Aumento de crédito é uma demanda do PT, que acredita ser essa a forma de fazer a economia avançar; economistas veem limitações.
O governo deu início a uma nova ofensiva para tentar reanimar a economia com o uso de crédito dos bancos públicos. Nesta terça-feira, a Caixa anunciou que o limite para financiamento de imóveis usados passará de 50% para 70%, e que vai voltar a dar crédito para quem quiser comprar um segundo imóvel. Na segunda-feira, o BNDES já havia anunciado a redução das taxas para obras de infraestrutura. Além disso, devem ser aprovadas hoje novas regras para o microcrédito.
O aumento do crédito é há tempos uma demanda do PT, que acredita ser essa uma forma de criar uma “agenda positiva” e fazer a economia avançar. No caso do BNDES, segundo o secretário executivo do Ministério da Fazenda, “as medidas se justificam para dar mais dinamismo aos investimentos do país”. Na casa própria, o argumento é o mesmo: a presidente da Caixa, Miriam Belchior, estima que este ano serão financiadas 64 mil unidades habitacionais a mais que no ano passado.
Na terça, ao receber integrantes da bancada do PT na Câmara, que pressionaram por medidas para combater o desemprego, o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, disse que enviará um projeto de lei expandindo os gastos públicos em 9 bilhões de reais. Os recursos serão utilizados para bancar obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) que já estão em andamento.
Diante do acirramento da crise política, Barbosa orientou a equipe a prosseguir com a elaboração de medidas. Mas se depara com duas muralhas. Na área de estímulo ao crédito, o problema é a falta de confiança. E aquelas que dependem de alteração na lei vão para um Congresso cuja agenda é cada vez mais dominada pelas discussões em torno do impeachment da presidente Dilma. Na frente legislativa, a Fazenda reconhece que a tramitação das propostas vai ficar mais difícil, e a estratégia é intensificar o diálogo.
Efeito limitado – Mas na opinião de especialistas, essas medidas deverão ter efeito limitado na economia brasileira. Para os economistas, o governo busca estimular a oferta em um momento no qual existe problema na demanda. Ou seja, deve haver pouca disposição das empresas e consumidores para a tomada de novos empréstimos, diante das incertezas com o futuro da economia brasileira e do quadro político.
“As medidas anunciadas estão longe de resolverem o problema. São paliativas. Há uma redução de demanda de crédito por parte das famílias e das empresas”, afirma Juan Jensen, sócio da 4E Consultoria.
Na avaliação dos economistas, as medidas recentes também prejudicam o ajuste fiscal em andamento. “Atalhos via estímulo à demanda tendem a não funcionar, principalmente se podem implicar passivo fiscal futuro”, afirma Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos.
(Estadão Conteúdo)