Por Mary Ribeiro
Morreu no último sábado (2) a atriz Tereza Rachel. Ela estava internada no centro de tratamento intensivo em decorrência de complicações de um quadro agudo de obstrução intestinal. Nascida Terezinha Malka Brandwin Taiba de la Sierra, ela estava com 82 anos e permanecia internada desde o dia 30 de dezembro no Hospital São Lucas, em Copacabana, na Zona Sul do Rio.
Natural de Nilópolis, na Baixada Fluminense, a atriz começou a carreira em 1955, atuando no teatro, sendo dirigida por Henriette Morineau em ‘Os Elegantes’, de Aurimar Rocha. No ano seguinte recebeu o prêmio de atriz revelação da Associação Brasileira de Críticos Teatrais, ABCT, por sua atuação em ‘Prima Donna’.
Na televisão, interpretou personagens que são lembrados pelo público, como a Lupe, de “O rebu” (1974), a Débora, da novela “O grito” (1975), a Clô Hayalla, da novela “O astro” (1978), a Martha Gama, de “Baila comigo” (1981), a Aurora, da novela “Paraíso” (1982), a Renata Dumont de “Louco amor” (1983), e a Rainha Valentine de “Que rei sou eu?” (1989).
Em 1995, interpretou Francesca Ferreto na novela “A próxima vítima”, e também se destacou como a vilã Dona Bertha, da novela “Era uma vez” (1998). O último papel de Tereza Rachel na TV Globo foi na novela “Babilônia” (2015).
Atriz, produtora e intérprete inquieta, ela fundou nos anos 70 o Teatro Tereza Raquel, em Copacabana, onde produziu peças inéditas e trouxe diretores europeus ligados à vanguarda, fazendo de sua casa de espetáculos um dos polos de destaque do teatro carioca. Tombado em 2004, o teatro foi reestruturado em 2012, após ser arrendado pelo produtor cultural Frederico Reder.
O corpo de Tereza Rachel foi enterrado no domingo (4), na cidade natal da atriz.
Nas décadas de 50 e 60, foi atriz e produtora de peças como “Bonitinha, mas ordinária”, de Nelson Rodrigues, com direção de Martim Gonçalves. Em 1965, esteve em “Berço do herói”, de Dias Gomes, dirigida por Antônio Abujamra. A peça foi interditada pela censura antes da estreia. Neste mesmo ano, fez parte do elenco de “Liberdade, liberdade”, de Flávio Rangel e Millôr Fernandes, produção do Grupo Opinião. Dois anos depois, atuou no sucesso de público “Édipo Rei”.
Além de se destacar no teatro, Tereza Rachel atuou também em filmes como: “Genival é de morte” (1956), de Aloísio T. de Carvalho, “Ganga Zumba” (1963), de Carlos Diegues, “Procura-se uma rosa” (1964), de Jece Valadão, “Canalha em crise” (1965), de Miguel Borges, “Amante muito louca” (1973), de Denoy de Oliveira, “Revólver de brinquedo” (1977), de Antonio Calmon, e “A volta do filho pródigo” (1978), “Canudos” (1978) e “Pedro mico” (1985), todos de Ipojuca Pontes.
Prêmio de Melhor Atriz
Em 1974, ganhou o Kikito de Ouro de Melhor Atriz no Festival de Gramado, pelo filme “Amante muito louca”. Com sua atuação em “A volta do filho pródigo”, foi premiada pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) como melhor atriz coadjuvante em 1981.
A Rainha Valentine, da novela “Que rei sou eu?”, foi um dos personagens mais emblemáticos e populares de Tereza. Ela interpretou uma mulher de forte personalidade, fria e calculista, mas dominada por Ravengar (Antônio Abujamra), conselheiro mor do reino.
A rainha via na morte do marido, o rei Petrus II (Gianfrancesco Guarnieri), a solução para sua vida, já que era apaixonada por Bergeron (Daniel Filho), o conselheiro da Moeda. A Rainha tinha uma desagradável surpresa ao assumir o poder, após a morte de Petrus II, mãe de Juliette (Cláudia Abreu).
Ney Latorraca
“A importância dela, só de ter um grande teatro com o nome dela, foi muito importante. Ela é uma atriz genial. As peças que montou foram de grande importância política. Ela estava sempre à frente. Um exemplo é o musical ‘Gota d’água’. Aquele lugar é sagrado para todos os atores. Infelizmente eu não trabalhei com ela. Mas sempre a admirei. É como se eu tivesse perdido uma pessoa da família”.
Rosamaria Murtinho
“Era uma atriz excelente. Houve uma época que ela estava tão brilhante no Teatro Brasileiro de Comédia, de São Paulo, que tudo o que ela fazia era sensacional. Era uma muito boa atriz. É uma perda para o teatro que não tem como ser reparada. Ficamos todos mais tristes”.
Milton Gonçalves
“Tem pessoas que vem à vida e passam em branco. E tem outras que tem importância porque, em suas manifestações, eles mudam a temporalidade. E ela foi uma dessas pessoas”.
Cássia Kiss
“Eu gostaria que a gente sempre agradecesse mais às pessoas, agredecesse antes, quando elas estão vivas, antes que elas fossem embora. Mesmo assim eu gostaria de deixar esse agradecimento. Ela mostrou, ao longo da vida, que vale a pena lutar por alguma coisa”.
Reginaldo Faria
“A troca que eu pude receber sempre foi muito positiva. Ela elevava o que os atores precisam. Ela elevava o talento ao máximo. Essa é a lembrança que eu tenho dela”.
Fonte: G1