— Por David Ribeiro Jr. —
Agora eu entendi por que tantas pessoas erraram feio a temática da redação do ENEM na semana antepassada. Infelizmente, nós, os brasileiros, ainda temos muita dificuldade para ler um texto e interpretá-lo de forma correta. Com relação ao ENEM 2018, por exemplo, o enunciado estava muito claro — pelo menos para mim — a respeito da sua proposta. O que ali se pedia era para discorrer sobre um problema da atualidade: “o uso de algoritmos para nortear a geração de conteúdo personalizado nas redes sociais”. A maioria das pessoas confundiu isso com fake news. Aqui, neste texto, nem vou entrar no mérito desta questão. Escreverei sobre outra coisa.
Na semana passada, depois de mais de três meses sem escrever um editorial para o minasreporter.com, voltei à ativa com o texto Daniel Sucupira na Rádio 98 FM: “Tem muita gente torcendo para tudo dar errado”. Se você ainda não leu o texto, sugiro que o faça antes de seguir adiante. Se quiser, pode lê-lo clicando aqui.
Se você já tinha lido o editorial antes, ou se o leu agora, pôde perceber que não houve nenhuma emissão de juízo de valores da minha parte sobre a Administração do prefeito Daniel Sucupira. Em momento, ou em lugar algum do texto, eu disse ou induzi alguém a pensar que a Administração é boa nem tampouco disse que é ruim. Eu me limitei a comentar uma fala dita pelo prefeito numa entrevista, fala essa com a qual concordo e cujo teor é um tema que há anos eu venho criticando — desde os tempos que ainda era editorialista do Jornal Agora, nos anos noventa.
Infelizmente, em nossa cidade existe uma cultura do “nós contra eles” que é muito perniciosa para o crescimento e o desenvolvimento da terrinha. E a maior prova disso é que, diante da proliferação do meu texto, houve uma gama considerável de pessoas que aproveitaram a situação para fazer proselitismo, uns em defesa do prefeito e sua Administração, e uma maioria criticando o prefeito e seu governo, dando a entender que era isso que eu estava propondo: uma crítica. Mas, definitivamente, não havia nada disso no texto.
Que criticar o governo e os governantes é algo legítimo e próprio de uma democracia… é claro que é! Mas desde que as críticas sejam devidamente fundamentadas. Crítica vazia é como fogo de palha: “incomoda, mas passa rápido”. Porém, embora eu defenda a legitimidade da crítica bem fundamentada, naquele meu editorial anterior não critiquei ao prefeito… nem tampouco critiquei a oposição ao prefeito.
O quê?! Como assim?! Então você ficou em cima do muro?!
Ora essa, é claro que não! Quem me conhece e convive comigo sabe muito bem que não sou homem de ficar em cima do muro. O que aconteceu naquele editorial é que critiquei um comportamento que, infelizmente, faz parte da cultura de Teófilo Otoni, indiferentemente do partido ou do grupo político. O que critiquei foi a cultura do “quanto pior, melhor” que há anos vem empurrando a cidade para o atraso e para a idade das trevas.
É verdade, sim, que esse comportamento ao qual me refiro, que hoje vem sendo praticado por muito pseudodireitista opositor do prefeito, foi muito praticado, também, pelo grupo político do prefeito quando o PT era oposição.
Mas insisto: e daí? E repito o que escrevi antes: Por acaso, os eventuais erros cometidos pelo PT local podem ser usados como desculpa para que outros grupos e agremiações cometam os mesmos erros? E, afinal, o PT foi o único grupo político-partidário que errou em Teófilo Otoni? Por acaso os outros fizeram tudo sempre certinho?
É nessas horas que precisamos nos unir ou nos apresentar de forma mais nobre e racional.
Em situações assim eu me lembro do que algumas pessoas já diziam desde os anos 90: “Só há duas saídas para Teófilo Otoni: o Aeroporto e a Rodoviária”. E hoje eu fico me perguntando se essas pessoas não tinham razão. Algumas delas, que adotaram uma dessas duas saídas, foram embora e hoje estão muito melhores em outras praças. Outras até voltaram com os bolsos cheios de dinheiro confirmando a máxima de que as briguinhas políticas que há aqui nos empurram para o atraso e emperram o surgimento de novas ideias empreendedoras, comprometendo um real avanço socioeconômico.
