Gilberto Nascimento, presidente do SITESSTOR: “Ou o trabalhador se une, ou seremos atropelados”

Gilberto Nascimento, presidente do SITESSTOR: “Ou o trabalhador se une, ou seremos atropelados”

GILBERTO NASCIMENTO, presidente do SITESSTOR (foto: Sérgio Margins | SM Vídeo Produções)

Por David Ribeiro Jr. —
TEÓFILO OTONI

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Serviços de Saúde de Teófilo Otoni e Região (SITESSTOR), Gilberto Reis Nascimento, recebeu o minasreporter.com na sede do Sindicato, ocasião em que aceitou falar sobre uma série de assuntos relacionados ao sindicalismo nacional e, em especial, sobre a sua atuação à frente da Presidência do SITESSTOR, sediado em Teófilo Otoni. Em sua fala, Gilberto foi muito enfático ao dizer que, atualmente, existe um verdadeiro complô formado por grupos poderosos que têm agido contra a classe trabalhadora brasileira, mas também disse estar confiante que o povo, hoje em dia muito mais esclarecido, saberá resistir. Ainda de acordo com Gilberto, é por causa dessa pressão contra o trabalhador que, neste momento, talvez mais do que em qualquer outro da história, os sindicatos precisam ser fortalecidos. “Em Teófilo Otoni estamos fazendo a nossa parte. Um exemplo disso é a nossa atuação em defesa dos funcionários do Hospital Santa Rosália em momentos de crise… mas queremos, com a ajuda do povo, fazer muito mais”, explicou.

Vale muito a pena acompanhar este bate-papo, que você confere na íntegra, a seguir:

minasreporter.com — O senhor acaba de promover a maior festa da Saúde de todos os tempos, mesmo num momento em que o Sindicato passa por momentos de dificuldades financeiras. O momento era mesmo oportuno para este tipo de comemoração?

GILBERTO NASCIMENTO: Permita, por favor, que eu divida a sua pergunta em três partes e as aborde assim, por partes, na minha resposta. Primeiro você diz que eu acabei de promover a Festa da Saúde. Obrigado pela sua fala lisonjeira! Mas “eu” sou apenas um dos elementos envolvidos na organização da festa. O evento é, na verdade, o resultado de toda a nossa diretoria envolvida neste processo de buscar diuturnamente dar a melhor representatividade possível aos nossos associados. Então, este primeiro aparte: Não sou eu quem promovi a festa; foi o Sindicato como um todo, com o envolvimento direto da nossa diretoria, bem como de muitos associados que todos os anos se oferecem para ajudar nos preparativos. Dito isto, vamos à segunda parte da sua fala, a questão dos problemas financeiros do Sindicato. Graças à gestão série e proativa que a nossa diretoria empreendeu ao longo dos últimos quinze anos, o nosso sindicato não atravessa dificuldades financeiras. O que ocorre é que, com o fim do imposto sindical, perdemos uma das mais importantes fontes de receitas para subsidiar os nossos programas, projetos e ações diversas, que eram muitas… até porque somos, modéstias à parte, um dos sindicatos mais atuantes de nossa categoria em Minas Gerais. Mas, como eu acabei de dizer: Ao longo dos anos da nossa diretoria, sempre priorizamos por uma gestão séria e comprometida com resultados de fato, o que nos permitiu ter condições de manter a nossa estrutura funcionando normalmente, mesmo com o fim do imposto. É claro que se houver mais recursos haverá, também, mais ações em desenvolvimento. Mas pode ter certeza de que as atividades sindicais terão continuidade da mesma maneira. O que estamos fazendo para diminuir nossas perdas é pedir que os profissionais da categoria se associem e que contribuam voluntariamente como já o faziam antes, quando era uma obrigação legal.

O presidente do SITESSTOR, Gilberto Nascimento (ao centro) comemora junto com a sua diretoria as muitas conquistas que a atual gestão oportunizou aos sindicalizados (foto: SANTHAR/minasreporter.com)

minasreporter.com — E mesmo assim, com a redução dos recursos, o senhor optou por promover a maior festa da saúde de todos os tempos?

