Por Stefan Salej
Em um vale cheio de fazendas de café, no Sul de Minas, nasceu uma jovem que, por destino, viajou, casada com um diplomata, pelo mundo. E em 1959, trouxe, depois de viver no Japão, onde o país se reerguia, após a Segunda Guerra Mundial, a ideia de fazer uma escola técnica de eletrônica, a primeira da América Latina, em um lugar chamado Santa Rita de Sapucaí. A escola técnica inicialmente foi chamada pelo nome do pai da jovem. Depois passou a se chamar Dona Sinhá Moreira. Foi assim que nasceu a Escola de Engenharia INATEL, a Faculdade de Administração de Empresas e um polo tecnológico de eletrônica que se chama Vale de Eletrônica. E veio o SENAI, com equipamentos de última geração, e mais… e mais.
As 154 empresas do Vale da Eletrônica, no meio desse nada para os teóricos do desenvolvimento e os agentes governamentais, aumentaram o faturamento, as exportações e o número de empregados. Aliás, o prêmio com nome da Dona Sinhá, oferecido pelo eficiente Sindicato da Indústria Eletro-Eletrônica do Vale (SINDIVEL), é dado às empresas que mais aumentaram o número de funcionários e que alcançaram o mais alto nível de inovação. A disputa é ferrenha porque todo mundo no Vale da Eletrônica é competitivo e quer progredir. Mas também é unido, oficialmente no cluster eletroeletrônico, mas extraoficialmente em um projeto imaginário de cooperação, competitividade e alianças pelo bem-estar da sociedade.
O prefeito eleito já quatro vezes é um prefeito de toda a cidade e não só dos industriais. O INATEL, instituição de educação tecnológica que hoje já atua em São Paulo e no exterior, é junto com o super moderno laboratório de protótipos do SENAI, fornecedora de tecnologia, pesquisa e educação da mais alta qualidade. Não há desemprego, não há negativa rivalidade. As empresas, que possuem nos seus quadros inúmeros doutores em ciência, são também empresas onde toda a família está empregada e colaborando.
O Vale da Eletrônica parece uma ilha no meio de um oceano revolto em escândalos, dificuldades, políticas e não sei mais o quê. Mas, deixa lições importantes que estão sendo pouco aproveitadas. Ninguém lhe traz desenvolvimento. Você, como Dona Sinhá Moreira e seus descendentes diretos e indiretos, tem que trabalhar, ter visão, ser ousado… e o mundo é o seu mercado. Não precisa perder raízes, mas deixar a porta aberta para que a inovação, em todos os sentidos, e em todas as áreas que permeiam a sociedade, domine seu futuro.
No meio dos cafezais, mesmo lutando contra a invasão do narcotráfico na região e outras mazelas (como a estrada que liga o Vale da Eletrônica com a Fernão Dias já asfaltada, mas não sinalizada, e muito menos iluminada, como deveria ser), o pessoal pensa estrategicamente, com apoio do SEBRAE Minas, nos próximos 20 anos. Em um negócio supercompetitivo, como ser líder e não sobrevivente?
Se a estória de que a felicidade do mineiro é a vaca morta do vizinho, que assim os dois não têm vaca ou um tem uma a mais, precisa ser desmentida. E ela o foi por Dona Sinhá Moreira e os seus sucessores no Vale da Eletrônica. O fracasso de um é o insucesso de todos; e o sucesso de todos é de cada um.
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