Com um discurso pela necessidade de mudança no estado, o ex-presidente da Assembleia Legislativa ex-deputado Dinis Pinheiro (PP) vem percorrendo os municípios mineiros na tentativa de se viabilizar como candidato ao governo de Minas. Depois de concorrer como vice na chapa do ex-ministro Pimenta da Veiga (PSDB) em 2014, ele trabalha para encabeçar uma chapa com o apoio do grupo político dos senadores Aécio Neves e Antonio Anastasia, mas também não condiciona sua participação na disputa a esse suporte. O político se coloca como novo e promete ser implacável ao combater os cabides de emprego na administração pública. “Primeira coisa que Minas tem que fazer é sanear as finanças e acabar com os privilégios e mordomias”, disse. Dinis também afirma que, se chegar ao governo de Minas, o estado será um indutor do desenvolvimento, buscando parcerias com o setor privado. Na entrevista ao Estado de Minas, o pré-candidato fez várias críticas ao governo Fernando Pimentel (PT), que chamou de perdulário e ineficiente.
O senhor. tem percorrido MG e se colocado como alternativa para o estado. O que o mineiro pode esperar dessa alternativa?
Precisamos de mudanças profundas tanto em Minas como no Brasil. Olha a LDO de MG para 2018, um rombo de R$ 8 bilhões, a despesa corrente dando um salto de R$ 21,6 bilhões para R$ 25,6 bilhões no custeio da máquina pública. E justamente naquilo que poderia ser uma boa notícia, que é o investimento, temos uma retração de 46%. Minas não está em um bom caminho. Temos um estado perdulário, ineficiente e que infelizmente nos apresenta uma agenda na contramão do desenvolvimento. Primeira coisa que Minas tem que fazer é arrumar a casa, sanear as finanças acabar com os privilégios, com as mordomias. E investir na educação.
Com que mordomias acabaria?
Onde você identificar privilégio, mamadeira, já era, acabou. Serei implacável. Em Minas, foram criadas seis secretarias. Tem secretário ganhando R$ 60 mil, R$ 70 mil. Você vê a Cemig e a Copasa, ali agora é o retrato da ineficiência e da ineficácia, aquilo virou cabide de empregos. São duas grandes empresas que hoje estão prestando serviço ao poder, ao partido. Temos que acabar com esse estado patrimonialista, do empreguismo, do toma lá dá cá, e adotar uma nova cultura. Minas tem de dar um salto para o futuro, iniciar um novo ciclo de progresso. Tem ter uma prática administrativa diferente, empreendedora e modernizadora. Agora, o povo está cansado de discurso político, mas minha vida é de atitudes. Na Assembleia, acabamos com o pagamento do 14º e 15º salários, com o pagamento das sessões extraordinárias e auxílio-moradia. Instituímos o voto aberto. O político tem que ter coragem para fazer o que é fundamental para deixar sua marca, senão não vale a pena.
O estado vive sua maior crise financeira com um orçamento deficitário. Como pretende conseguir recursos para investir?
Temos que adotar uma cultura diferente, alicerçada na ética, na transparência, no respeito ao dinheiro dos impostos do cidadão. Minas está em crise, mas outros estados também estão. Por que outros estão tendo uma capacidade maior de superar problemas e entraves? Vamos olhar o Paraná, qual economia mais robusta e pujante, Minas ou Paraná? Vamos olhar o Ceará, qual economia é mais forte? Vamos dar uma olhadinha no Pernambuco, Espírito Santo, se eles têm honrado ou descumprido compromissos na área de saúde igual aqui, que (o estado) está devendo R$ 2,5 bilhões só às prefeituras.
Qual erro o senhor enxerga na atual administração?
Esse governo aí tem alergia a austeridade, é um governo sem planejamento, sem visão de futuro, sem determinação. Temos que revolucionar nossa educação, apostar tudo no professor. Carreira de professor tem que ser atraente, competitiva. Vamos olhar como está o Ideb nos anos iniciais da educação fundamental: Minas tinha a 1ª posição, agora tem a 2ª. Nos anos finais, Minas tinha a 1ª posição, hoje é 5º. No ensino médio tinha a 4ª posição, e hoje é o 7º. É um retrocesso. Você tem que radicalizar na infraestrutura, tem que chamar a capacidade empreendedora de investimento do setor privado, acreditar nele, fazendo PPPs, concessões, trazendo a sua experiência. Se você acreditar em Minas, tiver confiança e credibilidade, vai atrair recursos. O estado tem que ser indutor do desenvolvimento para abrir oportunidades ao setor produtivo.
