secretário. A gente precisa olhar para o que nós temos e melhorar o que nós temos. O setor rural tem que ter uma atenção extraordinária. Colocar a Emater para trabalhar diretamente e colocar profissionais recém-formados, que seria a forma de gerar o primeiro emprego e gerar resultado para o Município. O setor rural está abandonado; é preciso respeitar os segmentos de Teófilo Otoni como um todo. Temos também que valorizar o nosso lado turístico e cultural também. Temos que pensar com clareza o que é importante para a cidade, mas quem tem que decidir isso não é o prefeito, e sim a cidade através das entidades de classe e do engajamento das pessoas que querem o bem de Teófilo Otoni.

MINAS REPÓRTER — Há quem diga que é inútil falar em desenvolvimento sem melhorar toda a nossa infraestrutura de mobilidade urbana. Como o senhor vê a discussão em torno do possível retorno da Estrada de Ferro Bahia-Minas?

MINAS REPÓRTER — O que o senhor pensa ser mais viável: reativar a Estrada de Ferro com o mesmo traçado de antes, mesmo que acrescentando um ramal até Teixeira de Freitas? Ou instalar o ramal que ligue Teófilo Otoni a Governador Valadares?

MINAS REPÓRTER — Quando foi superintendente da Emater, o advogado Reynaldo do Carmo Neves disse que Teófilo Otoni precisava, naquela época, em meados dos anos noventa, de pelo menos 100 milhões de dólares para um programa desenvolvimentista que fosse minimamente eficaz. O senhor concorda?

BRUNO BALARINI: O problema do nosso município é o prefeito que ganha a eleição e fica reclamando da situação da Prefeitura. Se fosse pra ele reclamar, nem deveria ter entrado. Não existe prefeitura que funcione bem no Brasil, principalmente no modelo que a gente tem, que é uma corja que ganha eleição apenas para ter poder, mas essa corja não quer agir, e sim reagir. O que eu quero dizer com isso? O prefeito reage quando uma ponte cai e a população vai na rádio; ele vai lá, conserta de qualquer jeito e ainda tem a cara de pau de postar foto e dizer que a Prefeitura age com rapidez; deveria ter agido previamente para que a ponte não tivesse caído. Essa é a diferença de quem faz gestão e o político que faz politicagem. Um dia me perguntaram em uma palestra qual seria o maior problema de Teófilo Otoni… bem, essa resposta mudou ao longo de 11 anos, que foi o período de quando eu entrei na Prefeitura até os dias de hoje. Atualmente, o problema de Teófilo Otoni é político. Eu posso ter um investimento de 1 bilhão de reais, mas se eu não souber em o que vou investir, tudo vai ficar uma merda. É preciso ter um bom diagnóstico, conversar com a sociedade, eleger prioridades e correr atrás. Eu defendo a ideia que o Vale do Mucuri é uma região rica com desenvolvimento pobre. Cada prefeito aqui da região quer fazer seu dever de casa, mas a integração entre eles poderia ter um resultado muito melhor. Falo sobre a ideia de um mini bloco econômico entre Araçuaí e todos  os municípios até Teófilo Otoni, de modo que tivéssemos aqui uma integração digital do que existe de oferta e demanda em cada município, tentando forçar o estado a rever as taxas de ICMS de fronteira, tentando fazer com que o Estado revisse o ICMS para a mercadoria circulada em um raio inferior a 100 km, por exemplo, e que tivéssemos representantes capazes de ampliar os benefícios da Sudene, pois aqui nessa região a Sudene meio que dá com uma mão e retira com a outra, porque os segmentos atendidos pela Sudene não existem em Teófilo Otoni. Não se vê um político brigando por essas coisas. Você não vê uma figura dessas levando isso aqui a sério. Agora, por outro lado, você não vê essa vontade de várias categorias dos segmentos clamando por isso; eu vejo muito mais uma tentativa de muitos de soltar uma frase lacradora como se isso fosse resolver os problemas. Só se resolve problemas agindo. Caso contrário, vamos continuar reclamando e, daqui a quarenta anos, vamos estar aqui falando dos mesmos problemas.

MINAS REPÓRTER — Como professor universitário do Curso de Engenharia, e como homem público, como você vê a enorme dificuldade que é empreender em Teófilo Otoni e região? Por que temos um ambiente tão pouco favorável ao empreendedorismo?

MINAS REPÓRTER — A impressão que se tem é que você está ainda mais comprometido com o seu projeto político agora do que quando candidato. Então, me permita perguntar de forma objetiva: Uma vez que há a possibilidade real de uma nova eleição extemporânea em Teófilo Otoni, você seria candidato?

BRUNO BALARINI: Se Deus permitir, sim; não tenha dúvida. Você disse que eu estou muito mais envolvido com o meu projeto político agora do que estava na campanha quando fui candidato a prefeito. Não sei se a palavra correta é “mais comprometido”, mas, sim, até porque eu pude ver como grande parte da população reagiu ao nosso projeto, tanto antes, durante quanto no pós-campanha. O nosso projeto saiu com muita credibilidade; eu não abandonei o grupo, não abandonei a minha campanha, não falei uma coisa e fiz outra, não bombardeei ninguém, como eu assisti com muita tristeza aos meus oponentes se ofendendo… pelo contrário, recebi cada crítica e guardei. Não tenha dúvida de que, se houver outra eleição, estamos prontos para partir para cima dela e, não havendo, temos um projeto para apresentar em 2022, 2024, 2026, 2028 e 2030… seja quando for.

MINAS REPÓRTER — Você acabou de dizer “2022”. Existe alguma possibilidade de Bruno Balarini ser candidato a um cargo parlamentar no ano que vem?

BRUNO BALARINI: Sim, existe essa possibilidade. A deputado federal. E vou te falar aqui em primeira mão o porquê. Eu vejo políticos daqui adotando discursos que a gente tinha na campanha. Agora estão falando em um plano econômico, e eu falei isso em maio do ano passado, além de vários outros pontos e aspectos do nosso plano de governo. Se a gente conseguir consolidar, e for o desígnio de Deus pra vida da gente, uma coisa que precisa ficar clara é que cem por cento da minha verba parlamentar será destinada para Teófilo Otoni. Precisamos imaginar que um deputado federal tem, se não me engano, 20 milhões de reais em emendas obrigatórias. Você imagina o que representaria 20 milhões de reais a mais a cada ano, fora as outras emendas e os outros recursos investidos no Vale do Mucuri. Só em um mandato daria para injetar 80 milhões em nossa região. Agora eu desafio qual deputado nosso tem coragem de fazer isso? Não tem.

MINAS REPÓRTER — Ainda vale a pena acreditar em Teófilo Otoni?



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