O vereador Melquisedeque Gomes dos Santos (PRB), mais conhecido como Melquisedeque da Autoescola Líder, foi eleito no ano passado com a expressiva votação de 1331 votos. Evangélico, instrutor de autoescola e ex-agente penitenciário, é apontado por muitos como uma real inovação na Câmara, já que representa um segmento social até então não visto no Legislativo local, que é o da classe média evangélica, e com atuação nesta área. Na semana passada Melquisedeque recebeu o editor do minasreporter.com, David Ribeiro Jr., em seu gabinete, e concedeu uma ótima entrevista em que, entre tantos outros assuntos, avaliou o primeiro semestre de mandato, a relação com os demais vereadores e também com o prefeito Daniel Sucupira, e anunciou, para breve, o lançamento de um projeto social que promete ficar marcado na história da nossa cidade.
Vale muito a pena acompanhar o bate-papo a seguir.
minasreporter.com — Tendo em vista toda a experiência acumulada como candidato a deputado federal e vereador em três campanhas distintas, como foram os seis primeiros meses como detentor, de fato, do mandato parlamentar?
MELQUISEDEQUE: Bem… de certa forma, eu já sabia que não seria nada fácil, ainda mais quando se leva em conta as necessidades social, econômica, urbanística e outras que a nossa cidade passa e exige. A grande verdade é que, nos últimos anos, os gestores públicos deixaram de fazer muitas coisas e atender inúmeras demandas da nossa população. Por causa disso, o povo vem buscar a solução para essas demandas exatamente em nós, os vereadores, que, por uma série de razões, somos os agentes públicos mais próximos da população. É claro que, na medida do possível, estamos fazendo o nosso melhor no sentido de atender aos anseios populares que chegam ao nosso gabinete e aqueles que, com base em nossa convivência social, sabemos que existem, mesmo sem que tenhamos recebido cobranças. Eu, por exemplo, tenho defendido a bandeira do trânsito, já que sou oriundo desse meio; a bandeira do cristianismo, porque também sou cristão; mas em momento algum deixei de defender aos mais necessitados da nossa cidade, em especial a causa das crianças e dos idosos. No meu gabinete, a equipe está concluindo a elaboração de uma indicação para mandarmos à Prefeitura requerendo que se tome providências para reestruturar os escadões feitos em toda a cidade, e para colocar corrimãos nos mesmos. Imagine, você, que se até nós que temos uma saúde tranquila, quando descemos os escadões mais inclinados, como o do bairro Frei Dimas, ou do Eucalipto, por exemplo, temos dificuldade… agora pense na situação de um idoso de setenta ou oitenta anos. O risco dessa pessoa cair no escadão é enorme. Pensando nisto, em atender essas demandas da população, minha equipe e eu estamos olhando todas as áreas, temos rodado todos os bairros e alguns distritos, como Pedro Versiani, Mucuri e topázio, e verificamos algumas demandas como esgoto a céu aberto em Pedro Versiani, para o qual já fiz uma indicação à Prefeitura, além de muitos outros anseios populares que temos enumerado, e para o qual temos buscado soluções.
minasreporter.com — O seu mandato tem sido aquilo que o senhor esperava?
MELQUISEDEQUE: Respondendo mais objetivamente à sua pergunta, de modo geral, ser vereador é uma experiência muito interessante. Por sempre ter sido uma pessoa engajada socialmente, eu já tinha uma boa ideia de como seria, mas admito que me surpreendi. Até pelo fato de ser essa pessoa engajada socialmente, como disse antes, a população se acostumou a me ver sempre trabalhando e, com o mandato, aumenta ainda mais a procura e a cobrança. Mas, apesar de todo o trabalho, que toma a maior parte do meu tempo, estou gostando. À frente do mandato, tenho feito o que gosto, que é trabalhar pelas pessoas e pelo social. Na verdade, estou exercendo um papel que eu sempre fiz e gosto de fazer; porém, agora como representante legítimo do povo.
minasreporter.com — Hoje a política brasileira está muito desgastada por uma série de escândalos que estão ocorrendo em Brasília. Como vocês vereadores, aqui da base, têm feito para não permitir que todos esses escândalos nacionais respinguem na sua atividade parlamentar?