O atual governo diz que o déficit e a situação difícil do estado foram herdados da gestão anterior, que era do seu grupo político e esteve 12 anos no poder. Como o senhor responde?
Governo que esquece o presente e olha pra trás pode perder o futuro. O governo passado teve muitos aspectos positivos, foi um governo dinâmico e não descumpriu nenhum compromisso. O servidor público estava recebendo em dia ou não? Os hospitais estavam sendo construídos ou não? As polícias estavam sendo equipadas ou não? As creches recebiam em dia ou não? O transporte estava em dia ou não? O 13º pagou em dia? Também. Precisa falar mais alguma coisa?
O senhor concorreu como vice na eleição passada, na chapa de Pimenta da Veiga, que perdeu para o atual governador. O que deu errado naquele momento?
Tem que perguntar para os mineiros. Acho que a alternância de poder é legal e saudável, deu oportunidade ao PT e ao Pimentel, o povo está tendo a oportunidade também de fazer uma reflexão mais profunda. Política é feita de altos e baixos, de acordo com a vontade mutante do povo. Naquele momento não obtive a vitória eleitoral, mas obtive a vitória política, porque para todo lado vi carinho e admiração das pessoas.
Parte do PSDB e do seu grupo político ainda sonha com a candidatura do Ansatasia, embora ele próprio já tenha se negado a concorrer. O senhor acha que vai conseguir agregar todos?
Acho que vai ter união em torno da mudança, de um novo projeto de desenvolvimento. Claro que esse grupo é muito grande, muito expressivo, e é natural… até não vou falar que ‘ah! você vai conseguir a união’. Deixa as coisas aconteceram com naturalidade. Até porque, falando aí nas últimas eleições, a naturalidade é a grande conselheira das soluções políticas. Naquele momento não houve naturalidade, talvez esteja aí o erro.
Existe a possibilidade de o Aécio ser candidato ao governo. O senhor abriria mão para ele?
Em primeiro lugar, nem sei se sou candidato. Eu não descarto essa possibilidade. Agora, acho que tem um sentimento que está guardadinho no coração do mineiro, que é o sentimento de mudança, de novos tempos, de algo diferente. O Aécio foi um grande governador, fez um governo transformador.
O senhor quer o apoio dele para concorrer ou acha que o desgaste que ele sofreu com a Lava-Jato poderia atrapalhar?
Cada coisa no seu momento, com muita serenidade. Ele fez um grande governo, um governo transformador. Com relação ao futuro, todo mundo vai ter o seu papel, a sua importância. O que é fundamental é essa harmonia em torno de um projeto que represente a mudança, a renovação. Acho que ele está mais preocupado agora com essas questões aí, ele tem que se dedicar à sua defesa, acho que é a maior preocupação dele.
Caso o senhor não se viabilize como candidato do grupo do PSDB, concorre mesmo assim? O senhor não pode ficar no meio de uma polarização entre PT e PSDB?
Posso ser e posso não ser. A gente tem que fazer aliança é com o povo. O povo quer mudança de atitude, quer mudança de valores, uma política diferente, uma política nova, boa, decente. Tem que parar com essa polarização, com esse ambiente de radicalização, de PT e PSDB. Vamos acreditar no povo, deixar o povo buscar um caminho. Acho que a construção espontânea, natural é alicerçada de baixo para cima, é isso que eu prezo.
O eleitor descrente com a política. Como pretende convencê-lo de que vai fazer diferente?
Eu fiz diferente. Fiz o que o povo esperava de mim, uma vida reta, limpa, decente. Minha vida é uma vida de atitudes, sou uma pessoa que, às vezes, querem me diminuir por isso, mas tenho cheiro de povo, me preocupo com eles, procuro curar a dor das pessoas acima de tudo. Tenho o respeito do povo. Acho que essa é a mudança que o povo está querendo, é de atitudes, de vergonha na cara, de respeito com eles.
Mas o senhor faz parte de um grupo político, não dá para se descolar disso.
Vamos revisitar minha história. Fui filiado no PSD, como deputado mais jovem, depois eleito pelo PL, depois fui para o PSDB, deputado mais votado de Minas duas vezes, e depois PP. Você pode observar que a minha ligação é realmente com o povo. Sempre devotei o povo. Já participei diversos grupos. Fiz campanha pro Lula e o José Alencar, acreditei neles, qual o problema? Fiz campanha para Aécio, Anastasia, Ulysses Guimarães, pro Itamar Franco. Mas acho que o melhor voto que dei até hoje foi no Dinis Pinheiro, que é o filho do Tonico e da Irene.
(Estado de Minas)