O retorno de doenças praticamente erradicadas no Brasil, como o sarampo e a poliomielite, reacende o debate sobre a necessidade de reforço na imunização. O desafio, porém, vai além de se proteger as crianças. Em Minas, a cobertura vacinal de adultos deixa a desejar. Das quatro vacinas obrigatórias para esse público, apenas a dose contra difteria e tétano teve a meta alcançada.
O pior cenário está relacionado à proteção contra hepatite B. Levantamento da Secretaria de Estado (SES) aponta que, de 1996 a 2018, apenas 53,3% de mineiros, incluindo todas as idades, foram imunizados. O que “puxa” a média para baixo são, justamente, as pessoas mais velhas. A partir dos 30 anos, a cobertura não atinge nem 30%, chegando a 20,4% entre os que têm mais de 60 anos.
No caso da tríplice viral, a distribuição do composto para evitar sarampo, rubéola e caxumba não alcançou o percentual esperado na primeira e segunda doses. Como resultado, são 5,47 milhões de pessoas desprotegidas. Dessas, 4,86 milhões têm mais de 10 anos.
Nem mesmo a proteção que evitaria a febre amarela foi tomada por quem deveria procurar os postos de saúde. Apesar do surto em Minas e as campanhas informando sobre a necessidade de imunização, cerca de 1,8 milhão de habitantes deixaram de tomar a dose contra a enfermidade, que já provocou 177 óbitos no Estado de julho de 2017 até agora.
“Para gestantes e lactantes, a imunização garante proteção ao bebê” (Lúcia Paixão, diretora da SMSA)
Levantamento
Em BH não há dados de adultos vacinados contra todas as doenças. Conforme a diretora de Promoção à Saúde e Vigilância Epidemiológica, da Secretaria Municipal de Saúde (SMSA), Lúcia Paixão, o acompanhamento é feito só em casos de riscos e epidemias, como aconteceu com a febre amarela.
Contra a enfermidade, 95,4% dos belo-horizontinos foram imunizados. Porém, Lúcia afirma que levar os adultos às salas de vacinação tem sido desafiador. “É notório que os maiores negligenciam a proteção”.
A diretora diz que, com o risco de surto de sarampo em várias partes do país, o levantamento de pessoas mais velhas que receberam a dose contra a doença está sendo elaborado. Os números serão divulgado apenas após a conclusão da pesquisa, mas ela garante que o balanço preliminar indica cobertura abaixo da ideal.
“Em BH, as vacinas estão disponíveis o ano todo nos 152 postos”
Riscos
Para o presidente da Sociedade Mineira de Infectologia Estevão Urbano, a solução seria ampliar as campanhas de conscientização. Além disso, ele diz que, durante atendimentos de rotina, os profissionais de saúde devem cobrar dos adultos os cartões atualizados, mesmo procedimento já realizado em consultas de crianças.
O descuido no combate às doenças aumenta o risco de surtos, alerta a infectologista Silvia Hees. Segundo ela, é preciso estar atento nesse momento em que várias enfermidades erradicadas voltam a assombrar a população. “A baixa cobertura acontece justamente quando há um movimento grande na internet contra vacinas e muitas notícias falsas circulando”.
A SES-MG afirma que imunizar adultos é um desafio mundial. Em nota, a pasta ressalta que, em partes, a baixa procura é motivada pela crença de que vacina é apenas para criança, falta de informação sobre o calendário dos postos e a baixa indicação médica. Até mesmo a dificuldade de acesso aos centros de saúde, que funcionam em horários que coincidem com os de trabalho da maior parte da população, é uma razão.
O órgão informou que o Estado tem feito várias ações para reverter o quadro, como a elaboração de notas técnicas e repasses de incentivos financeiros aos municípios. O Ministério da Saúde disse não ter dados da cobertura vacinal de adultos nem respondeu aos questionamentos sobre possíveis campanhas.
(Fonte: Tatiana Lagôa – Hoje em Dia)