Nem Carlos Drummond de Andrade deixou o trabalho na repartição pública nem Guimarães Rosa largou a medicina. Mas o sonho de muito escritor hoje é “Viver de Literatura”, tema de mesa do Café Literário da Bienal do Livro de Minas, domingo (17), às 15h, com mediação de Rogério Pereira.
De um lado estará Marcelino Freire, que há oito anos deixou de vez o trabalho numa agência de publicidade, e de outro, Marçal Aquino, a quem não interessa pagar as contas só com dinheiro dos livros.
Os direitos autorais apenas pingam na conta bancária, mesmo de autores consagrados como os dois, mas alguns estão, sim, vivendo de literatura. Depois de ganhar prêmios e conquistar a crítica, Marcelino Freire, pernambucano radicado em São Paulo, é constantemente convidado para feiras e bienais, cursos e workshops, e até produz o próprio evento, a Balada Literária, na capital paulista.
Prioridades
Toda vez que revisava um rótulo de água mineral, antes da libertação do emprego, escrevia um conto. “Sempre priorizei os compromissos com a literatura e conseguia conciliar. Quando não deu mais para fazer os dois, optei pelos livros”, conta o autor de “Angu de Sangue”, que completa 15 anos com relançamento pela Ateliê Editorial.
Marcelino lança em setembro “Mulungu”, um romance polca-prosa, com dança e música, em que o maracatu dá o tom. A personagem principal é Dora, de Dorival Caymmi. “Amor é Crime”, de 2011, está em reedição pela Record.
Passou a dar oficinas de escrita, escrever artigos para jornais, permitindo a transição para uma vida dedicada aos livros. “Mas só com direitos autorais realmente não dá para viver”.
Profissionalização
Marçal Aquino é roteirista de cinema e de TV e não quer viver de literatura, mas, “viver para a literatura”. Depois de vender milhares de livros com quatro títulos da Coleção Vagalume (Editora Ática), viu outros autores de sua geração tentando se profissionalizar. “Nunca me angustiei por não viver exclusivamente de literatura”, afirma o escritor.
“Não penso nisso. Gosto de fazer outras coisas e não quero escrever por encomenda. Quando eu vivia do trabalho de redator, tinha que pegar o que aparecia. Não quero que isso aconteça com a literatura. Só escrevo por prazer”.
A mesa da Bienal terá, provavelmente, momentos picantes se ele repetir, por exemplo, a frase dita na entrevista: “Escritor que participa de tanto evento virou personagem. Tem que comprar roupa nova o tempo todo”.
Averso a redes sociais, recusa quase todos os convites que recebe para eventos. “Vou a BH porque tenho bons amigos aí. E adoro o Marcelino Freire”, diz.
(Hoje em Dia)