A decisão de reativar os voos de aviões de grande porte para a Pampulha é a flecha de morte no coração de um projeto maior que é um aeroporto chamado de Tancredo Neves, nas proximidades da capital mineira e administrado pela concessionária BH Airport. Na mesa estão todas as emoções imagináveis, inclusive declarações inadequadas do prefeito da capital, mas pouca racionalidade.
Entre as emoções devem-se incluir também os sentimentos dos passageiros que, para usufruírem da comodidade de uma distância menor, terão que se sujeitar às péssimas condições do aeroporto da Pampulha. Não tem finger (Confins tem 26 pontes de embarque/desembarque), nos dias de chuvas há alagamento e de noite, os taxis somem. O aeroporto que sustenta o nome do poeta que saiu e não voltou a BH, é dos piores do mundo em termos de infraestrutura, que foi suportada, inclusive com pousos criativos pelos pilotos experientes, nos dias de chuva, pelos passageiros. Mas, a comodidade de uma viagem mais curta, especialmente pelos ansiosos por trabalhar mais e conviver mais com a família tradicional mineira, compensam os riscos de incomodo e de falta de segurança. Não se esquecendo de que, para o aeroporto ser novamente operacional no seu nível de qualidade e segurança mínima, a Infraero, leia-se o governo e as empresas, terão que investir, o que vai elevar o custo da passagem.
Mas, vale a pena lembrar que, quando o aeroporto de Confins foi construído há 33 anos, e o projeto era de conectar Minas com o mundo (dos 42 destinos hoje, 4 são internacionais, além de servir para trânsito de cargas com infra estrutura de alfândega eficaz para a internacionalização das empresas mineiras, que importavam via São Paulo e Rio) . Em torno do aeroporto havia a intenção fazer uma zona industrial avançada, inclusive com serviços na área aeronáutica. BH teria assim um aeroporto de grande porte e mais um, além do militar de Lagoa Santa, na cidade, com serviços e para voos regionais.
A decisão da bancada mineira de apoiar a mudança do aeroporto, aliada aos políticos do PR (segundo a imprensa nacional), demonstra claramente que quem manda na política mineira e nos seu desenvolvimento é o ex-presidiário Waldemar da Costa Neto.
Mas, a questão mais grave é que você não pode fazer em Minas um contrato, como foi o da a concessão do aeroporto de Confins, que vale, porque você não sabe o que os políticos vão mudar no decorrer do contrato. E, só para lembrar, a concessionária que investiu e modernizou o aeroporto, para alegria dos seus 22 milhões de passageiros (e dos taxistas que cobram realmente uma fortuna), tem sócio suíço, o aeroporto de Zurique.
E na Suíça, onde todos se conhecem e trabalham juntos, quem terá a coragem de investir num estado onde os políticos trabalham para desrespeitar um contrato? Um tiro no pé da melhor qualidade. E uma mudança no eixo de desenvolvimento em um estado em que o único porto é o aeroporto.
STEFAN SALEJ, consultor empresarial, foi presidente do Sistema Fiemg e Sebrae MG
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