Por Mary Ribeiro
O primeiro capítulo de uma novela costuma ser um cartão de visitas: tem que passar uma boa impressão. Foi assim com “Babilônia”. E foi assim também com “A Regra do Jogo”, a trama das nove que a Globo estreou nesta segunda-feira (31/08), de João Emanuel Carneiro, “o mesmo autor de “Avenida Brasil”, conforme anunciado nas chamadas.
O novelista tratou logo de deixar claro para o público do que se trata a sua história e o que está por vir nos próximos meses. A dubiedade do ser humano, o que ele aparenta e o que realmente intenciona. Como no jogo de xadrez humano das primeiras chamadas, o claro e o escuro de cada personagem.
Tóia (Vanessa Giácomo) foi apresentada como uma garota batalhadora e justa. Mas que, mesmo assim, não pensou duas vezes antes de roubar a patroa, Adisabeba (Susana Vieira numa personagem que parece feita sob medida para ela) para salvar a vida da mãe, Djanira (Cássia Kis Magro). Juliano (Cauã Reymond), saiu da prisão ávido por vingança contra os que o puseram na cadeia por um crime que ele diz não ter cometido. Atena é uma estelionatária (e Giovanna Antonelli rouba a cena) que engana para se dar bem. E Romero Rômulo (Alexandre Nero) finge ser o que não é em benefício próprio.
Os personagens que os circundam – parentes, amigos, vizinhos, opinião pública – pintam cada um a partir do que sabem sobre eles. E o telespectador também, cria a sua opinião em cima do que vê na novela, das informações que o roteiro vai passando. A proposta do autor é fazer o público montar esse quebra-cabeça a partir do seu julgamento, do que considera certo ou errado. A premissa de “A Regra do Jogo” é das mais interessantes e pode render muito.
A direção foi o ponto alto dessa estreia. Excelente toda a sequência do resgate no confronto entre bandidos, polícia, e Romero Rômulo, o mediador. Parece que o público já tem uma vilã para amar, odiar ou expurgar o dia-a-dia: Giovanna Antonelli fez de sua Atena um tipo nunca visto antes na pele da atriz. A “caixa cênica” da diretora Amora Mautner – cenários fechados com câmeras escondidas – aproxima o telespectador dos personagens sem o uso de closes marcados e estáticos. É uma novidade.
Durante o período de chamadas de estreia, foram inevitáveis as comparações com “Avenida Brasil”. Mas pouco foi visto do sucesso anterior de João Emanuel Carneiro. A novela atual está com uma fotografia diferente, tem uma trilha, digamos, mais eclética (não apenas popularesca). As principais tramas lembram mais “A Favorita” (outro sucesso do autor). Se bem que ainda não entraram os núcleos de humor…
Foi uma estreia correta e objetiva, em que o público conheceu os protagonistas e suas tramas. Dá para vislumbrar uma boa história para os próximos meses. Mas, até aí, “Babilônia” também teve uma excelente estreia… Que venham os capítulos seguintes.
Fonte: Uol