Por Mary Ribeiro
A coordenadora de recursos humanos Isabel Pantoja Vazquez já foi magra e não se sentia feliz. Depois, engordou, tentou diversas dietas, mas sempre se sabotava no meio do caminho. Agora, após dois anos de terapia, aprendeu a se aceitar. “Antes eu pensava que, se fosse magra e bonita, não seria considerada inteligente. Hoje entendo que posso ser o que quiser”, conta Isabel.
Maria Cristina Ramos Britto é piscóloga e acompanha Isabel. “As pessoas acabam caindo em uma espiral de insatisfação e nem se percebem mais. Fazem lipo sem precisar, mudam o nariz sem precisar. Mas pode fazer dieta, cirurgia e o que for que não vai ser feliz porque tudo é uma ilusão. A pessoa tem uma imagem distorcida de si. Meu trabalho é que ela se perceba e aprenda a se aceitar, que reconheça as suas qualidades, sem se entregar a pressão externa”, explica a especialista.
10 kg a mais, 20 kg a mais e a sabotagem
“Nem sempre fui gorda, mas mesmo quando era magra, há 10 anos, não estava feliz e não me via bonita. Eu me comparava com minhas amigas, me via maior do que era”, detalha Isabel.
Os quilos a mais vieram com o namoro. “Em cinco anos de namoro, engordei 10 kg com pura esbórnia e hábitos alimentares ruins mesmo. No ano que casei, também perdi meu pai. Engordei 20 kg. Comia muito, bebia muito, fumava e não fazia exercício. A primeira coisa que pensava ao acordar era ‘preciso emagrecer. Estou gorda e ninguém vai gostar de mim’. Aí começava dieta, tinha resultado e me sabotava”.
“Quando emagrecia, comemorava comendo. Se estava triste, também descontava na comida. Queria emagrecer, já havia tentado de tudo e comecei a ler e pesquisar e vi que o problema não era a dieta que fazia ou a academia, mas que poderia ser uma questão de autoestima”. Foi aí que Isabel ingressou na terapia, há dois anos.
Olhares e julgamentos
Isabel conta ainda que não ia a praia, não usava shorts ou saia curta por achar que suas pernas eram enormes e sempre se preocupava com os olhares e opiniões dos outros. Para Maria Cristina, a questão a ser trabalhada está nisso: é preciso se aceitar e também lidar com os outros.
“No meu trabalho deixo muito claro que a questão não é emagrecer, é estar bem e ter saúde. Claro que todo mundo quer ter um corpo bonito, mas existe a questão do biotipo e a gente não pode fugir disso. Tenho 1,62m e um tipo de corpo. Não adianta eu querer ser a Gisele Bündchen. Existem padrões estéticos que nem todos conseguem alcançar. A questão maior é se aceitar. Precisamos investir no que temos de melhor e não querer ser bonito como o outro. Tem de ser bonito o que você tem”, diz psicóloga.
E muitos vezes, os tais olhares que poderiam incomodar Isabel nem existiam. “É entender que, às vezes, o outro está só olhando, mas não está olhando com crítica ou julgamento. E também muitas vezes a pessoa nem está olhando para você. E mesmo se tiver crítica, qual a importância da opinião de um desconhecido ou do outro para você? É isso que a terapia trabalha. Não é desconsiderar os outros, mas aprender a selecionar”, detalha.
Famosas e seus corpos
Recentemente, famosas levantaram a questão de se aceitar. Preta Gil, por exemplo, pouco antes do carnaval, foi criticada nas redes sociais ao usar um body e exibir as pernas em um show. Depois, repetiu o modelito e escreveu: “Meu corpo, minhas gordurinhas e minhas celulites não medem o meu caráter a minha garra !! Tenho celulite SIM e não tenho vergonha delas. Não vou me render nem virar escrava de um padrão de beleza que não é o meu!”
Dias depois, a cantora Gaby Amaratos posou ao lado da atriz Fabiana Karla e mandou o recado no Instagram: “Apenas lacrando com minha amiga Fabiana Karla porque somos assim, gostosas, coloridas, autênticas e felizes. Danem-se os padrões, somos reais e nos aceitamos”.
“As pessoas precisam se aceitar porque a felicidade está dentro de cada um e não fora. Se o outro não te aceita, ele não te merece. Isso é problema dele e não seu”, diz a psicóloga.
De volta à praia e muito mais
Isabel já sente os resultados da terapia. “Esse foi o primeiro verão que fui à praia, curti, tirei fotos sem me preocupar com os que poderiam pensar”. Ela também comemora outra vitória pessoal. “Não engordei depois do divórcio. Não tenho mais o pensamento de ‘estou gorda’ ou ‘vou compensar com a comida’. Se fosse antes, teria me jogado na comida. Hoje eu me sinto melhor do que nunca”.
Agora, Isabel conta que quer emagrecer, sim, mas não por uma pressão da sociedade. Ela já se sente bem, mas quer ficar melhor. No começo do ano, ela passou pela cirurgia para colocar o balão gástrico e a meta é eliminar 25 kg.
“Estou no caminho, mas sem muita cobrança ou expectativa. Antes era 8 ou 80, agora sei que tem o meio do caminho”.
Ela fala ainda que aprendeu a reconhecer os gatilhos que a levavam a compulsão alimentar. “Hoje eu entendo minhas emoções. Se estou com muita vontade de comer um doce ou beber um chopp, sei parar e ver se preciso mesmo daquilo ou se quero só para comemorar uma coisa boa ou compensar uma tristeza. Às vezes, o que preciso mesmo é de uma conversa com um amigo. Antes, eu negava o que sentia e descontava na comida. Agora aprendi a lidar até com o sentimento negativo. Passei a prestar mais atenção no meu corpo, a comer o que me satisfaz e até quando me satisfaz”.
Isabel também aprendeu a se aceitar e recuperou a autoestima. “Agora que estou solteira, criei coragem para flertar, conhecer pessoas novas. Não tenho vergonha de expor as minhas curvas. O olhar alheio não me importa mais”.
Fonte: Ig