A greve dos médicos do Santa Rosália acabou. A crise financeira do hospital, não

A greve dos médicos do Santa Rosália acabou. A crise financeira do hospital, não

Por David Ribeiro Jr.

Permita-me ser um pouco fatalista. Ou apenas realista como eu, particularmente, prefiro. Na semana passada um acordo duramente costurado conseguiu pôr fim na greve dos médicos do Hospital Santa Rosália. E que bom que conseguiu! Eu, como usuário do SUS que sou, agradeço a todos os que contribuíram para este acordo.

Acontece que, sem querer minimizar a importância do que foi feito, a crise financeira do Hospital Santa Rosália ainda não acabou. O que acabou foi a greve, apenas isto. O Hospital continua tendo prejuízos com a UPA, com a sua manutenção diária… a unidade coronariana continua com a possibilidade de fechamento iminente… enfim: o problema ainda não foi resolvido. O que tivemos foi uma solução paliativa. Por enquanto nada é permanente. Se não houver uma verdadeira força-tarefa para salvar o hospital, ele pode acabar anunciando problemas ainda maiores lá na frente.

E, antes que alguém deturpe as minhas palavras, não estou dizendo que existam esqueletos no armário. Não é nada disso. Até que se prove o contrário o Hospital Santa Rosália é uma entidade administrada com muita excelência e com comprometimento por parte de toda a sua equipe gerencial. O que acontece é que não há dinheiro. E é difícil para um hospital lutar contra isso. O Santa Rosália já foi até bastante empreendedor ao criar o seu plano de saúde. Mas convenhamos que é muito difícil para o plano de saúde de um único hospital disputar mercado com outros planos que oferecem cobertura estadual e nacional, sem falar nos inúmeros planos corporativos que também têm alcance pelo menos regional. Em resumo: hospital público não é empresa. Não adianta nada aumentar a produção quando o maior cliente é o SUS, e este cliente paga mal que dá dó. É claro que o hospital tem que ser gerido com a eficiência de uma empresa. Mas fato é que o hospital não é uma empresa.

Como eu disse em outro texto publicado nesta semana, é preciso rever o pacto federativo. Não é admissível que a saúde seja tratada pelo governo federal como apenas mais uma estatística administrativa. Eu me lembro de criticar o presidente FHC nos anos 90 por, segundo o PT, administrar com planilhas, com e para estatísticas. Hoje o PT está fazendo a mesma coisa. E a saúde é uma das maiores prejudicadas com a despersonalização da saúde… ah, você não sabe o que é isto. É tirar o foco da saúde pública das pessoas e colocá-lo nos números gerenciais.

Mas esqueçamos o PT um pouco — pelo menos por um pouco. É preciso que os nossos deputados (todos eles, federais e estaduais), que a Prefeitura, que a Câmara Municipal, que o Ministério Público, que os representantes do Governo do Estado e até mesmo do Governo Federal na cidade e região comecem uma força-tarefa para salvar o Hospital Santa Rosália da possibilidade de uma crise ainda maior num futuro próximo. Eu até sugiro duas forças-tarefas: uma para salvar o Santa Rosália. Outra para fazer a presidente Dilma acordar para o fato de que o nosso povo está morrendo à míngua com a sua política desastrada e desastrosa de saúde pública. Já pensou uma campanha assim tomar conta do país depois de começar aqui na terrinha?!

É bem verdade que o funcionamento do Hospital Regional vai desafogar o Santa Rosália. Mas quando, efetivamente, o Hospital Regional vai funcionar? Eu não sei. E duvido que você tenha um prognóstico.

Com a palavra, o Governo do Estado.



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