Às vezes eu fico me perguntando por que é tão difícil para alguns pseudocandidatos a qualquer cargo entenderem que “falar mal dos outros não te faz melhor do que o outro”. O que essas pessoas ainda não entenderam é que na atualidade a grande massa da população que, equivocadamente, tem sido chamada de povão, está buscando não apenas quem fale mal do status quo — isso o cidadão comum pode fazer sozinho. O que o povão está buscando, em matéria de política, é quem se mostre como uma alternativa viável ao status quo, ou seja, a quem aí está. Foi exatamente isso o que Daniel Sucupira fez na campanha de 2016. Ele criticou os erros da Administração Getúlio Neiva. Alguns dos seus apoiadores nas redes sociais até tentaram associar o vice de Getúlio, e prefeito em exercício, Dr. Ilter, à falência do Hospital Santa Rosália, e Daniel disse o que faria diferente se fosse eleito.
Funcionou.
Se ele, Daniel, conseguirá fazer diferente… aí é uma outra história. Mas ele seguiu com bastante maestria o que nós profissionais da comunicação chamamos de “cartilha do Marketing Político”. E é bom lembrar que Daniel fez isso durante os quatro anos em que foi vereador.
Há quem diga — em vão — que as coisas teriam sido diferentes se Getúlio não tivesse adoecido e pudesse se manter no páreo. Provavelmente, sim. Até porque Getúlio também entende muito de estratégia e de comunicação política. Mas é razoável também dizer que, provavelmente, não. Até porque nunca teremos a oportunidade de tirar a prova dos nove. A única realidade mensurável é a de que Daniel venceu. Gostando alguns disso, ou não, Daniel venceu, e venceu democraticamente. E, acredite, ele está muito bem no jogo para daqui a dois anos.
E, detalhe: A próxima campanha de sucessão municipal já começou. E há bastante tempo. Na Câmara Municipal, os vereadores estão aprovando a redução do número de cadeiras, o que, por conseguinte, reduzirá, também, o número de candidatos. E quando há menos candidatos, quem está no poder fica em vantagem. Não é uma regra, mas uma enorme possibilidade.
Eu insisto a essas pessoas que estão se opondo hoje sistematicamente ao prefeito Daniel Sucupira que, se quiserem mesmo se candidatar a prefeito, é preciso se apresentarem de forma crível como uma alternativa melhor do que o prefeito. Acredite, criticá-lo pura e simplesmente não leva a lugar algum. A experiência nos mostra que, via de regra, quanto mais se bate em um detentor de poder, mais esse detentor de poder fica em evidência, e mais se oferece a ele condições de mudar a narrativa.
Quem não concorda comigo pode argumentar com o seguinte: “E o caso Temer?”
Respondo: Teófilo Otoni é um município pequeno. Você não vai mesmo querer comparar a realidade da nossa cidade à do Brasil como um todo, onde há tantos interesses e tantas forças verdadeiramente poderosas se esforçando para se fazer ouvir? Vai? E se a sua resposta for sim, peço que fique atento para uma brincadeira ocorrida nas redes sociais logo após o resultado do 1º turno das eleições neste ano. A hashtag #ficatemer estava entre os trendig topics de várias redes. E ontem mesmo (19/11) vários prefeitos gritaram em uníssono em Brasília: “Fica Temer! Fica, Temer!” Já notou como a mídia parou de apresentar os índices de rejeição do presidente Temer? Por que será?
Finalizando, e voltando a Teófilo Otoni, torcer contra a cidade não ajuda a comunidade, e a nossa gente, em nada. Tenha a certeza de que não ajuda nem mesmo a você que é contra tudo e todos. Você até pode torcer contra o prefeito — sim, é um direito seu. É anticristão, mas ainda assim é um direito seu. Mas, por favor, se você é cidadão ou cidadã de verdade, não torça contra a cidade e contra o seu povo.
Quer ver como o que eu estou tentando explicar aqui faz sentido? Quem foi o candidato mais votado para deputado federal em Teófilo Otoni na campanha deste ano? O deputado Jeferson Botelho. Certo?
Então, quero pedir algo a você. Quero que reflita se em algum momento você viu o Dr. Jeferson criticando os candidatos “A” ou “B” durante a campanha? Eu, da minha parte, não vi. Pode até ter ocorrido em alguma ocasião específica, mas a maior parte da campanha dele foi embasada em apresentar propostas que o colocavam à frente dos concorrentes, sem precisar falar mal dos concorrentes. A carapuça que se assentasse sozinha, sem que ele precisasse colocá-la na cabeça de ninguém.
Entendeu? Ou vou ter que desenhar?
E, como eu sempre digo, quem viver, verá.