HERALDO LEITE | Hoje em Dia
Enquanto a economia patina, o cooperativismo mineiro exibe números de dar inveja. A movimentação financeira das 768 cooperativas mineiras chegou a R$ 43,3 bilhões em 2016, crescimento de 13,3% sobre o ano anterior. Resultado impulsionado principalmente pelas cooperativas de crédito, que vêm tomando o lugar dos bancos. Prova disso é que o total de depósitos aumentou 38% no ano passado, na comparação com 2015.
Já os dados da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) mostram que, em 2016, o total de operações de crédito apresentou recuo de 3,5%. De acordo com a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), as cooperativas cobram juros até 80% mais baixos na comparação com bancos, o que explica o bom desempenho delas.
No Sicoob, que é o sistema bancário das cooperativas, a taxa média de juros é de 2,27% ao mês. Nos bancos comerciais, conforme a Associação Nacional de Executivos de Finanças (Anefac), é de 4,58% ao mês.
Para o presidente do Sistema Ocemg (Organização das Cooperativas do Estado de Minas Gerais), Ronaldo Scucato, desde a crise mundial de 2008 pessoas e empresas começaram a “fugir dos bancos estimulando o crescimento das cooperativas de crédito”.
Segundo o professor de Economia do Ibmec, Felipe Leroy, cooperativas de crédito seguem o caminho oposto aos grandes conglomerados financeiros.
“Enquanto os bancos estão enxugando o número de agências e investindo na automação, para as cooperativas de crédito quanto mais agências maior a proximidade e contato com os associados. Essa é uma das características do cooperativismo”, afirma.
Segundo ele, o Brasil segue a tendência mundial, já que na Inglaterra, França e Alemanha 50% do sistema financeiro passa pelas cooperativas de crédito.
“Denomino esta modalidade como crédito artesanal. As cooperativas são a força da nova economia que com menor taxas de juros levam vantagem em relação aos bancos comerciais, já que não precisam fazer o depósito compulsório junto ao Banco Central”, diz.
Em Minas, as cooperativas de crédito estão presentes em 438 municípios (51% do total) com 723 postos de atendimento.
Os números do cooperativismo chamam anda mais a atenção quando comparados ao PIB de 2016, que apresentou queda de 3,6%.
Agronegócio
Segundo o presidente da Ocemg, além das cooperativas de crédito, “é o agronegócio que vem segurando a balança comercial por anos a fio”.
De fato, a agricultura mineira tem muita tradição nas cooperativas – principalmente produtores de café e leite. Mais da metade da produção cafeeira do Brasil sai de plantações mineiras, enquanto o Estado lidera a produção leiteira. Quando se fala em produção de café mineiro mais da metade do grão – 55,9% – tem a participação de cooperativas.
Emprego
Dados do Sistema Ocemg apontam que a geração de empregos no setor cresceu 5,8% em relação ao ano passado — totalizando 38.215 empregados. E até mesmo no quesito salário, trabalhadores em cooperativas ganharam, em média, R$ 2.777 no ano de 2016. Para se ter uma ideia, a média salarial em Minas, segundo o IBGE, é de R$ 1.733.
De uma maneira geral a sociedade se beneficia com os resultados do cooperativismo. O PIB per capita do cooperativismo é de R$ 29 mil, contra R$ 26.562 calculado para Minas Gerais.
Em todo o Brasil, o número de empregos formais chega a mais de 376 mil pessoas.
E o item Contribuições para a Sociedade — que contempla a arrecadação de tributos e investimentos realizados para a população, foram destinados R$ 1,6 bilhão, com crescimento de 32,4% em relação a 2015. “Todos ganham com o sistema cooperativista”, afirma o presidente do Sistema Ocemg, Ronaldo Scucato. “Trabalhamos com o sistema de inclusão e não de exclusão”, diz.
Segundo ele, todas as cooperativas são estimuladas a ter intensa participação nas sociedades onde estão inseridas. E é para este objetivo, de cunho social, é que foram criadas as chamadas sobras dentro do sistema cooperativista.
São os valores para serem “revertidos no quadro social após os descontos de despesas, dispêndios, tributos e provisões das operações de cooperativa”.
Papa
Um dos grandes entusiastas do sistema cooperativista é o Papa Francisco. É do líder da Igreja Católica Romana um dos conceitos para definir o alcance das cooperativas. “As cooperativas são inovadoras e criativas e promovem uma matemática em que 1+1 é igual a 3”.
O Papa Francisco também alinhou cinco itens para a atividade das cooperativas:
“1. Ser o motor de desenvolvimento das comunidades locais;
2. Atuarem como protagonistas de novas soluções de bem-estar, sobretudo na área da saúde;
3. A economia e sua relação com a justiça social;
4. Harmonizar o trabalho com a vida familiar; e
5. Investir bem nas soluções encontradas colocando em comum os meios, pagando justos salários.”