O consultor ARLINDO MATIAS DO RÊGO, 54 anos, foi, durante muitos anos, secretário-executivo da ZPEX Administradora S/A, empresa responsável pela manutenção e gestão do patrimônio e do portfólio da Zona de Processamento e Exportação (ZPE) de Teófilo Otoni. Atualmente, depois de um período vivendo na Alemanha, Arlindo está de volta trabalhando como consultor, em especial para uma empresa com sede em Hong Kong, mas com ações voltadas ao mercado dos Estados Unidos da América, para onde converge o trabalho de Arlindo. Diante da sua anunciada predisposição para se lançar candidato a um cargo público no ano que vem (2018), Arlindo concedeu uma longa entrevista ao editor-executivo do minasreporter.com, ocasião em que comentou um pouco do seu projeto político e da sua polêmica visão de gestão pública, amplamente manifestada em postagens diversas nas redes sociais. Vale muito a pena acompanhar a íntegra deste bate-papo, logo a seguir:
minasreporter.com — Você sempre trabalhou na iniciativa privada. O que te levou a admitir uma possível candidatura para 2018?
ARLINDO MATIAS: Isso veio em função de eu ter me tornado um cidadão desta cidade. Cheguei aqui em 1984. Eu tinha acabado de concluir o meu curso e, nesta cidade, me envolvi com pessoas e com questões sociais e partidárias, questões puramente ideológicas, e isso me tornou cidadão, não apenas cidadão de Teófilo Otoni, mas um cidadão do mundo, e isso por uma condição simples. A Praça Tiradentes que temos aqui, ainda como referência do centro comercial, me trouxe relação com o mercado regional, nacional e com o mercado internacional. Isso me abriu as portas para depois me especializar na área de Ciências Sociais com especialização em desenvolvimento político lá na Alemanha, e depois, no meu retorno, que é a maior permanência minha nessa cidade, continuar trabalhando no sistema de gemas, joias e consultorias para empresas das quais eu hoje faço… digamos assim, a minha sobrevivência.
minasreporter.com — Algumas pessoas estranham o fato de um homem do mercado se filiar e ter proximidade com partidos considerados “de esquerda”, que são contra uma maior abertura do mercado. O que motivou essa filiação?
ARLINDO MATIAS: Eu parto da prática do comunismo comum a todos. Eu quero fugir desses ideologismos baratos que se caracterizam quando se falam em instituições partidárias. O comunismo, pra mim, significa ser comum a você, ser comum a mim, ao colega da frente, e eu acho que essa ideia de comum a todos precisa ser praticada de verdade. A legislação brasileira só me permite ser candidato se estiver ligado a uma instituição partidária. Aí eu posso te devolver um pouco essa pergunta: “Como, dentro de Teófilo Otoni, estar dentro de uma instituição partidária que preze ou que realmente priorize a definição de uma candidatura nova, a não ser que tenhamos que passar por esse achismo de candidaturas consolidadas em Belo Horizonte?” Aqui você dorme candidato e acorda apenas chupando dedo”. Daí a minha escolha partidária.
minasreporter.com — Você foi secretário-executivo da ZPEX e acompanhou de perto a tentativa de um grupo de empresários para instalar uma ZPE em Teófilo Otoni. Por que a ZPE não se consolidou gerando os empregos e o desenvolvimento prometidos para a nossa região?
