EDITORIAL: Estimular o empreendedorismo pode ser bom para o prefeito de Teófilo Otoni

EDITORIAL: Estimular o empreendedorismo pode ser bom para o prefeito de Teófilo Otoni

— Por David Ribeiro Jr. —

Ao contrário do que alguns apostavam nos anos oitenta e noventa, Teófilo Otoni vive hoje uma intensa e profunda dependência da Prefeitura Municipal para gerar empregos e renda para grande parte das nossas famílias.

Na segunda metade dos anos oitenta, logo após a redemocratização que pôs fim à ditadura militar, alguns acreditavam que o Estado (aqui como símbolo de poder público) passaria a dominar menos o dia a dia das pessoas e que a população, com uma economia mais aberta, procuraria se aventurar em empregos mais bem-remunerados junto à iniciativa privada.

Não é preciso ser um gênio para perceber que as coisas não ocorreram exatamente assim. O Estado (de novo como símbolo de poder público) é quase onipresente na vida dos brasileiros (e na vida dos teófilo-otonenses não é diferente), e a iniciativa privada, pelo menos nestas terras, está longe de gerar os tais empregos bem-remunerados que tantos previram.

Antes de você que está me lendo interpretar errado a minha intenção com este texto, não estou aqui para analisar por que isso ocorreu. Há tantas teorias e variáveis que o assunto não renderia apenas um artigo, mas um enorme livro. Assim, o que quero abordar neste texto é o perigo da atual realidade socioeconômica que vivemos.

A iniciativa privada, numa cidade pequena e pobre como a nossa, não consegue produzir um bom volume de empregos bem-remunerados. No caso de Teófilo Otoni, em especial, o comércio até que produz, sim, um bom volume de empregos, mas a maioria se resume a funções que pagam salário mínimo com um caso ou outro de gratificações ou comissões adicionais. E há outra questão que não pode ser ignorada: no comércio não há a tão apregoada ESTABILIDADE, que muita gente procura.

Como consequência desta dura realidade, grande parte da nossa população ainda procura o setor público para conseguir pelo menos TER um emprego. Até aí, tudo bem… Ou, mais ou menos. É assim em praticamente todo o País. Mas, como diria o cara que hoje está lá no Planalto, há um problema nisso daí.

Numa cidade onde se depende muito da Prefeitura, como é o nosso caso, cria-se toda uma classe de pessoas que são as “dependentes de empregos comissionados na Prefeitura”. Essa classe (e, por favor, não pense que uso a expressão de forma pejorativa. Não é a minha intenção) é a mesma que, em todas as campanhas eleitorais, forma o grosso dos cabos eleitorais desse ou daquele candidato porque acredita que, se o seu candidato vencer, obterá um empreguinho que, por mais mixuruca que seja, o(a) tornará um(a) bom(ao) provedor(a) para sua família.

Por mais legítima e justificável que seja a motivação, o resultado nem sempre é bom. Um verdadeiro exército de “defensores” de um nome hoje pode ser o exército de “agressores” deste mesmo nome, ou de outro, amanhã. E, como, atualmente, todo mundo tem acesso a justiça, o exército contrário ganhou ainda mais ferramentas para atrapalhar a vida do prefeito de turno, caso este não seja aquele em quem votou.

E aí nos voltamos para o título deste artigo/editorial: “Estimular o empreendedorismo pode ser bom para o prefeito de Teófilo Otoni”. Note que eu não disse que pode ser bom para o prefeito Daniel Sucupira. E, por que não? Porque Daniel é prefeito hoje. Alguns diriam que ele está prefeito. Seu mandato termina em 2020, embora, evidentemente, possa ser reeleito e até voltar no futuro. Contudo, a ideia deste editorial é boa para qualquer um que estiver à frente do Executivo, seja Daniel ou os seus sucessores. E usei a expressão no plural porque tem a ver com os anos que virão, e não apenas com o futuro imediato.

Se a nossa gente depender menos da Prefeitura, se focará mais nas suas próprias vidas. Se você que estiver me lendo tiver um mínimo de isenção poderá observar que a maioria das pessoas que mais criticam à Administração Municipal (e não me refiro apenas a esta, mas a qualquer uma) é formada de gente que tem interesse em ocupar o lugar de quem estiver à frente da Administração. Ou seja: querem tirar um para colocar o outro. Ou, como diriam os monarquistas: “Rei morto, rei posto!”

Isso vai mudar algum dia?

Boa pergunta. Mas é difícil dizer com certeza se vai mudar. Uma coisa eu ouso afirmar: a mudança é possível. Mas não depende apenas do prefeito. Depende de cada um de nós. Grande parte das pessoas que querem empregos comissionados é formada por pessoas que não conseguem trabalhar em outro lugar. Talvez esteja na hora de se investir mais em formação profissional. Talvez seja a hora de alguns que reclamam da falta de empregos se qualificarem para os empregos que há disponíveis.

Quer um exemplo: há muita necessidade de programadores para a cidade. O Sindcomércio, presidido pelo empresário Iêsser Anis Lauar, até está promovendo formação de programadores para ajudar a preencher essa demanda. E há falta de outros profissionais em várias áreas. Basta procurar um pouco melhor.

E, claro, os homens públicos também podem contribuir. Alguns dos nossos bacanas parecem gostar de ter tanta gente na sua cola procurando emprego, por mais que isso possa representar um grande risco para a eficiência do seu mandato.

Daí a importância de estimularmos o empreendedorismo. Apesar da crise, há vendedores de biscoitos na rua que já ganham mais do que um chefe de seção na Prefeitura. E o mesmo vale para vários outros negócios de nichos que surgem todos os dias. Uma coisa é certa: quem buscar se qualificar, só ganha.

E quem ficar esperando pra ver se o seu candidato a prefeito ganha pra lhe arranjar uma boquinha, perde. E o pior é que esta cultura implica num efeito dominó onde toda a comunidade perde junto.

Aí a pergunta se repete: isso vai mudar algum dia.

Eu insisto em afirmar que não sei se vai mudar. Nos anos oitenta e noventa ninguém apostaria nesta realidade que aí está. Mas ela aí está. O que vai acontecer daqui pra frente depende muito de cada um de nós, inclusive aprendendo a votar.

Quem viver, verá!

Por David Ribeiro Jr.

David Ribeiro Jr. é editor-chefe do Portal minasreporter.com

E-mail: davidsanthar@hotmail.com



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