Ábila, novo reforço do Cruzeiro, é fã de música, amigo de Tévez e quase parou de jogar.
No fim da adolescência, Ramón Ábila fugia do perfil de um atleta profissional. Era um gordinho, de estatura média, extremamente genioso. Poucos apostavam nele. Tanto é que seus direitos, no início dos anos 2000, foram adquiridos por uma ninharia. Um treinador de infância o comprou por 800 pesos, cerca de R$ 200 na cotação atual. Depois de muitas dificuldades no início da carreira, Ábila cresceu, arrancou elogios do ídolo Tevez, de quem se tornou muito amigo, e chamou atenção da diretoria do Cruzeiro pela sua capacidade de fazer gols.
A história de Ábila começa no humilde bairro de Remedios de Escalada, no norte da cidade de Córdoba, na Argentina. “Sua vida, na infância, foi muito humilde. Sua família é de um bairro humilde”, contou o jornalista Flavio Duran, do siteMundo D. O curioso é que sua mãe, Gloria Abila, já não planejava mais filhos, quando engravidou do artilheiro. Ele resolveu seguir os passos do pai, que era jogador amador. Ábila deu os primeiros chutes no Club Atlético Unión Florida. O campo era de terra batida e ficava próximo à sua casa.
Alejandro Accietto, um de seus primeiros treinadores, o escalou pela primeira vez como titular aos 15 anos em categorias amadores de Córdoba. Pouco tempo depois, viu a possibilidade de crescimento. Resolveu comprá-lo e o repassou ao Instituto, um dos grandes clubes de Córdoba.
“Eu era treinador do União Florida, um clube amador de Córdoba. Vi Ábila muito bem e o escalei como titular aos 15 anos. Ele fez gols nas sete partidas, foi muito bem. Tive problema com o presidente e deixei o clube. Ábila pediu para ir comigo e resolvi comprar seus direitos. O presidente me pediu 800 pesos. Comprei e o levei para o Instituto para fazer testes. Na ocasião o Instituto era dirigido por Sergio Gonzáles, um amigo. Logo nas primeiras atividades, marcou sete gols”, contou Accietto, em entrevista ao Superesportes.
Seu destino poderia ser o maior rival do Instituto, o Talleres: “Queria leva-lo ao Talleres, meu clube de coração. Mas o seu amor pelo Instituto era maior. Ele era torcedor de arquibancada, morava muito perto”, acrescentou.
Mas a carreira não decolou logo de cara. Ábila, inclusive, chegou a deixar o futebol aos 16 anos. O forte temperamento já era notado desde a adolescência. Ele recebeu um convite para jogar no Boca Juniors, mas o Instituto não permitiu sua saída. Ábila foi convencido e voltou a jogar. Logo nos primeiros treinos depois de seu regresso, encantou os treinadores com vários gols nos treinamentos. Ganhou uma chance e estreou nos profissionais do Instituto. Mas não rendeu o esperado. Foi emprestado ao Sarmiento de Junín (2011-2012) e ao Deportivo Morón (2012-2013), até voltar com mais rodagem. Destacou-se e foi vendido ao Huracán no fim de 2013.
Com a camisa do “El Globo”, Ábila disputou 108 jogos e marcou 53 gols, sendo nove nas edições de 2015 e 2016 da Libertadores (17 partidas). O atacante também se destacou na Copa Sul-Americana do ano passado, ao anotar cinco tentos e dividir a artilharia com José Ariel Núñez (Olimpia), Miller Bolaños (Emelec) e Wilson Morelo (Santa Fe).
Ídolos no futebol
Apesar de ser torcedor do Instituto, Ábila não esconde sua simpatia pelo Boca Juniors. Cresceu vendo Riquelme levantando a Copa Libertadores e se deslumbrou pelo estilo aguerrido de Carlitos Tévez. No seu Twitter, já demonstrou o lado tiete e publicou fotos com os ídolos do futebol. Ábila esteve na mira do Boca Juniors, mas o negócio não foi concluído. Tevez, muito amigo de Ábila, comentou a possibilidade de ambos jogarem juntos: “Para mim, trata-se de um grande atacante, um fenômeno”, resumir o jogador, atualmente no Boca. O encontro entre os dois terá que esperar um pouco mais, já que Ábila jogará no futebol brasileiro.
Música
“Monero hasta la murte”. A frase em sua biografia do Twitter evidencia uma de suas grandes paixões. Ábila é um fã incondicional do cantor argentino La Mona Jimenéz, um dos mais conhecidos do estilo cuarteto, um popular gênero musical argentino. A última publicação do atacante foi uma foto tirada ao lado de Jimenéz, em Miami, onde passava férias.
Em entrevista à Revista El Gráfico, em 2014, Ábial falou sobre seu gosto pela música e seus ídolos. “La Mona Jiménez é meu ídolo máximo na música. Tenho um apreço muito grande por ele. Quando o conheci, toquei o céu com as mãos. Também sou fã de Miliki Jiménez (ex-jogador do Instituto). Gosto muito do Tévez, também por sua forma de pensar, de jogar, de onde vem, como sempre viveu”, afirmou.
Apelido
Ábila ganhou, dos companheiros de time, o apelido de Wanchope, um ex-jogador da Costa Rica. O aspecto físico e a fome de gols são pontos em comum dos dois atletas. Uma reportagem do Mundo D uniu os dois em uma ligação telefônica. Foi um papo amistoso, mas sem entrosamento. Os dois não venceram a timidez.
Segundo o Ogol, Wanchope marcou 45 gols em 73 jogos pela Seleção da Costa Rica, alem de se destacar no futebol inglês (jogou por Derby County, West Ham e Manchester City). Ele disputou as Copas do Mundo de 2002 e 2006, com a equipe sendo eliminada na primeira fase. Em seis jogos por Mundiais, o ex-atacante marcou três gols.
Carasco do Cruzeiro