— Por David Ribeiro Jr. —
Em 1994 foi deflagrado no Brasil o Plano Real, que, num primeiro momento, deu um duro golpe na inflação gigantesca que imperava à época, e trouxe alguma estabilidade para a economia. Porém, apesar de o Brasil, naquele momento, estar no caminho certo, algumas crises internacionais assustaram o mundo todo. A mais grave foi a chamada “Crise dos Tigres Asiáticos”, no início de 1997, quando algumas economias asiáticas entraram em crise depois de vários anos de prosperidade, derrubando bolsas e economias pelo mundo afora. O Brasil acabou sendo vítima daquela avalanche. E a crise, claro!, chegou até Teófilo Otoni também.
Mas aí você pode me perguntar: “O que essa história tem a ver com a atual crise política de Teófilo Otoni?”
E eu respondo: “Tudo”. Na segunda metade dos anos noventa costumávamos brincar que Teófilo Otoni era uma cidade para a qual só havia duas saídas: a Rodoviária e o Aeroporto. Brincadeiras à parte, aquele era um sentimento predominante. Nos anos 2000 a situação se agravou ainda mais com a paralisação da nossa linha aérea. Aí a única saída era mesmo a Rodoviária.
Hoje voltamos a ter uma linha aérea funcionando em Teófilo Otoni. Há quem diga que esta foi a única grande contribuição do atual governo do Estado para com a nossa região. Mas eu não quero agora discutir o governo do Estado. Os resultados e as avaliações do governo de Fernando Pimentel falam por si só. Eu quero me focar é em Teófilo Otoni e na atual crise política que vem se instalando na cidade, com dois grupos predominantes — um ligado ao atual prefeito Daniel Sucupira e ao Partido dos Trabalhadores, e outro ligado ao ex-prefeito Getúlio Neiva — se digladiando nas redes sociais para demonstrar à população de forma clara e inequívoca qual grupo é o pior…
E, não, você não leu errado. Atualmente, os grupos políticos se digladiam para mostrar que o outro é pior, e não que ele é melhor.
Em janeiro de 2015 publiquei aqui mesmo no minasreporter.com um editorial com o seguinte título: “Vai começar a maior guerra política da história de Teófilo Otoni”. Na época, a abordagem que fiz foi com relação ao fato de que, com a recente vitória de Dilma e Pimentel, ela para a Presidência da República, ele para o Governo do Estado, o PT local se arvoraria para retomar o poder em Teófilo Otoni também, e isso daria início a uma verdadeira guerra política local, a maior da nossa história.
Hoje começo a me perguntar se a maior guerra foi a que se deu antes do processo eleitoral, ou a que começou a partir dele.
Vamos aos fatos.
Pessoas ligadas ao ex-prefeito Getúlio Neiva, ou que participaram do seu governo, ficam mostrando os defeitos da Administração atual e comparando com o tempo em que Getúlio era governo. As postagens seguem um padrão mais ou menos assim: “No nosso tempo as coisas funcionavam assim. Agora, nem funcionam, ou funcionam muito mal”. Esse tipo de postagem tem a nítida função de demonstrar que o outro lado governa de forma ruim, ou pior do que o governo passado.
Nota à margem: o ex-prefeito Getúlio Neiva não tem participado de forma direta deste confronto. Até porque ele ainda se recupera do AVC sofrido em julho de 2016. Contudo, Getúlio já autorizou notas em seu nome quando foi acusado de ter entregue à atual Administração uma frota sucateada. Ele se defendeu das acusações. Recentemente, em entrevista à Rádio 98 FM, Getúlio se mostrou muito ético e disse que governar Teófilo Otoni não é fácil, e desejou sucesso ao seu sucessor.
Mas, continuando: Assim como o grupo de Getúlio acusa a atual Administração de empreender um governo pior do que foi o de Getúlio, o grupo da atual Administração insiste em postagens que demonstram que o atual governo era muito ruim e que é o atual que está sofrendo para colocar a casa em ordem. Um dos casos mais gritantes foi quando a atual Administração tentou se eximir da responsabilidade do início do funcionamento do estacionamento rotativo pago na cidade. Sim, é verdade que o processo ocorreu no governo passado e a assinatura do contrato se deu no governo passado; mas é verdade, também, que, se não concordasse com o projeto, a atual Administração ainda havia outras instâncias recursais na Justiça. E esse não foi um caso isolado. Tentar demonstrar defeitos na administração anterior tem sido algo comum para pessoas ligadas ou que se simpatizam com o atual governo municipal.