MELQUISEDEQUE: Infelizmente, os escândalos que vêm de cima para baixo acabam minando a credibilidade da classe política como um todo. De certa forma, respinga na gente, sim. Eu admito que, por estar em meu primeiro ano parlamentar, tenho conversado pouco com os outros vereadores sobre uma estratégia maior e geral para impedir que esses problemas respinguem em nós de forma institucional. Mas posso falar o que eu tenho feito. Desde que assumi o mandato que notei alguns olhares atravessados de pessoas que nos veem apenas como “mais um que entrou para a política”, como se a política fosse, por si só, algo ruim. Mas não é. Eu defendo que a política é para as pessoas boas e honestas. Os desonestos só ganham espaço quando nós, os bons, deixamos que eles nos controlem e nos mandem. É como diz aquele velho ditado: “quem não gosta de política acaba sendo mandado por quem gosta”. Eu, de minha parte, sou um homem de princípios. Eu já tinha os meus princípios antes de me envolver em política, e continuo tendo agora. Para mim, nada mudou. O mandato político é, para mim, apenas uma extensão do trabalho social que já desenvolvia antes. Meu propósito aqui é servir. E, por mais que outras pessoas também digam exatamente a mesma coisa, peço que os cidadãos analisem o meu mandato e comparem. Não estou dizendo que sou melhor do que ninguém. Mas tenho consciência de que o meu mandato pertence ao povo que me elegeu e o tenho exercido em defesa desse povo. Sem querer parecer excessivamente religioso neste momento, eu me lembro de um texto bíblico de Lucas 17, em que Jesus disse o seguinte: “É impossível que não venham tropeços, ou escândalos, mas ai daquele por quem os escândalos vierem!” Eu não quero que os escândalos e tropeços venham por mim. E procuro agir sempre de acordo com o que manda a minha consciência. O que eu peço aos meus eleitores, e aos cidadãos como um todo, inclusive os que não votaram em mim, é que não me julguem pelos outros. Julguem-me pelo meu trabalho e pela minha atuação. Eu posso dizer aqui agora para você, sem medo de errar, que não existe nada que desabone a minha conduta antes de ser vereador, e com a ajuda de Deus, continuarei a respeitar os mesmos princípios éticos, morais e religiosos que sempre regeram a minha vida à frente do mandato. Pode me cobrar.
minasreporter.com — Como está, hoje, o seu relacionamento com o prefeito Daniel Sucupira, tendo em vista o fato de o senhor ter sido eleito por uma coligação diferente da dele, mas diferente, também, da coligação do principal adversário dele?
MELQUISEDEQUE: Boa pergunta. Na verdade, temos tido um relacionamento bastante tranquilo e muito respeitoso. Admito a você que não é aquele relacionamento 100%, de base, até porque, como você muito bem colocou, eu não fui eleito por uma coligação que apoiava o prefeito, mas também não fazia oposição a ele, nem antes nem agora. Tanto eu quanto o prefeito Sucupira acreditamos que fomos eleitos para representar a população; ele na Prefeitura e eu na Câmara Municipal. Por mais que sejamos de partidos diferentes, estamos ambos do lado da população. Eu costumo dizer o seguinte: “Não sou de situação nem de oposição, mas tenho a minha posição”, que é viabilizar o melhor para a nossa gente. Eu dou graças a Deus porque, sob a minha ótica, o Daniel tem feito um trabalho tranquilo e tem procurado administrar otimizando a utilização dos recursos que tem disponíveis. Nós, vereadores, até por causa das constantes cobranças em nossos gabinetes por parte do povo, gostaríamos que ele fizesse mais, lógico! Mas entendo que, diante do que tem de recursos, o prefeito tem se empenhado bastante. Eu entendo que não é do dia para a noite que você consegue assumir o controle, de fato, de uma organização tão grande e complexa, como é o caso da Prefeitura de Teófilo Otoni, com tantos funcionários, com tamanha logística necessária para tudo… enfim! Mas é preciso que fique claro que eu, como vereador, estou aqui para defender ao povo. O prefeito Daniel sabe que todas as suas atitudes que, em nosso ver, são para o bem da população, podem contar com o nosso apoio. Aquilo que não concordamos, vamos discutir primeiro. Um exemplo foi quando foi trazido para esta Câmara uma emenda que estendia o aumento dos professores para todos os servidores da Educação Municipal. O prefeito vetou a emenda. Quando fomos apreciar o veto, eu votei contra o veto do prefeito, mas não por insurreição ou insubordinação, e sim porque a minha consciência me fazia entender que os demais servidores eram merecedores daquele aumento também. E a despesa gerada pelo reajuste não iria impactar em quase nada as contas da Prefeitura. Eu preferi, naquele momento, ficar do lado da população, mas o prefeito sabe que não sou oposição a ele e ao seu governo, e que, naquilo que for bom para o povo, ele pode contar com o meu apoio.