GILBERTO NASCIMENTO: Eu, não. Insisto que a festa é promovida por toda a diretoria do Sindicato. E, sim, nós optamos por promover esta festa como uma forma de nos desafiar a nos superar, e também de estimular o nosso associado a entender que nunca o deixaremos na mão, sem assistência e sem representação. Os poderosos de turno podem até tentar nos encurralar e impedir o nosso trabalho extinguindo o Imposto Sindical, mas, quanto a isso, eu tenho dito que onde faltam recursos sobra boa vontade para trabalhar. E a prova disso foi, de fato, a festa maravilhosa que realizamos, como você mesmo muito bem colocou. Com a realização desta festa nós pretendíamos mostrar ao nosso associado que ele, ou ela, é mais importante do que qualquer atitude de governo. Se nos unirmos, podemos mais. Nós sempre poderemos mais. Alguns nomes da diretoria conversaram comigo, em particular, e até sugeriram que cancelássemos a festa, ou que a adiássemos. Mas a maioria optou por mantê-la em respeito ao nosso associado.

minasreporter.com — Falando, especificamente, de Teófilo Otoni, como o Sindicato pretende sobreviver a este momento difícil?

GILBERTO NASCIMENTO: Como eu te disse, nós estamos trabalhando nisso da maneira mais lógica possível, que é não ceder à pressão de quem deseja acabar com a representatividade da classe trabalhadora. O SITESSTOR tem uma história muito bonita e de resultados para os seus sindicalizados. Vou te dar alguns exemplos: O nosso associado tem um desconto de 50% nas mensalidades para qualquer curso da Universidade UNIPAC, e hoje já há outras instituições buscando costurar esse tipo de parceria com a gente também. Nós oferecemos aos nossos sindicalizados um plano de saúde da Unimed com uma tabela de descontos de aproximadamente 50% em relação ao preço de tabela cheia, o que é significativo e importante, além de convênios em lojas e empresas diversas. Contudo, faço questão de deixar claro aqui que, de todas as nossas conquistas, de todos os benefícios que ofertamos, o que considero mais importante é o fato de que o Sindicato, e em especial a nossa gestão nestes últimos 15 anos, devolveu ao trabalhador da saúde a sua dignidade. Antes trabalhar na área da saúde era visto como “empreguinho”. Hoje as pessoas têm orgulho do respeito conquistado para a categoria. E, neste mote, acabamos de lançar uma campanha para que os nossos sindicalizados se unam a nós no desafio de filiar pelo menos mais 500 (quinhentos) novos associados ainda este ano para que tenhamos mais base e, com isso, mais condições de representar melhor a categoria, como fizemos, por exemplo, com os funcionários do Hospital Santa Rosália.

minasreporter.com — E de que forma o Sindicato apoio os funcionários do Hospital Santa Rosália?

GILBERTO NASCIMENTO: Veja bem: no auge da crise do Hospital, até mesmo funcionários que ganham algo em torno de um salário mínimo ficaram sem receber. Foi, modéstias à parte, a atuação do Sindicato que viabilizou um acordo, com o endosso do Ministério Público, para que o Hospital acertasse tudo o que devia aos seus colaboradores, e passasse a tratá-lo com mais respeito.

minasreporter.com — Quando o senhor fala muito sobre se filiar ao sindicato, não teme que fique parecendo que o senhor só quer o dinheiro do sindicalizado, que terá que pagar algum tipo de contribuição?

GILBERTO NASCIMENTO: Ótima pergunta! E obrigado por me permitir esclarecer isso. Na verdade, é bem o contrário. A maioria de nós já ouviu falar de algum sindicato pelego, e, infelizmente, isso existe por aí, em que os seus diretores aparecem na sede para jogar conversa fora e não empreende sequer uma ação para defender os interesses da categoria. Não é o nosso caso. Como a nossa gestão é formada, de fato, por pessoas que trabalham na área da saúde, lutamos para oferecer a melhor representação possível à categoria. Quando o profissional se filia ele está, na prática, nos passando uma procuração para defendermos o seu interesse junto à classe patronal. Foi o caso dos colaboradores do Santa Rosália, cujos interesses já defendemos algumas vezes com ótimos resultados para a categoria. Por outro lado, existem inúmeras clínicas e outras unidades por aí que não têm sequer um funcionário sindicalizado. Por lei, não podemos negociar benefícios para essas pessoas e, quase sempre, elas ficam no prejuízo. É por isso que é importante se sindicalizar. A classe trabalhadora precisa se unir e se organizar em defesa dos seus próprios interesses. Com o fim do imposto sindical, precisamos ainda mais que a categoria se una. Quem propôs o fim do imposto sindical não queria outra coisa senão que os sindicatos perdessem a sua força e parassem de lutar, de representar e de defender os interesses da classe trabalhadora. Vamos mostrar pra essa gente que, mesmo sem o imposto, ainda temos a nossa força.

minasreporter.com — O senhor acredita mesmo que o fim do imposto foi orquestrado por pessoas que querem o fim da representação sindical no País?

