O corte no Plano de Negócios da Petrobras, anunciado na noite de segunda-feira, foi interpretado pelo mercado como um sinal positivo e de transparência, embora especialistas permaneçam céticos em relação à previsão da companhia de se desfazer de ativos para gerar caixa.
As ações da Petrobras avançavam na Bovespa na manhã desta terça-feira.
Às 11:14, as preferenciais subiam 3,45 por cento e as ordinárias valorizavam-se 4,36 por cento, descolando da fraqueza do Ibovespa, que subia 0,78 por cento.
A Petrobras anunciou redução de 18 bilhões de dólares, ou 16 por cento, na previsão de gastos operacionais e investimentos para este e o próximo ano, devido à queda nos preços de petróleo e à desvalorização do real frente ao dólar.
“Ninguém acreditava mais no plano anterior, porque as premissas estavam desatualizadas. Quanto mais transparência, mais confiança no planejamento da empresa”, afirmou o professor do Instituto de Economia da UFRJ, Edmar Almeida.
Nos últimos anos, a estatal costumava ficar com seu plano de investimentos desatualizado por muito tempo e apenas o atualizava no ano seguinte. Para Almeida, a revisão apenas três meses após a publicação do plano deste ano mostra que a companhia está em uma trajetória de aumentar a confiança do mercado sobre ela.
Entretanto, o professor ponderou que a redução dos aportes permanece desafiadora, já que a empresa tem pouca margem para cortar investimentos. “Não tem como parar alguns projetos em andamento”, afirmou.
Almeida destacou ainda que a Petrobras está tendo dificuldade para viabilizar o planejamento de venda de ativos.
Na revisão do plano, a empresa manteve a projeção de desinvestimentos para o biênio 2015-16 em 15,1 bilhões de dólares, sendo 700 milhões de dólares neste ano e 14,4 bilhões de dólares em 2016.
O analista de investimentos da Whats Call Flavio Conde também destacou que a notícia do corte foi positiva e que era vista como necessária para a corretora. Contudo, lembrou que a empresa não revelou qual o câmbio que está utilizando no atual plano, o que traz dúvidas sobre qual foi de fato o corte.
Conde ressaltou ainda que o plano de desinvestimentos traçado para o ano que vem está praticamente dependente da abertura de capital da BR Distribuidora, o que eles afirmou encarar como um “grande desafio”.
“Qual investidor estrangeiro vai querer ser minoritário em uma empresa cuja controladora tem processos nos EUA? Essa é a parte mais difícil”, afirmou Conde, notando que o risco de crédito do Brasil também deverá influenciar na operação.
O BTG Pactual disse em nota a clientes que a notícia é positiva, embora, mesmo após a mudança, ainda estime geração de caixa negativa para a empresa em 2015 e 2016.
A corretora Brasil Plural disse que o mercado ainda deve questionar a capacidade da empresa de atingir sua meta de produção do próximo ano, após forte redução dos investimentos para 2016, e o Itaú BBA afirmou que mais detalhes sobre os corte do capex para o próximo ano são necessários.
A alta dos preços do petróleo no mercado externo e a notícia de que a holandesa SBM vai pagar 1 bilhão de reais à estatal como parte de um acordo de leniência a ser assinado nos próximos dias, conforme informou o jornal O Globo, endossavam os ganhos dos papéis da Petrobras.
Reuters