MINAS REPÓRTER — A ACE acaba de completar 80 anos no momento em que a cidade, e todo o mundo também, vive uma pandemia como não se via há mais de cem anos… Como a economia local poderá superar a crise gerada pela pandemia?

RICARDO BASTOS: Bem… esse é, sem sombra de dúvidas, um momento de quebra de paradigmas, e não apenas por causa do aniversário dos 80 anos da ACE, mas por causa de toda a conjuntura que estamos vivendo. Essa quebra de paradigmas vale não apenas para os empresários locais, mas para todos os empresários do Brasil e do mundo. O coronavírus e a Covid-19 nos obrigaram a aceitar uma fase que alguns grandes gurus como o mastercoach Paulo Vieira e alguns outros já dizem há muito tempo: “A estabilidade não existe”. Em um dia todos estávamos trabalhando de forma normal, como vínhamos fazendo ao longo dos últimos anos e décadas, e, de repente, do nada, surge esse vírus mortal… e não é exagero chamá-lo de vírus mortal porque ele, de fato, mudou todas as nossas perspectivas sobre nós mesmos, sobre convivência familiar e social, sobre negócios e até sobre a vida cotidiana. Esse vírus mata pessoas, causa terror e medo, e acaba com todo o nosso estilo de vida. Eu diria que o ano de 2020, que foi quando o vírus surgiu e se difundiu pelo mundo, nos ensinou a sair do lugar comum e nos reinventar. Todas essas mudanças que vimos ao longo dos últimos meses são só o começo de uma verdadeira revolução que está em curso e que entendo que será ainda mais perceptível em 2021, como temos visto diante de tantas mortes ocorridas nos primeiros meses do ano. Esse momento que estamos vivendo deve impactar o nosso modo de viver ao longo das próximas décadas.

MINAS REPÓRTER — O senhor acha, então, que a grande mudança ainda está por vir? É isso?

RICARDO BASTOS: Exatamente. A pandemia nos obrigou a nos despertar para a necessidade de mudança; mas como ninguém sabia que rumo seguir, estamos todos tentando encontrar um caminho comum. Alguns serviços puderam se adaptar de forma mais rápida e fácil, como os serviços financeiros, e-commerce e delivery; mas nem todo mundo conseguiu se identificar com a mudança, e isso está em fase de adaptação para a grande maioria dos empreendedores, ainda mais em cidades pequenas como a nossa. Está todo mundo aprendendo a se reinventar mais ou menos como ocorre naquele velho ditado: “Estamos trocando o pneu com o carro em movimento”. A reinvenção está em curso. O que vai resultar disso? Ainda é cedo para dizer. Mas eu espero, sinceramente, que como nação e como seres humanos que saiamos melhores desta crise. Como empresários eu tenho certeza de que sairemos melhores. Ou, pelo menos, mais fortes para conviver com as pressões do ambiente corporativo.

MINAS REPÓRTER — A ACE-Teófilo Otoni acaba de comemorar 80 anos e a festa que o senhor pretendia fazer não foi possível por causa da pandemia…

RICARDO BASTOS: Sim, não foi possível neste momento por causa da pandemia, mas ainda não desisti de oferecer ao empresariado local, e à comunidade empreendedora como um todo, uma grande comemoração dos nossos 80 anos, o nosso Jubileu de Carvalho. Enquanto as coisas não se normalizam para pensarmos em qualquer tipo de comemoração, fizemos uma revista resgatando a história da ACE-Teófilo Otoni em 60 páginas, e como uma forma de dar o devido crédito ao papel de todos aqueles que nos antecederam antes de nós conduzindo o trabalho da ACE ao longo das últimas oito décadas. Contudo, há de se ressaltar que, neste momento, a minha prioridade enquanto presidente da ACE, que é a mais tradicional entidade de representação classista da cidade, é ajudar a nossa comunidade empreendedora, desde o empresário de médio e grande porte ao pequeno e micro empreendedor a nos reerguermos no pós-pandemia. Uma vez que as vacinas começaram a ser aplicadas, o que garantirá a imunização da nossa população nos próximos três meses, é hora de repensarmos a retomada do progresso no pós-pandemia.

MINAS REPÓRTER — O que a ACE fez de prático durante a pandemia para ajudar aos seus associados?

RICARDO BASTOS: Logo num primeiro momento, a ACE, mesmo antes de termos dados concretos do tamanho da crise que seria gerada pela pandemia, já pedimos à Prefeitura algumas ações práticas, como a prorrogação das CNDs (certidões negativas de débitos) municipais, renegociação de dívidas das empresas locais, e também a desburocratização de negociação e de emissão de documentos. Isso fizemos ainda em março, antes de ser decretado o fechamento do nosso comércio. Em seguida nos unimos às demais entidades de representação classista do meio empresarial, a CDL e o Sindcomércio, e investimos mais de R$ 150 mil conjuntamente em ações de defesa e prevenção, inclusive comprando máquinas de grande porte para pulverizar, sanitizar e higienizar espaços públicos. Distribuímos, ainda, milhares de máscaras de proteção, e toneladas de álcool e gel aos nossos associados, tudo por nossa conta. Como eu sabia que ainda não era o suficiente, iniciamos algumas ações de cunho ainda mais institucional. Fizemos uma série de lives por mais de três meses com orientações práticas ensinando aos nossos associados, bem como aos empresários e empreendedores em geral, dicas de como passar por aquele momento difícil, principalmente se inserindo em novos espaços de comércio eletrônico. Inauguramos, também, a vitrine virtual CompreTeó, que oferece uma oportunidade para que os empreendedores, principalmente os pequenos, com pouca atuação na internet, pudessem apresentar os seus produtos e serviços. Como aumentou, consideravelmente, o fluxo de circulação de motocicletas na cidade, por causa da enorme procura por entregadores, lançamos um excepcional seguro para motocicletas, além de disponibilizar, tudo ainda no ano passado, uma plataforma de cursos subsidiados para os nossos jovens, comerciários, para os filhos de comerciários e para a população em geral, com dezenas de opções de cursos voltados às demandas do momento. E, neste momento, a nossa equipe está se preparando para lançar uma enorme campanha de valorização e de estímulo às compras no comércio local.

MINAS REPÓRTER — O que o associado da Associação Comercial pode esperar da entidade em 2021 e no período pós-pandemia?

RICARDO BASTOS: Em primeiro lugar, um período de muitas parcerias. Nós comemoramos, durante um café empresarial, os oitenta anos de fundação da Associação Comercial, cuja data oficial foi no dia 27 de fevereiro. E nós, também, enquanto entidade classista, queremos nos reinventar. A nossa proposta é nos aproximar ainda mais dos nossos associados, bem como de todos os empreendedores em geral, e criar um plano de ações para os próximos vinte anos rumo ao nosso centenário. Queremos que, ao longo das duas próximas décadas, indiferentemente de quem sejam os diretores, e de quem esteja na Presidência da entidade, nos firmemos como uma verdadeira bússola para apontar para o progresso, respeitando, evidentemente, a nossa história, as nossas conquistas, as pessoas que passaram pela entidade, e aprendendo com o legado construído por todos aqueles que nos antecederam a deixar uma base sólida que sirva de apoio para as iniciativas dos nossos sucessores. Acredite, vamos ajudar Teófilo Otoni e região a crescer e a se desenvolver de verdade!