O médico Ademir Camilo Prates Rodrigues (MDB), que mais uma vez concorre a uma vaga de deputado federal, recebeu o minasreporter.com, ocasião em que comentou sobre uma série de assuntos relativos à política teófilo-otonense, à política mineira e à política brasileira como um todo. Ademir entrou para a vida pública quando foi eleito vereador em 1992, assumindo o mandato no dia 1 de janeiro de 1993 junto à Câmara Municipal de Teófilo Otoni. Em 1996 foi reeleito e até foi presidente da Câmara. Em 2000 foi candidato a vice-prefeito, e, eleito, teve uma forte atuação como secretário de Saúde. Em 2002 se lançou candidato a deputado federal, ficou na suplência e assumiu o mandato dois anos depois. Desde então tem estado na Câmara Federal onde tem uma forte atuação no setor sindical, uma vez que chegou a ser presidente da União Geral dos Trabalhadores. Em sua fala, o deputado critica a velha política e diz que, apesar de estar há mais de vinte anos na vida pública, se orgulha da sua enorme lista de serviços prestados aos mineiros e ao Brasil. Acompanhe a entrevista.
minasreporter.com — Minas passa por um momento melindroso. Podemos dizer que, mais do que nunca, é hora de o povo prestar atenção em quem votar?
Ademir Camilo: Claro que sim. Estamos em um momento em que Minas e os mineiros não podem errar. Nesses últimos anos tivemos muitos problemas com relação a diversos investimentos sem previsão. Tinha a previsão de gastos, tinha a previsão de custos, mas ao longo do tempo não tinha previsão de como pagar. Tivemos a oportunidade de começar a enxugar a máquina, mas, ao contrário, a máquina cresceu. Hoje, todo o governante, seja do Poder Executivo nacional, seja estadual ou municipal, encontra dificuldades. A lei de responsabilidade fiscal prevê um limite de gastos com pessoal. Atualmente, a maioria absoluta, senão todas as prefeituras, estão nesse teto. Além disso ainda há os aposentados e você tem que colocar gente nova; precisa prestar serviço, pois, a população cresceu e as demandas também. Contudo, infelizmente as pessoas não tiveram a eficiência de pensar no futuro. Não podemos mais pensar administração pública um dia apenas, alguns meses, ou mesmo alguns poucos anos. É preciso olhar para o futuro e, dessa forma, Minas não pode errar mais. Minas não tem condições de manter a sua atual situação fiscal, a sua situação econômica e política, e cometer os mesmos erros do passado. Neste momento nós temos a oportunidade em uma eleição curta, de verificar o programa, de verificar o candidato e aquele que terá as condições para tornar o nosso estado pujante e do tamanho que é Minas Gerais.
minasreporter.com — Como o senhor, que é um político atuante há mais de vinte e cinco anos, tem visto essa constante demonização da classe política por parte da mídia e da sociedade como um todo?
Ademir Camilo: Eu acho que o pior de tudo é a judicialização da classe política. Veja bem: quando se quer destruir alguém, vai lá e faz. Nós não temos esse mesmo poder e, quando as coisas que estão sendo ditas não são verdadeiras, desmonta tudo por que trabalhamos. Tem duas coisas que são fundamentais para a democracia: a “renovação”, que é de importância ímpar; mas tem algo que é maior do que tudo, o “conhecimento”. Aquilo que se conquistou você não pode perder. É por isso que eu disse no início que Minas não pode errar mais. Não estou aqui dizendo que tem que ser “A”, “B” ou “C” o nosso futuro governador. Mas temos que ter propostas bem claras. Uma situação que tem ocorrido muito em nosso país é que existe alguns jornalistas e repórteres que são candidatos. Eu estava ouvindo uma entrevista de uma pré-candidata na Rádio Itatiaia e aí, de brincadeira, alguém perguntou pra ela: “Em quem você votou para deputado?” Ela respondeu em Boy; só que Boy é vereador. Agora pense bem: uma pessoa que ser candidata a deputada e não sabe nem mesmo em quem votou na eleição anterior. Imagine o nível de consciência política dessa pessoa. E imagine o cidadão mais humilde ou aquele que não presta atenção em quem vota, ou ainda aquele que recolhe o santinho na rua e no chão para votar. Se uma pessoa dessas, jornalista, com formação, não sabe em quem votou, que dizer do cidadão comum? Outro dia me perguntaram o porquê de eu não ter votado para cassar o (presidente) Temer. Eu não votei porque íamos ter quatro eleições em um curto período de um ano e poucos meses, sendo que daqui a alguns dias, depois de vencido o mandato dele, o processo vai continuar da mesma forma, e tem que continuar mesmo. Sou a favor de que toda e qualquer pessoa seja investigada, inclusive o presidente. Contudo, naquele momento, eu não via necessidade de adiantar o processo porque o país já estava mergulhado em uma recessão. Cassar mais um presidente naquele momento iria causar um verdadeiro colapso das contas públicas.
minasreporter.com — Quais são as suas posições em relação às Reformas Trabalhista e Previdenciária? E qual a sua proposta de Reforma Política?