GILBERTO NASCIMENTO: Eu não tenho dúvida nenhuma disso. E também não acredito em coincidências. Tenho certeza que o fim do imposto sindical compulsório (obrigatório) foi arquitetado por projetos de poder que pretendem enfraquecer a classe trabalhadora. E, antes que alguém me julgue de forma equivocada, não estou aqui com um discurso comunista. Não, mesmo. Não se trata de comunismo; se trata de lógica. O fim do imposto foi proposto no bojo do projeto da Reforma Trabalhista. À primeira vista, até parece lógico. Mas, quando analisamos melhor, refletimos: “O que uma coisa tem a ver com a outra? O Governo nunca deu um único centavo a sindicato. Quem o fazia era o próprio trabalhador. Por que, então, impedir que o trabalhador se organize? Respondo pra você: Porque nos últimos anos, com o advento da internet, das redes sociais, e principalmente com a busca da população por uma melhor formação educacional, as pessoas têm pensado mais em seus direitos… e não estou aqui sendo fanático para só falar de direitos e não de responsabilidades. A questão é que sempre houve quem nos lembrasse, enquanto trabalhadores, das nossas responsabilidades e obrigações. Mas, sem a força e a representatividade dos sindicatos, ninguém queria saber, ou sequer reconhecer, os nossos direitos. Uma vez que a população está cada dia mais consciente e participativa da importância do associativismo, a tendência é que as entidades representativas de categorias profissionais, como associações, sindicatos e até mesmo os conselhos profissionais, sejam alvo desse mesmo tipo de golpe. Primeiro vieram atrás dos sindicatos. Não tenha dúvida de que agora vão partir pra cima dos conselhos profissionais e das associações de classe. Essa gente não quer que o trabalhador se organize e que tenha representatividade.

Recentemente o SITESSTOR também promoveu um seminário para tratar, junto com os associados, do tema da Reforma da Previdência (leia mais aqui). Na foto — Da esq. para a dir.: Dr. Aílton Lemes (assessor jurídico do SITESSTOR), Jussara Ramos (diretora do SITESSTOR), Gilberto Nascimento (presidente do SITESSTOR) e o Dr. Francisco Bahia (advogado especialista em Direito Previdenciário) (foto: SANTHAR/minasreporter.com)

minasreporter.com — Quando o senhor usa a expressão “essa gente”… está se referindo aos empresários mais ricos… aos políticos?

GILBERTO NASCIMENTO: Na verdade, eu me refiro às mesmas pessoas que há quinhentos anos estão à frente do poder no Brasil. Pode ser que sejam empresários? Sim, pode. Pode ser que sejam políticos? Também… como podem ser juízes, lideranças religiosas e outras pessoas que estão acostumadas a mandar. Mas que fique claro uma coisa: não estou demonizando ninguém na minha fala, seja empresários ou políticos. A maioria das conquistas tecnológicas na área da saúde, que é a nossa área, vieram de investimentos privados e resultaram em milhares de empregos em nossa própria categoria de profissionais de saúde. Há políticos que, inclusive, nos representam. Não estamos aqui colocando bandeiras em “A” ou “B”. Só estou dizendo que há pessoas que usam da especulação e do seu monopólio em várias áreas para não deixar o trabalhador crescer e prosperar. Essas pessoas foram as principais responsáveis por arrastar a escravidão dos negros no Brasil por tantos anos, e também por manter trabalhadores imigrantes em condições tão miseráveis quanto a dos escravos, e às vezes até pior. Neste século XXI precisamos dar um basta nisso.

minasreporter.com — Fique à vontade para suas considerações finais.

GILBERTO NASCIMENTO: Antes de tudo, obrigado pela oportunidade de usar deste espaço para me dirigir à nossa comunidade de trabalhadores em estabelecimentos de serviços de saúde, e à população como um todo. Antes de encerrar, eu gostaria apenas de lembrar o que eu disse antes, que é o fato de que alguns membros da nossa diretoria sugeriram que adiássemos a nossa festa anual da saúde para novembro. A festa acabou acontecendo mesmo em maio, e como a maior de todos os tempos. Pois, muito bem: estamos pensando na possibilidade de empreender algo grande para o nosso associado em novembro, seja uma nova festa ou outra iniciativa tão importante quanto. Mas, para isso, precisamos do apoio de todos, até porque esses eventos são apenas para os profissionais sindicalizados. E, mais importante do que poder comparecer em um evento anual, é ter a certeza que toda a estrutura do Sindicato está à disposição do trabalhador para defender os seus direitos. Talvez alguns nunca usem, mas é bom saber que o Sindicato está ali para quando ele, ou ela, precisar.

A mais recente homenagem recebida pelo SITESSTOR foi referente ao Prêmio Top 10, quando foi premiado como “Destaque Sindical” pelo Jornal Olho Vivo (Boy Fotógrafo)

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