minasreporter.com — Como está a relação dos próprios vereadores na Câmara Municipal? Já há blocos formados? Ou isso ainda está em fase de formação?
MELQUISEDEQUE: Eu entendo que não há blocos formados ainda não. Pelo menos eu não estou inserido em nenhum. Há, sim, pessoas com ideias similares, mas a maioria age individualmente. Esta tem sido uma postura de quase todo mundo na Casa. Não há blocos para defender, por exemplo, bandeiras comuns, mas, em princípio, tem havido uma relativa harmonia. A maioria dos projetos que vieram do Executivo, e que foram colocados em apreciação pelos vereadores, visava apenas melhorias para o município. Sendo assim, até então não houve nenhuma discussão nem problema grande na Câmara. Eu até imagino que mais para a frente teremos que enfrentar algumas duras polêmicas, mas a nossa reação, individual ou coletiva, diante delas dependerá de cada caso específico.
minasreporter.com — Atualmente, as redes sociais têm sido o calcanhar de Aquiles de muitos políticos. As pessoas cobram coisas e situações que até divergem da lei, mas o “achismo” impera nesse ambiente, e o povo cobra até aquilo que não pode, ou que não deve. Como é ser vereador e ter que conversar com a população nessa nova era da informação?
MELQUISEDEQUE: Não é fácil. As pessoas pegam aquilo que veem, e saem fazendo conjecturas e cobranças. Um exemplo é o que ocorreu dia desses, onde tivemos o desgaste de uns colegas nos últimos dias por causa de um requerimento na Casa que, por mais que fosse um documento interno, de um gabinete para outro, ganhou uma dimensão muito maior. As pessoas pegam essa informação e jogam nas redes sociais a partir das suas interpretações ou pontos de vista, que nem sempre são condizentes. As pessoas parecem não pensar antes de falar ou escrever algo nas mídias sociais. Eu, como cidadão, indiferentemente da questão política, penso que só devemos lançar nas redes sociais aquilo que podemos provar, aquilo que temos certeza que está certo. Aquilo que é mito, e que não contribui para nada em nossa cidade, penso que deve ser evitado; até porque depois pode prejudicar pessoas inocentes. As mídias sociais são, em essência, uma enorme conquista para a população. Elas representam e possibilitam a democratização da informação. Mas, infelizmente, essas mesmas redes sociais abrem a possibilidade para a divulgação de ofensas e mentiras, muitas vezes até anonimamente. E isso não é bom.
minasreporter.com — O senhor é um vereador assumidamente cristão e, atualmente, vivemos um paradigma em que, embora a população brasileira se declare majoritariamente cristã, há uma inversão de valores cobrando dos políticos uma atuação laica e distância dos valores religiosos. O senhor está enfrentando esse tipo de problema em seu mandato?
MELQUISEDEQUE: Infelizmente, estou, sim. Inclusive, no primeiro mês do meu mandato coloquei em apreciação um projeto que viabilizava recursos para uma entidade cristã, porém, de atuação muito mais social do que religiosa. Estou me referindo à Agência Missões Jerusalém. Naquele momento, muitas pessoas me cobraram por causa daquela indicação que fiz, como se estivesse defendendo interesse de igreja, mas tentei deixar claro que aquela entidade, embora seja fundamentalmente cristã, não representa nenhuma bandeira, nenhuma placa de igreja, e foi por isso que nós a defendemos. Eu estou plenamente consciente, e aceito cobranças neste sentido, de que não fui eleito para defender placa de igreja. Não fui eleito para defender a igreja “A” ou “B”, mas fui eleito, sim, para defender os princípios e as crenças dos cristãos, que são a maioria dos meus eleitores, indiferentemente da igreja que frequentem. Eu defendo, sim, e assumo, a bandeira do cristianismo. E, sendo assim, defendi a agência e o congresso que ela realiza, tanto quanto defendo o evento Marcha para Jesus. São eventos que visam a promoção da cultura cristã, apenas isso. Ninguém reclama quando a Prefeitura apoia um show popular porque, em tese, está apoiando a cultura. Do mesmo modo, esses eventos que apoio e defendo, sem ser contra os outros, também defendem e estimulam a cultura cristã.
