“A odisseia do álcool combustível no Brasil”, por Márcio Barbosa dos Reis

“A odisseia do álcool combustível no Brasil”, por Márcio Barbosa dos Reis

“O álcool precisa ser preservado como importante fonte alternativa e sustentável de combustível”

Márcio Barbosa dos Reis é membro da Academia de Letras de Teófilo Otoni e auditor fiscal da Receita Estadual

A história do Brasil é repleta de algumas boas notícias. Uma delas, no final da década de 70 e início da década de 80 o país se viu diante de uma crise no petróleo, e com isso, desenvolveu a tecnologia do carro movido a álcool etílico hidratado/etanol, extraído da cana-de-açúcar. Confirmou-se o dito de Thomas Hobbes: “a necessidade é a mãe de todas as invenções”. Na época, de forma tímida e com alguns problemas, o principal deles, na hora de dar a partida no veículo, no início do dia, era um “deus nos acuda”, às vezes só no tranco ele pegava, o uso do álcool-combustível caiu na simpatia popular.

O Governo Federal aderiu à nova tecnologia e criou o Proálcool para incentivar as usinas de álcool e as montadoras de veículos por ele movidos.

Mas, aquilo que prometia ser uma exuberante autonomia, em termos de combustíveis de origem limpa e sustentável, com a geração de empregos nas diversas regiões do país, na década de 90 experimentou um acentuado declínio. Sem ma política consistente, o Governo deixou de dar incentivos às usinas de álcool, com isso, muitas fecharam suas destilarias; os empresários e agricultores do setor ficaram com um “pepino” nas mãos. Por sorte e resistência, alguns empresários conseguiram superar o momento tenebroso e mantiveram o negócio ativo.

Com a descoberta do combustível fóssil, na camada do pré-sal, em 2006, mesmo não sendo renovável, de custo produtivo mais elevado e mais poluidor, a política governamental deu-lhe a preferência, colocando o etanol em segundo plano. Registra-se, uma competição injusta e desleal.

 Em 2014, em Minas Gerais, houve uma redução da carga tributária sobre o etanol, o que contribuiu para melhorar esta competitividade. Acrescente-se a isto, a implantação sistemática do motor flex pelas indústrias automotivas, vem fortalecendo o aumento do consumo deste combustível alternativo, estimulando o emprego nas usinas, nas mais diversas regiões do país, contribuindo para o desenvolvimento regional; um alento para os empresários e consumidores, que apesar de serem os proprietários do combustível fóssil, que produz a gasolina, o diesel e o gás de cozinha, dentre outros produtos, sujeitam-se a adquiri-los a preços estratosféricos.

Essa é uma prova de que as decisões políticas que o Brasil adota não prestigiam quem de fato inova, produz e efetivamente trabalha, e sim àqueles que especulam e ganham dinheiro através “das canetadas”, via decretos contendo incentivos poucos republicanos.

O álcool precisa ser preservado como importante fonte alternativa e sustentável de combustível, para se contrapor ao oligopólio das grandes empresas extratoras de combustível fóssil. A livre concorrência, tão apregoada pelos liberais, deve ser livre da ingerência e das más e obscuras opções governamentais, assim, o Brasil tem de tudo para dar certo, prova disso está na odisseia do álcool combustível.

Márcio Barbosa dos Reis

Membro da Academia de Letras de Teófilo Otoni e auditor fiscal da Receita Estadual

E-mail: marciobareis@outlook.com

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