O presidente da Associação Comercial e Empresarial (ACE) de Teófilo Otoni, RICARDO BASTOS PERES, diz que as empresas, para sobreviverem nos próximos anos, terão que entender que os hábitos da população mudaram a partir da pandemia. Para ele, nada mais será como antes. Para continuar a vender para o público, as empresas precisam entender como as pessoas pensam e buscar a inovação constante. Vale muito a pena acompanhar esse bate-papo:
MINAS REPÓRTER — Com a vacinação em massa, acredita-se que a pandemia esteja chegando ao fim. O senhor acredita que as coisas agora voltarão ao normal?
RICARDO BASTOS: Depende do que você está chamando de normal. Eu, como cristão que busco ser, oro todos os dias para que Deus nos dê sabedoria, em especial aos homens da ciência, para que possamos combater essa pandemia o quanto antes. A pandemia é ruim. Ela causou, em pouco mais de um ano, mais de meio milhão de mortes no Brasil. Não dá para ficar indiferente a isso. Mas há algo que não podemos negar nem fingir que não ocorreu: A pandemia mudou os hábitos da nossa gente. A pandemia mudou os hábitos de consumo, os hábitos de compra… enfim, estamos reinventando a sociedade de consumo. Portanto, se você está chamando de normal aquele estilo de vida que tínhamos antes da pandemia, esqueça. Aquele “normal” nunca mais será o nosso normal. Aquilo que os especialistas em projeções antes acreditavam que levaria dez anos, como a consolidação das compras através de aplicativos de delivery, foram acelerados para um único ano. Portanto, hoje não somos mais as pessoas que éramos antes da pandemia. É como nos ensinou aquele pensador famoso, Heráclito de Éfeso: “Nenhum homem pode se banhar duas vezes no mesmo rio, pois na segunda vez o rio já não é mais o mesmo, nem tampouco o homem”. O que isso nos ensina? O nosso passado já não existe mais. Esse estilo de vida que estamos experimentando agora é o novo normal. É claro que queremos o quanto antes poder sair sem usar máscaras, queremos parar de verificar os números da pandemia… mas, acredite, os hábitos antigos, pelo menos no que se refere ao consumo, às compras e, consequentemente, às vendas, nunca mais voltarão.
MINAS REPÓRTER — Mas… o senhor acredita que a nossa comunidade está pronta para o que o senhor está chamando de “novo normal”?
RICARDO BASTOS: Nem a sociedade, enquanto coletivo, está pronta, nem nós, pessoas, individualmente. Sem querer fazer uso de frases clichês, mas não vendo outra forma de explicar isso, tenho que dizer que estamos literalmente trocando a roda com o carro andando. A pandemia fez isso conosco. O que isso vai resultar? Ainda é cedo para dizer. Há quem diga que, enquanto seres humanos vamos sair da pandemia mais racionais, mais cheios de empatia, mais humanos de fato. Outros, por sua vez, acreditam que, em função das demissões e das privações, sairemos piores, mais egoístas, mais gananciosos, mais avarentos. Eu prefiro acreditar que vamos sair melhores. Pelo menos, da minha parte, tenho me esforçado para ser uma pessoa cada dia melhor. Enquanto instituição, a ACE-Teófilo Otoni também tem procurado de todas as maneiras ajudar aos empresários e empreendedores a se saírem mais assertivamente deste momento louco que estamos vivendo.
MINAS REPÓRTER — O senhor disse que a ACE está ajudando aos empreendedores a saírem deste momento de transição de forma mais assertiva. Como, exatamente?
RICARDO BASTOS: Boa pergunta! A primeira coisa que fizemos, mesmo antes da pandemia ser reconhecida, foi ir até à Prefeitura e solicitar ao prefeito Daniel Sucupira que prorrogasse as certidões negativas de débitos dos empresários locais, bem como oportunizasse a negociação, ou renegociação, dependendo de cada caso, dos tributos municipais para ajudar a esses empreendedores a manterem os seus negócios funcionando e assim evitar demissões. Mas isso foi só o início. A ACE disponibilizou uma plataforma de vendas que chamamos de “CompreTeó”. Trata-se de uma vitrine virtual para ajudar aos nossos empreendedores que não têm presença na internet a divulgar os seus produtos e serviços. Em parceria com as outras entidades de representação da classe empresarial investimos mais de R$ 150 mil em álcool em gel, máscaras, um atomizador que circula pela cidade higienizando ruas e passeios públicos, além de colocar toda a nossa estrutura à disposição dos nossos associados e dos empresários como um todo. Durante noventa dias empreendemos uma série de lives através das nossas redes sociais com orientações para ajudar a passar por esse momento com mais assertividade. Alguns dos vídeos das lives, que estão disponíveis até hoje em nossas redes sociais, chegaram a milhares de visualizações. Enfim, tudo o que pudemos fazer, que estava ao nosso alcance, fizemos e continuamos a fazer, vez que toda a estrutura da Associação Comercial está à disposição dos empreendedores de nossa cidade.