Ademir Camilo: Minhas posições são muito claras. As pessoas que acompanham o meu mandato sabem quais são os meus pilares. Mas, para esclarecer aos outros que não acompanham, vou explicar. Eu fiz campanha, votei contra, e trabalhei para que a gente não pudesse votar e aprovar a Reforma Trabalhista. Entendo que os efeitos começarão a ser sentidos agora pelas classes trabalhadoras. Quando você fala que patrão e empregado vão resolver as suas divergências em uma mesa, isso significa que se tirou a figura dos advogados; segundo que a Justiça Trabalhista perdeu força. Todos nós sabemos que o trabalhador é a parte mais fraca numa relação trabalhista. O patrão efetivamente visa lucro. São poucas as empresas que têm conteúdo social, nós sabemos disso. Não somos contra o sistema, até porque defendo que, quem pode, tem que pagar, e tem que pagar bem. Mas as coisas estão mudando. Hoje há pessoas que trabalham em casa, no computador, e não precisam nem mesmo ir à empresa. Então são condições que melhoraram o mundo do trabalho, que está evoluindo, mas não é tirando direito do trabalhador que as coisas vão evoluir. Algumas coisas realmente estavam erradas e precisavam mudar, mas fui contra a Reforma porque eu entendia que ela precisava ser discutida dentro do Congresso, mas aquela foi uma proposta que o Governo levou.
minasreporter.com — E com relação à Reforma da Previdência, que ainda está em pauta?
Ademir Camilo: Todos nós concordamos que a Reforma da Previdência precisa ser feita, mas eu entendo que ela deve ser para todos, seja aquele que ganha salário mínimo, até os magistrados. Eu não admito, como policial civil que sou, que a minha categoria saia da Reforma da Previdência, como os militares saíram, como saiu o Exército, e como se pretendia sair os policiais civis e os federais. Não! A Previdência é para todos. Essa Reforma é uma poupança forçada. Eu poupo para mim, não para outra pessoa. Eu entendo que as pessoas que não trabalham e que não conseguiram trabalhar, quem tem que cuidar delas é o governo, não eu e você. Cada um deve fazer a sua poupança forçada. Então, com relação à reforma da Previdência, enquanto não estiverem todos os trabalhadores, sejam aqueles que ganham salário mínimo, sejam os magistrados, que é quem mais ganha nesse país, eu não votarei. Eu fui radicalmente contra.
minasreporter.com — E a Reforma Política?
Ademir Camilo: A Reforma Política tem que ser feita, mas enquanto não tivermos eleições coincidentes, nada disso muda, pois daqui a dois anos vai parar e você não tem grupo. Nós demos um grande passo, que foi o fim das coligações. Nas próximas eleições para vereador não teremos aquele que chega e diz: “Agora eu sou presidente de partido”, “Eu tenho 30 segundos de televisão”… isso acabou. Vamos ter catorze ou quinze partidos no país com tempo de televisão, com fundo partidário, e com fundo eleitoral. Vamos ter grupo; e aquele que vem de lá para cá e de cá para lá nós não vamos aceitar. Aqui em Teófilo Otoni, por exemplo, se tivermos três candidatos a prefeito, vamos ter no máximo uns 6 partidos. O resto acabou; só vale coligação majoritária para tempo de televisão e rádio aonde tem televisão e rádio. 60% das cidades do interior de Minas têm menos de dez mil habitantes; assim, não há mais nenhum atrativo em o cara ser presidente de partido, até porque as legendas que não completarem 1% dos votos praticamente terão que acabar.
minasreporter.com — Qual é a maior dificuldade para fazer com que essa região, do Nordeste Mineiro, se desenvolva? É infraestrutura? Por que é tão difícil atrair investimentos para cá?