Resumindo: Nesta briga boba, um grupo fica acusando o outro de ser pior, de administrar de forma pior, e de ser muito ruim.
Isso é comum no meio político? Sim, é. Ou melhor: era.
Isso era muito comum nos anos sessenta, setenta e início dos anos oitenta, quando nem mesmo havia redes sociais. Hoje as coisas mudaram. As mesmas redes sociais que permitem tamanha troca de insultos e ofensas ajudam a população a se informar e a ganhar mais senso crítico. Com mais senso crítico, a população começa a se questionar qual o governo é o melhor, ou quem tem condições de governar melhor. Ninguém quer saber quem é o pior. Isso costuma ser algo muito relativo porque os critérios utilizados para definir “pior”, e mesmo “melhor” hoje podem não ser pontuais ou importantes amanhã.
A estratégia de enaltecer o “quanto pior, melhor” nos adversários pode ter dado resultado em algum momento no passado. Hoje, não mais. Hoje a população quer ver projetos. Hoje a população quer ver ideias novas e que se mostrem viáveis e funcionais. Hoje, queremos resultados, e não justificativas para o fracasso. Há quinze anos Teófilo Otoni se tornou uma cidade polo na Educação Superior. Contudo, a única coisa que mudou na cidade, de prático, foi uma bolha especulativa do mercado imobiliário que, depois de ter estourado, atirou à cidade num poço perigoso — e, pior: ninguém quer tocar neste assunto.
Construtoras e empreiteiras apostaram no mercado imobiliário da cidade e saíram construindo apartamentos, quitinetes e casas pequenas acreditando que a cidade cresceria. E embora seja bem verdade que houve um aumento na procura por imóveis de aluguel num primeiro momento do boom do polo educacional, isso acabou. Hoje o excesso de imóveis começa a trazer prejuízos sérios para os seus donos, que não conseguem vendê-los ou alugá-los. O mesmo vale para os muitos loteamentos residenciais que foram empreendidos nesta última década. A bocas miúdas já se fala num excessivo número de empresários que fez esta aposta, e hoje está em depressão diante do patrimônio inútil.
Voltando ao tema principal deste editorial, as pessoas podem, sim, continuar mostrando em que os grupos políticos que lhe são rivais são piores. Mas eu insisto: Esse tipo de política não funciona mais. A Psicologia nos ensina que quando tocamos demais em um mesmo assunto, costumamos torná-lo uma realidade sempre presente em nossa vida. A Lei da Atração, com a qual nem concordo muito, também defende que você atrai tudo aquilo em que pensa, e que insiste em pensar, mesmo de forma negativa. Segundo essa corrente de pensamento, quem se preocupa excessivamente com doença, por exemplo, mesmo que seja apenas para preveni-la, acaba atraindo doenças para a sua vida… E eu tenho certeza que você já entendeu o raciocínio. Quem fala muito de miséria, de governo ruim e de brigas políticas, acaba atraindo isso para si e para o seu ambiente.
Agora vamos ser práticos. Está na hora de os grupos políticos puxarem para si a responsabilidade pelo progresso e pelo desenvolvimento…
“Mas qual?”, alguém pode perguntar.
Aquele que eles mesmos atrairão com boas ideias. Quando isso ocorrer, a população não vai nem querer saber do que não está dando certo. Ao contrário, vai correr disso.
E há um detalhe importante que precisa ser considerado: se os grupos políticos que predominam na cidade não assumirem a responsabilidade por apresentarem projetos verdadeiramente desenvolvimentistas, acabarão abrindo espaço para que aventureiros possam fazê-lo.
E qual o problema disso? O importante não é que alguém apresente os projetos?
Sim, o importante é que alguém o faça. Mas aventureiros costumam jogar com a opinião pública dizendo que só não estão fazendo porque não têm poderes para isso.
“Mas isso também é uma verdade”, alguém poderá dizer.
Mas, não. Não é. Um ditado antigo nos ensina que “quem quer, arranja um jeito de fazer. Quem não quer, arranja uma desculpa para não fazer”.
Se os nossos grupos políticos não começarem a pensar com grandeza, serão vítimas de uma rasteira geral dada por qualquer aventureiro que surgir com a pecha de terceira via e do tão antigo, mas ainda funcional, apelo do “NOVO”. Depois até escreverei outro texto sobre isso. Pode me cobrar.
E, como eu sempre digo, quem viver, verá!