ARLINDO MATIAS: Olha, eu sempre ouvi da imprensa de uma maneira geral a pergunta “Quando a ZPE sairá do papel?” Isso foi bastante massificado na mente da sociedade. É como se esse valor institucional de um decreto federal que diz que a cidade pode ter uma política de tributação diferente do resto do país não fosse levado com responsabilidade. Faltou entendimento entre as classes produtivas, entre o segmento político, naturalmente com uma certa incapacidade deste que vos fala, Arlindo Matias, e também compreender melhor o que era esse jogo de interesse nesse contexto. E aí a minha culpa, minha máxima culpa. Então eu digo que faltou entendimento para um decreto federal que continua atual, porque ele não foi revogado; continua valendo e diz que Teófilo Otoni pode ter uma área de tributação diferenciada do resto do País. Eu não quero discutir ZPE; não essas três letrinhas malditas que estão aí hoje na concepção da sociedade como algo impossível de acontecer. Agora eu quero discutir com você quinhentos e dez milhões de dólares avaliados pelo setor de granito em 2010, extração de bloco de granito em nossa região que sai de Pavão, passa por Itaobim e passa pelo nosso nariz aqui sem deixar nenhum valor agregado. Eu quero discutir com essa sociedade um ponto claro: Nós temos uma das maiores bacias hidrográficas. Por que não discutir um projeto agropecuário para a produção de frutos tropicais e sucos, ou frutos cristalizados? Eu quero discutir o potencial minerador dessa cidade e região, que são produtos destinados à Farmacologia, à indústria da homeopatia, o segmento de construção civil e agropecuário… Um exemplo muito próximo de nós é que em Poté existe uma das maiores reservas de calcário do País, e vamos discutir esse calcário para quando? Quando nossos políticos trouxeram à tona esses processos de discussão? Quando nossos setores econômicos do Estado, da cidade e da região quiseram discutir as instituições de tecnologia através de nossas faculdades? Quando alguém se propôs a discutir isso com profundidade? Então, essas três letras malditas definidas como ZPE têm que ser realmente esquecidas, têm que ser lavadas da sociedade. Agora, discutir processos de desenvolvimento dessa região, utilizando o instrumento de facilidade tributária, este sim é o foco da questão.
minasreporter.com — Há alguns dias o governador Fernando Pimentel concedeu uma entrevista à Rádio 98 FM chamando a nossa ZPE de “zona franca”… Foi apenas uma questão de equívoco na nomenclatura ou foi mesmo falta de conhecimento acerca da questão?
ARLINDO MATIAS: Foi falta de conhecimento do senhor governador. Na época em que ele era ministro de Desenvolvimento Econômico, estivemos em Brasília discutindo essa questão e esses valores, uma vez que essa zona de processamento e industrialização definidas como ZPE é uma zona que processa desde à matéria prima ao produto final industrializado. A zona franca não industrializa produtos; ela monta produtos industrializados, e essa é a diferença básica. Agora o bojo desses dois instrumentos está no arcabouço do mecanismo ZPE. Existe uma maior facilidade tributária para o setor produtivo industrial do que dentro das zonas francas que já é um grande passo. Agora isso tem que ser melhor discutido e melhor difundido.
minasreporter.com — Há quem diga que o lobby do governo paulista, que é o mais rico e poderoso do País, atrapalhou um pouco a instalação de ZPE em Teófilo Otoni, no Estado de Minas. Há alguma verdade nesta afirmação?
ARLINDO MATIAS: Isso é um folclore que realmente havia na cabeça de muita gente. Algo parecido com isso ocorreu quando foi discutida a ZPE para Teófilo Otoni em 1994. À época houve, de fato, uma forte resistência da Federação das Indústrias de São Paulo, mas houve essa mesma resistência por parte da própria Federação das Indústrias de Minas Gerais também. Essas entidades nunca quiseram discutir o assunto com responsabilidade. O elemento básico para mim, para eliminar todas essas fantasias, é dizer o seguinte: A nossa região e a nossa cidade, principalmente por não conseguirem facilitar essa política tributária para o setor industrial, continuam perdendo, e perde a cada dia quando continua tratando isso de forma tão simplista sem buscar as parcerias necessárias. Vou lhe dar um exemplo muito simples: Qualquer segmento industrial deste país hoje, como o setor de construção de software de Minas Gerais, por exemplo, tem uma carga tributária das mais altas do País. Empresas de Minas Gerais vão para outros estados por causa das taxas tributárias. Se existisse uma política de desenvolvimento nesse mesmo município, que pudesse dar seguimento ao trabalho oferecendo facilidade tributária que facilitasse o seu custo de produção, tenho certeza que essas empresas iriam para essa região. E, no nosso caso, ainda estão aí as faculdades de Tecnologia para fundamentar e formar qualificação profissional.
minasreporter.com — O senhor acredita que a falta de iniciativa, competência e boa vontade de alguns políticos locais atrapalhou a ZPE? Ou eles, de qualquer modo, não teriam o poder necessário para alavancá-la?