MINAS REPÓRTER — Um adágio antigo diz que se os políticos não atrapalharem, não precisam nem ajudar, pois os empresários se viram sozinhos. Como foi o comportamento dos políticos durante a crise gerada pela pandemia?
RICARDO BASTOS: Eu prefiro não emitir juízo de valor sobre este momento, em especial, porque, como eu mesmo disse, foi um momento difícil para todo mundo, um momento que pegou a todos de surpresa, e todos tivemos que aprender a trocar a roda com o carro andando. Não foi fácil para ninguém. É claro que houve muitos erros de alguns políticos, como o fechamento precoce do comércio em muitas cidades… enfim, foi bastante complicado. Mas, como disse, prefiro não ficar aqui emitindo juízo de valor. A única crítica que faço é àqueles que usaram o momento extremamente melindroso e delicado, com famílias perdendo entes queridos, para promoverem desavenças político-partidárias com prefeitos brigando com governadores, governadores brigando com o presidente, presidente brigando com desafetos. … Ao invés de criarem uma ampla frente para trabalhar pela nossa gente, o que vimos foi muita gente cruzando os braços e pondo a culpa por todos os problemas nos desafetos. Isso é difícil de aceitar.
MINAS REPÓRTER — Estamos nos aproximando do aniversário da cidade de Teófilo Otoni. São 168 anos de história. Temos motivos para comemorar?
RICARDO BASTOS: Sempre há motivos para comemorar o nosso aniversário enquanto povo e enquanto comunidade. É claro que não é o momento para grandes celebrações, ainda mais diante de tantas famílias que ainda estão em luto pela perda dos seus entes queridos neste momento de dor causado pela pandemia. A essas pessoas toda a nossa solidariedade, os nossos sentimentos e a nossa consideração. Enquanto cidade, precisamos continuar seguindo em frente. Precisamos aprender a continuar a caminhar, apesar da dor, e precisamos otimizar os nossos processos. Recentemente nós da Associação Comercial produzimos um curso de vendas com o conceituado coach Noberto Alves Lulu; na semana passada promovemos um café empresarial onde a nossa advogada, a Dra. Diviany Ledo Costa ensinou aos nossos associados a lidarem com a nova Lei Geral de Proteção de Dados. Além disso, estamos empreendendo, em parceria com várias outras instituições da cidade, um programa de cursos on-line para ajudar a qualificar a nossa mão de obra local em diversas áreas, com destaque para áreas que são mais necessárias neste momento de mudanças de comportamento por parte da comunidade. A Associação Comercial está, sim, trabalhando para que tenhamos o que comemorar e para que o futuro seja ainda mais promissor para toda a nossa gente. As ferramentas que disponibilizamos para os nossos associados ajudaram a ter mais sucesso nas vendas referentes ao Dia dos Pais, e agora miramos a Black Friday e o Natal.
MINAS REPÓRTER — Falamos agora há pouco de política. Voltando ao assunto, no ano que vem o povo deve ir às urnas para eleger aos seus deputados estaduais e federais, um senador, o governador do Estado e o presidente da República. Qual será o papel da ACE no processo político?
RICARDO BASTOS: A ACE é, antes de tudo, uma entidade apartidária. Portanto, não nos envolvemos de forma direta nos pleitos políticos. É claro que damos orientações aos nossos associados para que escolham nomes que estejam comprometidos com o desenvolvimento socioempresarial de nossa gente. Mas não podemos tomar partido. A palavra final é do cidadão enquanto eleitor e este é um direito sagrado que respeitamos muito. E é exatamente o respeito que temos às instituições que nos ajudaram a chegar aos 80 anos da Associação Comercial como a grande entidade de representação classista do empresariado de Teófilo Otoni e região.