Azimut, que mantém no país sua única unidade de produção localizada fora da Itália, ganha mercado com embarcações que custam até 45 milhões de reais.
Entre 1992 e 2010, a fabricante italiana de iates de luxo Azimut produziu suas embarcações no Brasil por meio de uma parceria com uma companhia local, a Intermarine. Após a morte do fundador da sua associada, Gilberto Ramalho, em 2009, a italiana decidiu assumir diretamente as operações e criou seu próprio estaleiro. Não parecia fazer sentido deixar um país com economia em franco crescimento, como era o Brasil de 2010. Passados seis anos, a economia brasileira enfrenta sua maior recessão já registrada, mas a Azimut, que em 2010 decidiu ficar no país, segue em ascensão – um feito que já é raro para empresas de quaisquer setores neste período de retração econômica, mas salta ainda mais aos olhos por se tratar do restritíssimo nicho de iates para endinheirados.
Com o fim da sociedade, a empresa decidiu assumir diretamente as operações e criou seu próprio estaleiro, o único da companhia fora da Itália, localizado em Itajaí (SC). A Azimut aumentou seu portfólio – de dois para oito modelos – desde então, cresceu 15% no último ano e planeja dobrar sua produção nos próximos dois anos. Só no Brasil, a companhia espera vender 45 iates em 2017. Ela também atua em outros segmentos relacionados, como financiamento de barcos e administração de marinas.
“Nós não queríamos sair do Brasil e perder a participação de mercado que já tínhamos”, disse ao site de VEJA o gerente de negócios global da Azimut, Marco Valle, um dos representantes da empresa na edição mais recente do São Paulo Boat Show, realizado na última semana. O executivo calcula que a empresa já tinha investido cerca de 25 milhões de euros (88 milhões de reais no câmbio de hoje) no país durante a extinta parceria com a Intermarine.
A decisão de seguir no país não teve relação apenas com a clientela potencial. A avaliação é que o país tem muito espaço bom para navegar, poucos barcos e, apesar das conhecidas dificuldades locais, como burocracia e dificuldade em licenciamentos ambientais para obras de infraestrutura, é muito atrativo para a fabricação desse tipo de produto.
Uma das saídas para a produção continuar crescendo mesmo na crise foi exportar parte da fabricação local para países vizinhos e para os Estados Unidos. A produção em Itajaí pode servir para o crescimento da empresa, também, porque as instalações na Itália estão perto do limite da sua capacidade. “Neste ano, vendemos daqui barcos para o Paraguai, Uruguai, Colômbia, além dos Estados Unidos”, afirma Valle.
Um dos desafios da marca foi manter o nível de qualidade dos produtos feitos por ela no exterior. Atualmente, itens como tapeçaria e mobiliário são importados da Itália. Mas há também nuances tipicamente brasileiras. “Com o conhecimento da engenharia italiana e a cadeia de suprimentos americana, nós produzimos neste ano quinze unidades de um novo modelo, totalmente inventado, criado e desenvolvido aqui no Brasil”, diz Valle. Uma das inovações surgidas a pedido dos brasileiros, e que as fabricantes de iates começaram a adotar aqui e lá fora, é a instalação de churrasqueiras na parte traseira da embarcação. No iate desenvolvido no Brasil, esse é um item de série.
O custo de um iate de alto luxo da Azimut fica entre 2,5 milhões de reais e 45 milhões de reais. Para os compradores, os gastos anuais com manutenção ficam em torno de 3% do valor. E os clientes desse tipo de produto trocam de barco em média a cada três anos – antes da crise mundial de 2008, o tempo era de dois anos. O maior modelo da empresa apresentado no São Paulo Boat Show tem 22 metros de comprimento, três pavimentos, quatro suítes e ostenta a grife italiana Armani.
(VEJA)