minasreporter.com — O senhor entrou na vida pública-partidária como candidato a deputado federal. Podemos acreditar que Melquisedeque tem pretensões a curto, médio ou longo prazo de dar continuidade à sua carreira política alçando voos ainda mais altos?
MELQUISEDEQUE: Pretensões? Com certeza. A materialização disso? Aí vai depender de uma série de fatores. Uma pessoa que se candidatou a deputado federal só o fez porque queria servir à população como deputado federal. Eu sabia da minha limitação naquele momento, mas me candidatei assim mesmo, e queria muito ganhar. Não ganhei, mas penso que cresci politicamente e aprendi muito sobre a convivência neste meio. Agora, por exemplo, fui eleito vereador; então, penso que preciso, antes de falar em alçar qualquer tipo de outros voos, em ser o melhor vereador que eu puder ser. Eu tenho um sonho, ou um anseio, se você preferir chamar assim, de desenvolver um trabalho social para a nossa gente, que quero começar agora no segundo semestre. Eu tenho certeza que Teófilo Otoni vai conhecer esse trabalho, que é um sonho antigo nosso, em parceria com outras pessoas, e que, inicialmente, estamos chamando de “Amigos da Comunidade”. Esse projeto virá para abraçar as comunidades periféricas e as pessoas mais necessitadas do nosso município. Em alguns dias espero poder anunciar esse trabalho na mídia.
minasreporter.com — Se tivermos que fazer um retrospecto das principais ações e indicações do vereador Melquisedeque nesse primeiro semestre, quais seriam?
MELQUISEDEQUE: Como vereador, nós verificamos várias obras da Prefeitura, inclusive a obra da COPASA, e eu gostaria de deixar claro aqui que faço parte da Comissão de Serviços Públicos Municipais, e temos feito várias reuniões com a empreiteira que está executando o serviço, e com a própria COPASA, para coibir e corrigir todos os transtornos que tivemos até aqui. O problema do asfalto ruim e malfeito que registramos em algumas vias, será refeito. Também devo atuar como fiscal do Executivo. Assim, apresentei várias indicações, como, por exemplo, faixa elevada no Centro da cidade. Já temos protocolado desde o primeiro mês desse ano essas faixas, para obrigar o motorista a reduzir a velocidade sobre esses quebra-molas, grande e pintado como uma faixa de pedestre, como já ocorre no centro de Belo Horizonte. Automaticamente, aos poucos, estaremos fazendo os motoristas entenderem o que é uma faixa, e diminuir a velocidade, e obrigaremos os pedestres a procurarem uma faixa adequada na cidade para atravessar. A minha intenção é que tenhamos umas cinco ou seis dessas faixas no Centro. Futuramente, se necessário, levaremos a ideia para outros bairros, bem como para as portas das escolas, para oferecer mais segurança. Fizemos, também, algumas indicações de calçamentos que estão parados. No final do outro mandato, muitas obras tiveram problemas e ficaram inacabadas. Defendemos a conclusão dessas obras, bem como apresentamos indicações de escadão e corrimão, contenção de esgoto a céu aberto, e também verificamos alguns problemas em escolas municipais. Eu peço um pouco de paciência à população, porque parte dessas obras, por mais que sejam necessárias, ainda não conta com recursos, mas estamos fazendo as devidas indicações e pedindo prioridade à Prefeitura. Assim temos procurado criar uma experiência bacana neste sentido. Eu quero que cada cidadão de nossa cidade tenha a certeza de que, ao final do meu mandato, terei feito o voto daqueles que acreditaram em mim valer a pena, e espero conquistar o respeito daqueles que não votaram em mim.
(Por David Ribeiro Jr.)