Nem bem tomou posse, Dilma Rousseff já traiu por três vezes suas promessas de campanha: nomeou um ministro da Fazenda que pensa e vai agir como pensa e agiria o indicado por Aécio Neves; a vaca nem tossiu e ela já cortou direitos trabalhistas; e, agora, seu ministro da Educação vem a público contestar o slogan anunciado, pois, com os preços do petróleo rebaixados, nem o pré-sal será suficiente para melhorar a educação no país.
Enquanto S. Exa. descansa na base de Aratu, na Bahia, nós, brasileiros, aguardamos o ano começar. Porque o ano civil já começou, mas o político-administrativo, só mesmo depois da posse dos parlamentares e da escolha dos respectivos presidentes das duas Casas congressuais. Com exceção de pobres assessores que, em escala, vão preencher o vazio de presenças matando moscas em suas mesas, pelo menos no Senado Federal. Provavelmente, também na Câmara dos Deputados…
E assim “la nave va”.
O calor, acima de qualquer expectativa, parece comprovar que a Terra marcha celeremente para um aquecimento à la James Lovelock. Esse biofísico anunciou há dias que, do jeito que a coisa anda no planeta que habitamos, poucos lugares vão continuar a existir, ou seja, o que chamamos de Escandinávia. Já estou pensando em me mudar para lá. Meu problema, porém, é que, segundo o cientista, lá vai virar outro Rio de Janeiro. Ou seja, calor como ninguém merece…
Mas tenho de me esforçar para que este começo de 2015 me pareça um tempo melhor que o ano que passou. As sombrias perspectivas na economia, na mobilidade urbana, na saúde e na educação, quem sabe, serão minimizadas pelo esforço conjunto entre novos governantes estaduais e o governo federal. O que me deixa muito preocupada é a composição do novo Congresso, com 28 partidos com representação na Câmara dos Deputados: como sonhar que haverá qualquer tipo de consenso para realizar uma reforma política, ou coisa que o valha? Uma coisa é uma “ampla base aliada”; outra, bem diferente, é conseguir que essa base atue em uníssono no que quer que seja. Até mesmo para aprovar o que Dilma anunciou: uma reforma na Constituição para tornar a questão da segurança pública de competência distribuída entre União, Estados e municípios, como deveria ter sido feito na Constituição de 1988. As primeiras providências impopulares só serão examinadas pelos congressistas a partir de fevereiro. É que, com as alterações constitucionais feitas em 2002, o prazo para apreciação de medidas provisórias não corre durante o recesso parlamentar, embora já tenham elas força de lei desde a edição.
A justificativa, na época, era a de que seria desnecessário convocar o Congresso, sob a desculpa de poupar gastos com o pagamento extraordinário aos parlamentares. Quando então as MPs criam despesas, a coisa ainda é pior. Quando os congressistas voltam a se reunir, as despesas já foram realizadas e não há mais nada que se possa fazer…E assim caminham as coisas durante as férias de verão no Brasil. Sabiam?
(Artigo publicado originalmente no jornal O Tempo)
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