Ademir Camilo: Creio que temos algumas dificuldades. A primeira é a dinastia; infelizmente, ainda existe uma dinastia de que o avô foi, o filho poderia ser, mas que o neto é, ou uma dinastia de poder onde sai um e entra o outro; sai o Cruzeiro, entra o Atlético e nunca o América. A novidade aqui é que nós temos cidades que são sempre Cruzeiro e Atlético na política também. Isso faz com que, para você entrar e mostrar seu trabalho, tenha muita dificuldade com políticos antigos. Muitos desses políticos antigos não demonstram nenhuma maturidade. Quando você é da região há mais tempo; as pessoas te encontram, te indagam e te ouvem. Mas há aquele outro que vem uma vez aqui e compram a eleição, que é muito comum aqui da nossa região. É muito comum as pessoas venderem o que não têm, até porque cada um de nós só temos um voto, o nosso. Mas há quem acredite que tem muito voto e acaba vendendo isso. Eu penso que mais importante do que nós, enquanto pessoas, é a nossa região. A região é mais importante do que os políticos que estão aí, e digo isso com a consciência de estar no meu quarto mandato, e tenho procurado honrar aqueles que acreditam no meu trabalho. Hoje, por exemplo, no baixo Mucuri, de Pavão até Bertópolis, quase todos os prefeitos estão conosco. Isso quer dizer que nós começamos a trabalhar e mostrar o que fazemos. É o que nos dá a oportunidade de começar a congregar e chamar à responsabilidade aqueles que detém o comando político da região. O mercantilismo atrapalhou muito. Creio até que isso seja o principal problema da representatividade aqui no Nordeste Mineiro.
minasreporter.com — O senhor acredita que o distanciamento com a Administração Municipal foi responsável pela votação aquém do que o senhor esperava em Teófilo Otoni na última eleição?
Ademir Camilo: Sim; na última eleição nós não tivemos nenhum grupo político nos ajudando, e qualquer eleição depende de um grupo político e de uma liderança; mas, independente disso, o voto é suficiente para que a gente possa exercer o mandato e também para mostrar às pessoas que você não pode fazer besteira na política. Candidatos que tiveram aqui uma votação grande já desapareceram; candidatos que compraram eleição já desapareceram; candidatos que são candidatos a deputado e depois a prefeito sucumbiram e as pessoas não podem fazer esse tipo de aposta. A aposta para a região é muito ruim. Aqueles que jogam na política acabam com a região, mas ele também vai se acabar lá na frente. Temos diversos exemplos e eu me lembro do meu companheiro de campanha, Kemil Kumaira… isso eu aprendi com ele: “Você não precisa fugir da sua região, mas se ela não lhe der respaldo, você tem outros lugares onde é acolhido e trabalha, e muitas vezes é até venerado. É uma responsabilidade; posso não gostar de você, mas eu preciso gostar de Teófilo Otoni e de você também, e assim podemos trabalhar. Agora, em especial, há alguns recursos que colocamos aqui na Prefeitura, porém, eu não quis fazer divulgação, mas muito menos fez o prefeito. Assim não adianta. Você tem que ter uma linha, e essa reforma política é necessária para que você tenha grupo, para que você tenha responsabilidade e, principalmente, para que a grande transformação se faça no próprio município através de uma câmara de vereadores forte que possa fiscalizar com eficiência o Executivo Municipal.
minasreporter.com — O senhor disse que colocou alguns recursos aqui; Poderia dar alguns exemplos, até para mostrar àquelas pessoas que apenas te criticam?
Ademir Camilo: Acho que vou fazer um desafio a você. Ao invés de eu discorrer sobre as minhas indicações e recursos aqui alocados, sugiro que você consulte a Prefeitura, consulte o vereador Felipe Barbosa, consulte o vereador Paulo Marreco, e depois vou te dar o caminho para que você possa acompanhar as emendas que encaminhei para cá. Há situações em que o recurso que encaminhei está alocado há mais de dois anos, já foi feito a licitação, mas até hoje “não conseguiram” dar a ordem de serviço para fazer a quadra do Frei Júlio, cujos recursos já foram liberados por mim. Outro dia eu estive lá no Bairro Frei Júlio e um morador falou que era mentira minha essa história de quadra para o bairro. Ainda bem que hoje tem internet no celular e no site da Caixa Econômica Federal é possível acompanhar todas as obras com recursos liberados, e lá está escrito “Quadra Frei Júlio, obra não iniciada”. Então são caminhos que a gente demonstra e eu estava lembrando que, depois que eu dei aquele R$ 1 milhão para a reforma do Mercado Municipal, nunca mais houve reforma; o secretário da época foi comigo no Mercado, tirou foto, mandou panfleto para tudo quanto é lugar, e depois que começou na época da campanha, disse que era mentira. Assim fica difícil; é difícil você fazer as coisas e não ter o reconhecimento; e não estou falando isso para me vangloriar, não. Só estou dizendo isso para dar o crédito a quem realmente está fazendo. Acho que é só isso que cada político precisa. Ele não precisa de mais do que fez; reconhecer o que ele fez já está bom.