ARLINDO MATIAS: Poder eles têm. Têm o poder de buscar segmentos ou associações ligados à produção e indústria. Aliás, eles sempre tiveram isso em mãos. Mas o assunto sempre foi tratado com simplicidade. O que eu quero dizer é que eu não me sinto como uma pessoa frustrada por essas três letras malditas não terem dado certo até esse momento. Eu acho que cada um de nós, dentro da sua experiência de vida, procura dar contribuição dentro daquilo que a gente acredita. Eu acredito que esse instrumento para a abertura de política de fortalecimento do segmento industrial brasileiro é extremamente importante; e digo isso com consciência. De todos os fóruns realizados pela Associação Brasileira das ZPE’s, nós trazemos para Teófilo Otoni as experiências de ZPE’s que estão dando certo no País, inclusive no Acre.
minasreporter.com — Uma vez que falamos do trabalho dos nossos políticos locais, falemos da sua anunciada pré-candidatura. Qual é a principal pregação de Arlindo Matias para provar que é diferente dos nomes que estão aí e merecedor do voto do cidadão?
ARLINDO MATIAS: Naturalmente que sou confrontado diariamente com o que eu tenho a propor. Eu quero deixar claro que esse é um desafio para qualquer agente que se propõe a infiltrar nesse espaçamento político. Agora eu vou dar um exemplo muito claro: Quando eu vim para cá em 1984, um paraibano vindo para Teófilo Otoni, envolvido dentro das questões sociais e formação política dessa cidade, isso me trouxe a experiência de encarar uma economia onde as pessoas abriam seus papelotes com trinta mil, quarenta mil, setenta mil dólares, 100 mil dólares que eram comerciados livremente aqui na Praça em forma de pedras preciosas. Essas pessoas não se modernizaram. Muitas delas não se modernizaram e algumas delas conseguiram se aperfeiçoar dentro das políticas tributárias, entenderam o mercado, conheceram a tendência do mercado e entenderam que o mercado é bastante abrangente, entre outros fatores. Alguns filhos de comerciantes dessa época conseguiram se modernizar e eles continuam no mercado. A maioria, não. Muitos deles, meus amigos, hoje estão nessa praça vivendo dos fenômenos antropológicos. Primeiro o fenômeno do bicho-preguiça, que é aquele que se caracteriza pelo indivíduo ficar na praça olhando a preguiça se movimentar lentamente. O segundo fenômeno, que é o gigolô de vaca, é aquele em que o sujeito conseguiu ter uma propriedade que tem algumas cabeças de gado, e vive daquilo que o leite da vaca ainda dá, sem qualificação profissional. A maioria continua nesses dois processos desses fenômenos e eu me deparo muito com isso. Aquele que necessita de um prato de comida nessa Praça Tiradentes, depois de ter dado sua contribuição econômica depois de tantos dólares nessa praça, hoje não tem o dinheiro para voltar para casa e morre à míngua nessa mesma praça. São muitos os exemplos diários que temos. O que eu quero dizer com isso é que a política mineral desse país precisa passar por Teófilo Otoni. A política de cal e de granito precisa passar por Teófilo Otoni. Esse é um desafio pessoal de Arlindo Matias. Primeiro, através de um mandato sério e responsável que possa dar assistência técnica e científica para que essas pessoas a quem me referi antes possam se modernizar e, principalmente, ter assistência educacional, assistência de medicação para estes que não conseguem se movimentar. Estão presos muitas vezes até em cima de uma cama. Está aí os sindicatos e associações, como a dos cambalacheiros, para mostrar um quadro muito sério que a nossa população hoje passa. Eu quero alimentar isso aí. Temos uma agência hoje criada recentemente, a Agência Reguladora da Mineração, cuja discussão dessa agência é a política do antigo DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral) nunca passou por Teófilo Otoni de maneira responsável, nunca esteve presente em Teófilo Otoni em nível de delegação ou de uma representatividade para discutir a produção mineral de nossa cidade e região. Os nossos deputados tiveram isso em mãos e não fizeram nada. Esse é um desafio pessoal de Arlindo Matias nesse segmento, na Praça Tiradentes em primeiro lugar.
minasreporter.com — De forma bastante específica, o senhor tem pegado pesado com os nossos atuais deputados e também com os vereadores. Qual o motivo dessa abordagem?
