A história do Brasil é repleta de algumas boas notícias. Uma delas, no final da década de 70 e início da década de 80 o país se viu diante de uma crise no petróleo, e com isso, desenvolveu a tecnologia do carro movido a álcool etílico hidratado/etanol, extraído da cana-de-açúcar. Confirmou-se o dito de Thomas Hobbes: “a necessidade é a mãe de todas as invenções”. Na época, de forma tímida e com alguns problemas, o principal deles, na hora de dar a partida no veículo, no início do dia, era um “deus nos acuda”, às vezes só no tranco ele pegava, o uso do álcool-combustível caiu na simpatia popular.
O Governo Federal aderiu à nova tecnologia e criou o Proálcool para incentivar as usinas de álcool e as montadoras de veículos por ele movidos.
Mas, aquilo que prometia ser uma exuberante autonomia, em termos de combustíveis de origem limpa e sustentável, com a geração de empregos nas diversas regiões do país, na década de 90 experimentou um acentuado declínio. Sem ma política consistente, o Governo deixou de dar incentivos às usinas de álcool, com isso, muitas fecharam suas destilarias; os empresários e agricultores do setor ficaram com um “pepino” nas mãos. Por sorte e resistência, alguns empresários conseguiram superar o momento tenebroso e mantiveram o negócio ativo.
Com a descoberta do combustível fóssil, na camada do pré-sal, em 2006, mesmo não sendo renovável, de custo produtivo mais elevado e mais poluidor, a política governamental deu-lhe a preferência, colocando o etanol em segundo plano. Registra-se, uma competição injusta e desleal.
Em 2014, em Minas Gerais, houve uma redução da carga tributária sobre o etanol, o que contribuiu para melhorar esta competitividade. Acrescente-se a isto, a implantação sistemática do motor flex pelas indústrias automotivas, vem fortalecendo o aumento do consumo deste combustível alternativo, estimulando o emprego nas usinas, nas mais diversas regiões do país, contribuindo para o desenvolvimento regional; um alento para os empresários e consumidores, que apesar de serem os proprietários do combustível fóssil, que produz a gasolina, o diesel e o gás de cozinha, dentre outros produtos, sujeitam-se a adquiri-los a preços estratosféricos.
Essa é uma prova de que as decisões políticas que o Brasil adota não prestigiam quem de fato inova, produz e efetivamente trabalha, e sim àqueles que especulam e ganham dinheiro através “das canetadas”, via decretos contendo incentivos poucos republicanos.
O álcool precisa ser preservado como importante fonte alternativa e sustentável de combustível, para se contrapor ao oligopólio das grandes empresas extratoras de combustível fóssil. A livre concorrência, tão apregoada pelos liberais, deve ser livre da ingerência e das más e obscuras opções governamentais, assim, o Brasil tem de tudo para dar certo, prova disso está na odisseia do álcool combustível.
Membro da Academia de Letras de Teófilo Otoni e auditor fiscal da Receita Estadual
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