ARLINDO MATIAS: Eu acho que o respeito à coisa pública passa por cobrar mesmo. Esses senhores foram eleitos para também serem cobrados, e eu acho que estou exercendo a minha função de cidadão. Não coloco nenhuma acusação que eu não possa comprová-la. Então, se estou causando essa polêmica é por que há um certo fundo de verdade ou uma verdade absoluta nisso daí. Eu estou me propondo a conviver com o contraditório, com a discussão. Se procuro solucionar problemas que são gritantes é porque eles são muito emergentes nessas denúncias que estamos fazendo através das mídias sociais, e que você hoje me oportuniza falar disso aqui.
minasreporter.com — Como o senhor vê a ascensão do prefeito Daniel Sucupira? Sem querer emitir juízo de valor, se ele é bom ou ruim, ninguém pode negar que seja diferente e que esteja indo na contramão da gestão mais fechada que sempre caracterizou o seu partido…
ARLINDO MATIAS: Sim, ele é diferente. Talvez possa fazer parte de uma dinâmica que ele acredita. Eu não sou muito favorável a essa política de tapinha nas costas. Não sou favorável aquele que dá um sorriso de um lado e mastiga falando torcido do outro. Eu sou adepto da política de olhar no olho, de dizer a verdade da forma como ela vem. Aí discutimos a contradição, inclusive no processo eleitoral. Eu pedi ao prefeito atual que me olhasse nos olhos e que me dissesse algo que me convencesse a votar nele. Eu pedi para votar nele, mas não me senti convencido. Admiro aos que se sentem convencidos com as propostas que ele tem, e agora espero que essas propostas venham à tona. Quanto à autonomia e a disciplina da gestão pública, espero que ele venha a fazer isso. Eu não estou aqui apenas para fazer uma oposição contrária. Se nós pudermos contribuir com ideias e parcerias, estarei fazendo, mas nada me tira o eixo de olhar nos olhos e dizer aquilo que entendo como verdade.
minasreporter.com — O senhor disse que pediu para ser convencido a votar. Infelizmente, isso não é uma prática comum. Há sociólogos que defendem que a roubalheira que existe em Brasília nada mais é do que um reflexo da moralidade da nossa população. Como convencer a um eleitor que já chega te perguntando quanto vai ganhar para votar?
ARLINDO MATIAS: Eu costumo dizer que a única coisa que eu tenho a oferecer é a minha verdade. Eu não tenho nada a dar em relação a bens materiais. Eu tenho ideias de projetos sociais que atendem a segmentos que estão necessitados. Isso eu tenho. É um foco pessoal; é uma proposta pessoal minha; é um compromisso que eu assumo com o segmento da garimpagem. Mas esse desenvolvimento da incredulidade nós estamos desenvolvendo no cidadão comum, no cidadão de boa formação, no cidadão de maior recurso e, no contexto político, eu acho que nada tira isso. Não é uma coisa só do Brasil, não; é mundial. Os jogos de interesse são refletidos e praticados dessa forma por que a mais-valia é muito envolvente; ela é muito facilitadora na vida de um ou de outro e, às vezes, as pessoas defendem qualidade de vida e são apegadas às questões materiais. Eu não me proponho a isso. Eu me proponho a ter e partilhar aquilo que eu acredito que é comum a todos. É o que alguns definem como comunismo.
minasreporter.com — Ainda vale a pena acreditar em Teófilo Otoni, em Minas Gerais e no Brasil?
ARLINDO MATIAS: Não tenho nenhuma dúvida disso. Essa cidade me tornou homem, me tornou cidadão. Essa cidade hoje tem a possibilidade de uma conversão de valores muito grandes. Esses instrumentos precisam ser utilizados. Essas propostas que foram apresentadas em campanha junto com as universidades precisam vir com uma prática. Nós temos aqui hoje formação na área de Engenharia Hídrica nesse país, e o melhor caminho para se discutir os recursos das bacias hidrográficas que nós temos. Então são questões muito pontuais que precisam ser discutidas. Nós temos um centro de formação tecnológica na Universidade Federal; mas para onde está indo essa mão de obra? Nós só podemos discutir esses setores de produção de tecnologia para se instalarem dentro de Teófilo Otoni utilizando das facilidades tributárias e da simbologia da ZPE, que é um decreto federal que permite que o município tenha uma política tributária diferenciada.
(Por David Ribeiro Jr.)